Mais quatro membros das Forças Armadas da Venezuela cruzam a fronteira brasileira, chegando a sete o número de desertores acolhidos em Pacaraima. Outros 167 militares pediram refúgio na Colômbia desde sábado.
Deutsch Welle
Ao menos 174 militares venezuelanos deixaram seu país e pediram refúgio no Brasil e na Colômbia desde o sábado (23/02), quando forças do regime de Nicolás Maduro impediram a entrada de ajuda humanitária pelas fronteiras terrestres, numa repressão que deixou mortos e feridos.
Refugiados estão tentando que cruzar fronteira com o Brasil por rotas clandestinas |
A maioria dos casos foi registrada na Colômbia, que já recebeu um total de 167 militares das Forças Armadas da Venezuela, segundo a imprensa local. Destes, 157 chegaram ao estado colombiano de Norte de Santander, e outros dez buscaram refúgio em Arauca.
O Brasil, por sua vez, recebeu sete desertores venezuelanos, que pediram proteção na cidade fronteiriça de Pacaraima, em Roraima. Entre os militares há seis sargentos e um policial.
O governo brasileiro informou nesta segunda-feira (25/02) que três sargentos cruzaram juntos a fronteira com o Brasil na noite de domingo, por meio de rotas clandestinas. Eles receberam auxílio de militares brasileiros e foram levados a um abrigo para refugiados.
Um vídeo publicado nas redes sociais mostra os sargentos já dentro de um veículo militar brasileiro. "Estamos no Brasil", afirma um deles em espanhol. "Seguiremos na luta, senhores, por favor não nos abandonem."
Outro desertor aparece deitado no chão do veículo. Segundo afirmou uma fonte militar brasileira à agência de notícias AFP, ele estava em condições de desnutrição.
Além dos três sargentos, um policial municipal venezuelano buscou proteção no Brasil na noite de domingo. Ele chegou ao país também por uma trilha clandestina, já que as fronteiras estão bloqueadas, ao lado de sua esposa e três filhos pequenos.
Segundo a AFP, o policial de 22 anos viajou de carro com a família por 940 quilômetros, da cidade de Carúpano, na costa nordeste, até Santa Elena de Uairén, na fronteira. De lá, seguiram a pé até o Brasil, com os filhos no colo, numa jornada de cinco horas.
"Eu ganhava 18 mil bolívares [de salário] e gastava dez mil em um pacote de fraldas", contou César Marcano, denunciando a grave situação em seu país, afetado por uma hiperinflação.
Outros três militares já haviam abandonado seus cargos na Venezuela e pedido refúgio no Brasil entre a noite de sábado e a manhã de domingo. Os três são sargentos da Guarda Nacional Bolivariana, um dos quatro ramos das Forças Armadas da Venezuela.
Eles entraram no Brasil desarmados, com as mãos para o alto, e foram atendidos no centro de triagem da Operação Acolhida, dirigida pelas Forças Armadas brasileiras e que é voltada a receber venezuelanos que fogem da crise social e econômica do país vizinho.
"Nos quartéis militares não há comida. Não há colchões. Nós, sargentos da Guarda Nacional, estamos dormindo no chão", relatou Carlos Eduardo Zapata, um dos primeiros desertadores a chegar ao Brasil.
Segundo a emissora Globonews, dois deles disseram que participaram da repressão contra manifestantes antichavistas na cidade fronteiriça de Santa Elena de Uairén.
Ao longo dos últimos dias, pelo menos quatro pessoas morreram na região durante protestos a favor da entrada de ajuda humanitária, que foram duramente reprimidos pelo regime de Maduro e acabaram em confrontos. Vários feridos foram levados para hospitais em Roraima.
A fronteira entre o Brasil e a Venezuela segue fechada desde a quinta-feira passada, por decreto do presidente venezuelano, que reforçou os bloqueios no sábado com tropas militares. O mesmo foi feito nas fronteiras com a Colômbia.
A ação frustrou uma operação internacional de entrega de ajuda humanitária liderada pelo líder oposicionista Juan Guaidó com apoio dos Estados Unidos e outros países da região.
As forças de Maduro impediram a entrada de caminhões carregados com toneladas de mantimentos destinados ao povo da Venezuela, que enfrenta uma grave crise econômica e social. Confrontos entre manifestantes e militares venezuelanos deixaram centenas de feridos nas duas fronteiras.
Após os violentos conflitos do fim de semana, representantes do Grupo de Lima e do governo dos Estados Unidos se reuniram nesta segunda-feira em Bogotá para discutir os próximos passos a fim de resolver a crise na Venezuela e forçar a saída de Maduro do poder. Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela no mês passado, também esteve presente.
Na capital colombiana, o vice-presidente americano, Mike Pence, pediu aos militares venezuelanos que "tomem a bandeira da democracia" e apoiem Guaidó, que foi reconhecido por mais de 50 países como chefe de Estado interino da Venezuela.
"O presidente Guaidó não quer se vingar de vocês, nem os EUA querem. Para todos os membros das Forças Armadas, se tomarem hoje a bandeira da democracia, Guaidó e seu governo, assim como o governo dos Estados Unidos, acolheram seu apoio e lhe darão alívio das sanções que foram adotadas". disse Pence durante a reunião.