Depois de liderar por 13 anos a Minustah, a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti, o Brasil surpreendeu a ONU em 2018 ao desistir de enviar homens para missão semelhante na República Centro-Africana, alegando custos e riscos. O Departamento de Operações de Paz das Nações Unidas, porém, parece não ter desistido da ajuda brasileira.
Sputnik
Em entrevista ao portal Uol, o general Elias Martins Filho, que comanda as forças das Nações Unidas na República Democrática do Congo disse que recebeu uma ligação do chefe do Departamento de Operações de Paz, Jean-Pierre Lacroix para falar sobre a questão. O oficial da ONU teria pedido que Martins Filho ajudasse a "trazer o Brasil de volta às missões de paz".
Em entrevista ao portal Uol, o general Elias Martins Filho, que comanda as forças das Nações Unidas na República Democrática do Congo disse que recebeu uma ligação do chefe do Departamento de Operações de Paz, Jean-Pierre Lacroix para falar sobre a questão. O oficial da ONU teria pedido que Martins Filho ajudasse a "trazer o Brasil de volta às missões de paz".
Augusto Heleno no Haiti © AP Photo / Ariana Cubillos |
Favorável à posição de Michel Temer em negar o envio de tropas para a Minusca no ano passado por considerar que o Brasil não estaria preparado para a guerra na República Centro-Africana, o diretor-executivo da Tróia Intelligence, Ricardo Gennari disse em entrevista à Sputnik Brasil que as tropas brasileiras permanecem carentes do tipo de know-hownecessário para uma missão do tipo. Segundo Gennari, a decisão de França e Suécia em abandonar a Minusca foi motivada por custos e riscos que o Brasil não deveria assumir.
"Os próprios militares também não queriam ir para esse tipo de enfrentamento, porque o centro africano ali é uma região muito perigosa, tem a questão do ebola, guerrilhas, dos [grupos terroristas] Boko Haram, Al-Shabaab… Nós brasileiros nunca combatemos esse tipo de terrorista em uma guerra irregular", conta.
Gennari diz que, como "ninguém quer fazer o serviço, a ONU quer que o Brasil se habilite". Ao contrário do cenário em 2003, quando o então presidente Lula decidiu assumir os custos operacionais e políticos do envio de soldados ao Haiti projetando uma possível cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, o especialista acredita que as condições diplomáticas neste momento não permitiriam tal feito.
"Nós não temos armas nucleares, nossos recursos para as Forças Armadas ainda são muito baixos e não chega a 2% do PIB brasileiro enquanto que só os SEALS (soldados especiais da Marinha americana) têm um orçamento de US$ 1 bilhão. Tudo isso influencia na entrada no Conselho de Segurança da ONU. A gente também precisa ver como vai ser o pensamento do Brasil nessa geopolítica que se está desenhando, talvez uma nova Guerra Fria entre EUA e Rússia", analisa Gennari sobre quais fatores seriam mais pertinentes à entrada ou não do Brasil no Conselho.
O analista de segurança diz que o Brasil precisaria pesar os custos financeiros, midiáticos e de vidas ao decidir se alinhar às tropas na ONU no continente africano, acrescentando que "se houver combate, no enfrentamento teremos problemas e baixa dos dois lados". Ele porém pontua que a expertise advinda de uma missão contra o terrorismo nos moldes da Minusca pode ser positiva em termos de treinamento das tropas nacionais.
"Poderia enviar pequenos pelotões para observar. Agora estamos com uma GLO [Garantia da Lei e da Ordem] no Brasil e está na hora de começarmos a participar e ver como funciona uma guerra irregular. Seria uma possibilidade de combater a criminalidade do Brasil, que vai tomando características parecidas [às das milícias terroristas]. Nós também temos uma fronteira gigantesca e não sabemos como será o amanhã", conclui Gennari, mencionando a necessidade de se aprender a combater grupos como o Exército Nacional da Libertação colombiano, guerrilha que recentemente voltou a se engajar em ataques terroristas urbanos no país vizinho.
A República Centro-Africana vive uma situação de caos generalizado desde 2012, quando rebeldes da coalizão Séléka tomaram o poder e forçaram a fuga do então presidente François Bozizé. Embora um acordo de paz tenha sido assinado recentemente, as hostilidades no país ainda não acabaram e vários soldados da ONU já perderam a vida desde o início da missão em 2014. A Sputnik Brasil entrou em contato com o Ministério da Defesa e com o Ministério das Relações Exteriores para obter posicionamento oficial do governo quanto a questão, mas até o fechamento da reportagem, não obteve resposta.