Presidente da Venezuela concorda com proposta feita por México e Uruguai para resolver pacificamente crise política, porém, anuncia fechamento de embaixada e consulados venezuelanos nos Estados Unidos.
Deutsch Welle
Um dia após a autoproclamação do líder oposicionista Juan Guaidó como novo chefe de governo, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou nesta quinta-feira (24/01) concordar com a iniciativa de uma nova rodada de diálogos com a oposição para pôr fim à grave crise política, econômica e social do país, como propuseram o México e o Uruguai.
Vários países não reconhecem governo de Maduro |
"O governo do México e o governo do Uruguai propuseram que seja criada uma iniciativa internacional para promover um diálogo entre as partes na Venezuela para buscar uma negociação, para buscar um acordo de paz nacional. Digo publicamente que estou de acordo", afirmou Maduro em discurso no Supremo Tribunal, onde recebeu o apoio dos juízes da corte.
Em comunicado, os dois países pediram aos venezuelanos na quarta-feira para que encontrem "uma solução pacífica e democrática" diante do agravamento da crise política. "De forma conjunta, os governos de Uruguai e México fazem um apelo a todas as partes envolvidas, tanto dentro do país como no exterior, para que reduzam as tensões e evitem uma escalada de violência que possa agravar a situação", diz o comunicado, divulgado pela chancelaria uruguaia.
Também nesta quinta-feira, a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) da Venezuela afirmou em comunicado lido pelo ministro da Defesa, Vladimir Padrino, que não aceitará um presidente autoproclamado nem se subordinará a uma potência estrangeira, além de ter rejeitado "grosseiros atos de ingerência" de outros governos.
Padrino afirmou que a FANB jamais aceitará um governante "imposto à sombra de interesses obscuros". A instituição militar rejeitou o que considera "ações ilegais com as quais se busca instalar um governo paralelo" na Venezuela, "assim como os aleivosos chamados de alguns setores" para afastá-la da "trilha democrática", e reiterou que reconhece Maduro como "legítimo presidente".
Maduro e a oposição venezuelana tiveram uma rodada de negociações no final de 2017 e no começo de 2018, que terminou sem resultados, depois que as partes se acusaram mutuamente de romper os primeiros acordos alcançados, e o antichavismo se negou a assinar um documento de compromissos.
Neste primeiro mês de 2019, Maduro pediu várias vezes aos opositores para que voltassem à mesa de negociações, ao declarar que está pronto para encontrar uma solução pactuada para a crise do país.
Os opositores, porém, não aceitaram e, na quarta-feira, depois de uma grande manifestação nas ruas para rejeitar o que consideram uma "usurpação" da presidência por parte de Maduro, o líder opositor Juan Guaidó se proclamou presidente interino do país, sendo reconhecido imediatamente pelos Estados Unidos, Brasil e vários outros países.
Outro bloco, no qual se destacam a China e a Rússia, anunciou que segue apoiando Maduro. Já um terceiro grupo, que tem como destaque a União Europeia, vem mantendo uma posição mais cuidadosa quanto ao reconhecimento de Guaidó, preferindo se limitar a pedir novas eleições no país sul-americano.
No discurso ao Supremo, Maduro reiterou sua decisão de romper relações diplomáticas e políticas com os Estados Unidos e lembrou que os diplomatas americanos têm 72 horas para deixar a Venezuela. O presidente anunciou ainda o fechamento da embaixada e dos consulados venezuelanos em território americano. Ele voltou a acusar a Casa Branca de ter patrocinado "um golpe de Estado" contra o seu governo.
Nesta quinta-feira, o Departamento de Estado dos EUA ordenou, por razões de segurança, que diplomatas não essenciais deixem a Venezuela. O governo americano destacou que a embaixada em Caracas permanecerá aberta, contrariando a ordem de Maduro de romper as relações com o país.
Maduro tomou posse há duas semanas para um novo mandato, porém, a oposição e vários governos estrangeiros não reconheceram reeleição do presidente. A maioria da oposição não participou da eleição realizada no ano passado, seja por considerá-la fraudulenta ou porque seus principais líderes estavam presos ou impossibilitados de concorrer. A presença de observadores internacionais não foi permitida.