Numa tímida mensagem, ministro da Defesa ratifica seu respaldo ao líder chavista, após a autoproclamação de Juan Guaidó como presidente interino
Maolis Castro | El País
A reviravolta foi claríssima. Diosdado Cabello, o segundo homem do chavismo, decidiu que a concentração em favor de Nicolás Maduro aconteceria em frente ao palácio presidencial de Miraflores, e não mais na popular praça O’Leary, no centro de Caracas. O chefe do Partido Socialista Unido da Venezuela ordenou que seja mantida uma “vigília permanente” em defesa de Maduro e alertou que os chavistas não deixarão o poder. “Quem tiver olhos que veja, quem tiver ouvidos que ouça, mas no dia em que eles passarem dos limites a Justiça tem que atuar, já há uma investigação aberta, cada um que assuma sua responsabilidade”, disse.
A reviravolta foi claríssima. Diosdado Cabello, o segundo homem do chavismo, decidiu que a concentração em favor de Nicolás Maduro aconteceria em frente ao palácio presidencial de Miraflores, e não mais na popular praça O’Leary, no centro de Caracas. O chefe do Partido Socialista Unido da Venezuela ordenou que seja mantida uma “vigília permanente” em defesa de Maduro e alertou que os chavistas não deixarão o poder. “Quem tiver olhos que veja, quem tiver ouvidos que ouça, mas no dia em que eles passarem dos limites a Justiça tem que atuar, já há uma investigação aberta, cada um que assuma sua responsabilidade”, disse.
Maduro após fazer um pronunciamento em Caracas nesta quarta-feira. L. ROBAYO AFP |
Sua decisão de proteger repentinamente o sucessor de Hugo Chávez se deu após uma gigantesca mobilização da oposição e a proclamação de Juan Guaidó, chefe da Assembleia Nacional, como presidente interino da Venezuela, na quarta-feira. Maduro, por sua vez, pediu lealdade dos oficiais militares numa breve mensagem no chamado “balcão do povo” de Miraflores. Estava acompanhada da sua esposa, Cilia Flores, da vice-presidenta Delcy Rodríguez e de outros funcionários do Governo.
Até agora, os generais só fizeram comentários pelas redes sociais, embora o Ministério da Defesa tenha convocado a imprensa para um pronunciamento oficial nesta quinta-feira às 10h (hora de Caracas, 12h em Brasília). O titular da pasta, Vladimir Padrino López, defendeu timidamente o presidente. “O desespero e a intolerância atentam contra a paz da nação. Nós, soldados da pátria, não aceitamos um presidente imposto à sombra de interesses obscuros nem autoproclamado à margem da lei. A FANB [forças armadas] defende nossa Constituição e é fiadora da soberania nacional”, escreveu no Twitter.
Um aliado seu, Remigio Ceballos Ichaso, chefe do Comando Estratégico Operacional da FANB, também expressou lealdade ao herdeiro político de Hugo Chávez. “Traidores, não continuem desrespeitando a pátria, lutaremos e venceremos”, disse em sua conta oficial. Até agora, não há uma mensagem conjunta dos generais, apenas manifestações isoladas de fidelidade ao regime.
Nos quartéis, a discrição impera. Rocío San Miguel, diretora da ONG Controle Cidadão, opina que o anúncio surpreendeu os militares. “Não se sabe o efeito que o reconhecimento internacional de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela pode estar causando na FANB”, disse.
Os cenários são diversos neste inesperado avanço da oposição em direção ao poder político, segundo especialistas em questões militares. Por enquanto, a Procuradoria Geral da República tampouco ordenou as habituais detenções de líderes oposicionistas.
Enquanto a cúpula cerrou fileiras com o líder venezuelano, em alguns lugares, como Caicara del Orinoco (sudeste da Venezuela) e Mérida (oeste), membros da Guarda Nacional se negaram a enfrentar e reprimir manifestantes, que a todo momento os encaravam fazendo reflexões sobre a gravidade da situação social do país.
A cúpula militar é composta por generais leais ao chavismo. Muitos, acusados de corrupção e violação de direitos humanos, são alvo de sanções dos Estados Unidos e de outros Governos estrangeiros. Daí que suas possibilidades de desertarem sejam impensáveis. Na segunda-feira, um grupo reduzido de militares na localidade de Cotiza, a oeste de Caracas, insubordinou-se contra o Governo de Maduro. Nenhum pertencia à cúpula, e todos foram presos. Sua rebelião foi condenada por seus superiores, que prometeram punições ao rebeldes com “todo o peso da lei”.