Pompeo questiona valor de instituições como ONU, OMC e União Europeia, diz que multilateralismo 'tornou-se fim em si mesmo' e exalta a Otan
O Globo
BRUXELAS - Em um importante discurso em Bruxelas nesta terça-feira, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, prometeu uma nova ordem liberal mundial, na qual alguns tratados e instituições internacionais serão reforçados, ao mesmo tempo em que outros serão enfraquecidos. O principal diplomata do governo Trump criticou instituições como as Nações Unidas, a União Europeia, a Organização dos Estados Americanos e a União Africana, ao mesmo tempo em que exaltou a Otan, descrita como uma “instituição indispensável”.
O secretário de Estado americano Mike Pompeo discursa em Bruxelas nesta terça-feira | Foto: FRANCISCO SECO / AFP |
Em um desdobramento da política de "América Primeiro" de Trump, o secretário de Estado disse que o presidente americano estava reformando a ordem liberal mundial, não a destruindo. Ele afirmou que a nova ordem se baseará em “estados soberanos, não instituições multilaterais”:
— Nas melhores tradições de nossa grande democracia, estamos reunindo as nações nobres para construir uma nova ordem liberal que impeça a guerra e alcance maior prosperidade — disse Pompeo a diplomatas e autoridades, citando o Brexit como um sinal de que as organizações supranacionais eram ineficazes. — Estamos agindo para preservar, proteger e avançar um mundo justo, transparente e livre de estados soberanos.
Este projeto, ele disse, exigirá a “restauração real, não fingida, da ordem liberal entre as nações”. A “liderança assertiva” dos EUA será necessária para tal, ao lado de “democracias em todo o mundo", afirmou.
O secretário de Estado, que discursou em uma conferência de um instituto de pesquisa americano para uma plateia que recebeu com ceticismo o seu discurso, disse que a ordem internacional desde o fim da Guerra Fria “falhou e fracassou”. Ele se perguntou se a ONU, criada após a Segunda Guerra Mundial com o objetivo principal de garantir a paz, ainda “cumpre a sua missão com fidelidade”:
— Quanto mais tratados assinamos, mais seguros nós supostamente estamos. Quanto mais burocratas tivermos, melhor será o trabalho. Isso foi realmente verdade? A questão central que enfrentamos é a questão de saber se o sistema configurado como está hoje, como o mundo existe hoje, funciona? Funciona para todas as pessoas do mundo? — perguntou.
Pompeo, um ex-oficial do Exército que é considerado um defensor de Trump com visões de política internacional agressivas, disse que havia algumas instituições internacionais que “trabalham para os interesses americanos e a serviço de nossos valores compartilhados”, mas listou apenas três desses órgãos: a Otan, a Iniciativa de Segurança Contra a Proliferação (PSI) e a Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, serviço de transferências bancárias que é amplamente conhecido como Swift.
Trump, ele afirmou, exerce pressão sobre o Banco Mundial e sobre o Fundo Monetário Internacional para pararem de financiar países como a China, dizendo que eles já tiveram acesso aos mercados financeiros para levantar capital.
Quando questionou se a União Europeia, baseada em Bruxelas, estava colocando os interesses dos países acima dos de seus funcionários, alguém na plateia gritou: “Sim”, resposta que Pompeo ignorou.
Líderes europeus estão preocupados com Trump e dizem que suas decisões de retirar os EUA do Acordo Climático de Paris e do acordo nuclear de 2015 contra o Irã vão contra as prioridades europeias.
Em referência a políticas de Trump em discurso na segunda-feira nos EUA, a chefe de política externa da União Europeia, Federica Mogherini, alertou que "o domínio da selva" tem substituído o estado de direito internacionalmente.
Pompeo disse que os Estados Unidos estavam agindo corretamente.
— Nosso governo está deixando legalmente ou renegociando tratados desatualizados ou prejudiciais, acordos comerciais e outros acordos internacionais que não servem aos nossos interesses soberanos, ou o interesse de nossos aliados — disse.
Retirada de tratado nuclear
Sob pressão de Washington, a Otan deve declarar nesta terça-feira que a Rússia viola tratado de controle de armas nucleares, abrindo caminho para que Trump se retire do acordo da época da Guerra Fria.
Os aliados europeus da Otan pressionaram Trump a não seguir com sua ameaça de deixar o tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) com Moscou, assinado em 1987, mas em vez disso trabalhar para colocar a Rússia em conformidade com o pacto.
No entanto, os diplomatas disseram que agora estão tentando limitar as consequências da decisão, adiando a esperada retirada dos EUA para o próximo ano e primeiro acusando formalmente a Rússia de quebrar o acordo INF, que livra a Europa dos mísseis nucleares terrestres. A Rússia nega a violação do pacto.
Sob pressão de Washington, a Otan deve declarar nesta terça-feira que a Rússia viola tratado de controle de armas nucleares, abrindo caminho para que Trump se retire do acordo da época da Guerra Fria.
Os aliados europeus da Otan pressionaram Trump a não seguir com sua ameaça de deixar o tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) com Moscou, assinado em 1987, mas em vez disso trabalhar para colocar a Rússia em conformidade com o pacto.
No entanto, os diplomatas disseram que agora estão tentando limitar as consequências da decisão, adiando a esperada retirada dos EUA para o próximo ano e primeiro acusando formalmente a Rússia de quebrar o acordo INF, que livra a Europa dos mísseis nucleares terrestres. A Rússia nega a violação do pacto.