Os Estados Unidos confirmaram que sua decisão de retirar-se do Tratado INF é final, disse o vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, acrescentando que Moscou "tomará medidas" se os mísseis americanos que ameaçam sua segurança forem colocados na Europa.
Sputnik
"Washington anunciou publicamente seus planos de se retirar do tratado (de Mísseis de Alcance Intermediário) já em outubro. Através dos canais bilaterais de alto nível, confirmou-se que esta decisão foi final e não foi uma tentativa de iniciar o diálogo", declarou Sergey Ryabkov ao jornal Kommersant.
Lançamento de míssil balístico intercontinental dos EUA © REUTERS / Lucy Nicholson |
O oficial russo revelou que Moscou responderá às possíveis tentativas de colocar mísseis nucleares de alcance curto e intermediário na Europa se os EUA decidirem continuar com esse plano.
"Seremos forçados a propor medidas compensatórias eficazes. Eu gostaria de alertar contra a situação em direção à erupção de novas 'crises de mísseis' (referência ao incidente entre a URSS e EUA em 1962). Estou convencido de que nenhum país são estaria interessado em algo assim", afirmou.
"A Rússia não está ameaçando ninguém, mas tem a força e os meios necessários para combater qualquer agressor", acrescentou Ryabkov.
Início da crise
Em outubro, o presidente estadunidense Donald Trump advertiu que Washington estava planejando a retirada unilateral do tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) porque "a Rússia não aderiu ao acordo". O líder dos EUA também prometeu que o país continuaria impulsionando seu arsenal nuclear até que a Rússia e a China "caiam em si".
No início deste mês, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, anunciou que Washington suspenderá suas obrigações sob o tratado dentro de 60 dias se a Rússia não "retornar ao cumprimento".
Assinado no final de 1988, o acordo INF foi considerado um marco para acabar com a corrida armamentista entre os EUA e a URSS.
Nos últimos anos, Moscou e Washington acusaram-se repetidamente de violar o Acordo INF. Enquanto os EUA alegam que a Rússia desenvolveu mísseis proibidos pelo tratado, a Rússia insiste que os sistemas antimíssil americanos implantados na Europa Oriental podem realmente ser usados para lançar mísseis de cruzeiro de alcance intermediário.
Ryabkov disse que Washington "nunca fez segredo" do fato de que sua retirada do Tratado INF "não era tanto sobre problemas entre os EUA e a Rússia, mas sobre o desejo dos americanos de se livrar de todas as restrições que eram "inconvenientes para eles".
O lado norte-americano expressou a crença de que o Acordo INF limita significativamente as capacidades militares dos EUA para combater os Estados com arsenais de mísseis terrestres de alcance médio e curto, que ameaçam os interesses americanos, disse ele. "China, Irã e Coreia do Norte" foram especificamente mencionados por Washington, completou Ryabkov.
E o que vem por aí?
"Não acho que estamos falando de uma nova crise de mísseis, mas até agora os planos dos EUA não estão claros", avaliou Mikhail Khodarenok, coronel aposentado e especialista militar, lembrando que os americanos evitaram qualquer tipo de "discussão significativa" com Moscou em relação à sua retirada do Tratado INF.
Embora "não haja implantação de [mísseis americanos] na Europa em breve", Moscou deve esperar que Washington tente anular outros acordos com a Rússia também, advertiu Khodarenok.
O Acordo INF "acabou de ser benéfico para os EUA. Em seguida estão todos os outros tratados de controle de armas. Não haverá resistência dos aliados da OTAN [às ações dos EUA]", ponderou.
"Os neocons que dirigem a política externa de Trump nunca gostaram de tratados de redução de armas", disse Michael Maloof, ex-oficial do Pentágono, à RT. "O novo tratado START, que surge para a renovação, também pode estar em risco".
"O risco de uma nova acumulação nuclear é realmente bastante óbvio", analisou o diretor do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, Dan Smith, à retirada dos EUA do Tratado INF.
"Eu acho que as relações entre as grandes potências — EUA e Rússia, assim como EUA e China — são mais difíceis hoje do que há muito tempo", acrescentou.
No entanto, com Washington tendo indicado que quer que a China faça parte do novo acordo, "ainda há possibilidades de negociações e acordos", segundo Smith. No entanto, ele alertou que seguir esse caminho exigirá forte vontade política e pensamento tático da liderança dos três países.