Simcha Rotem foi um dos judeus que sobreviveram à primeira revolta de civis na Europa ocupada pelos nazistas, em abril de 1943. Após uma vida de luta pela memória do Holocausto, ele morre aos 94 anos em Jerusalém.
Deutsch Welle
Simcha Rotem, o último homem sobrevivente entre os combatentes do Levante do Gueto de Varsóvia, morreu aos 94 anos em Jerusalém. Ele será enterrado neste domingo (23/12) em Harel, no centro de Israel, um dia após sua morte.
Conhecido como Kazik, ele salvou a vida de combatentes da revolta ao ajudá-los a escapar |
Rotem, também conhecido como Kazik, foi um dos judeus que se rebelaram contra os nazistas em abril de 1943, após iniciadas as deportações em massa na capital da Polônia.
Milhares de judeus morreram nessa que foi a primeira revolta de civis na Europa ocupada pelos nazistas. A maioria deles foi queimada viva, e muitos foram enviados para campos de concentração. Rotem ajudou a salvar a vida dos últimos sobreviventes do levante ao contrabandeá-los para fora do gueto em chamas através de túneis de esgoto.
Ele morreu no sábado, após lutar contra uma longa doença. "Nesta noite nos despedimos de Simcha Rotem, o último dos combatentes do Gueto de Varsóvia", anunciou o presidente israelense, Reuven Rivlin. "Ele se juntou à revolta e ajudou a salvar a vida de dezenas de combatentes. Obrigado por tudo, Kazik. Prometemos tentar todos os dias ser merecedores da descrição 'humano'."
O premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, também lamentou a morte do judeu, afirmando que "a história dele e a história do levante acompanharão nosso povo para sempre".
O presidente da Polônia, Andrzej Duda, declarou que Rotem foi um "herói de duas nações: a polonesa e a israelense". "Que sua memória viva", escreveu no Twitter.
"Perdemos uma voz muito importante. Kazik foi um verdadeiro lutador, no sentido completo da palavra", afirmou, por sua vez, Avner Shalev, diretor do museu Yad Vashem, que lembra as vítimas judaicas do Holocausto, em Jerusalém.
"[Kazik] foi um valente e hábil jovem lutador. Não foi uma figura política, mas um homem que lutou pela memória do Holocausto na mais pura de suas formas", acrescentou Shalev.
Com a morte de Rotem, tem-se conhecimento de apenas mais uma sobrevivente do Levante do Gueto de Varsóvia: Aliza Vitis-Shomron, de 90 anos, que distribuia panfletos e contrabandeava armas durante a revolta.
Ela lamentou a morte do colega. "É difícil. Eu sou a última que restou, e não há mais ninguém para manter a história viva", disse Vitis-Shomron à agência de notícias AP. "[Rotem] era o último combatente. Vou continuar falando até meu último dia, mas ninguém vive para sempre. Depois de mim, quem vai falar?"
Simcha Rotem
Rotem nasceu em Varsóvia em 1924 e, aos 12 anos, ingressou no movimento juvenil sionista Hanoar Hatzioni. No início da Segunda Guerra Mundial perdeu sete membros de sua família – entre eles seu irmão Israel, seus avôs e dois tios – num bombardeio alemão sobre a sua residência. Ele e sua mãe ficaram feridos.
Em 1942 entrou no Gueto de Varsóvia como membro da organização judaica ZOB. Ali lutou e mediou contatos entre o gueto e a resistência no exterior durante o levante.
Quatro anos depois migrou à então Palestina durante o mandato britânico (1920-1948) e foi preso pelos britânicos num centro de detenção. Então se juntou à Haganá, uma organização paramilitar judaica de caráter sionista, com quem lutou na guerra árabe-israelense no final dos anos 1940.
Em 1984 Rotem publicou um livro autobiográfico, que foi traduzido para diversos idiomas.