Os helicópteros Kamov Ka-52 Alligator, da Rússia, e T129 ATAK, fabricado na Turquia, frequentaram a lista de aeronaves elaborada pela Aviação do Exército Brasileiro (EB) na Era Petista, para selecionar um modelo adequado à nova unidade de ataque que a Força Terrestre pensa em criar. E hoje estão, ambos, nas manchetes dos portais e blogs de assuntos militares – por motivos diferentes, diga-se.
Por Roberto Lopes | Poder Aéreo
O Ka-52 não passou, para a Força Terrestre, de um sonho.
Kamov Ka-52 | Reprodução |
Em 2016 o Ministério da Defesa da Rússia não permitiu, nem mesmo, que os pilotos do Grupo de Ensaios e Avaliações do Comando de Aviação do Exército o experimentassem.
A alegação foi de que, apesar de ter realizado vários voos de demonstração, a aeronave ainda não se encontrava completamente pronta – e, muito menos, disponível para potenciais clientes estrangeiros.
Isso apesar de os Ministérios da Defesa da Rússia e do Brasil terem montado, à época, um inédito mecanismo binacional de consultas, com oferta recíproca de cursos e de equipamentos.
Os brasileiros precisaram, então se contentar, em conhecer – e voar – o Mil Mi-28E Night Hunter (denominação comercial para exportação), conhecido nos catálogos da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como Havoc.
Já o governo do Egito recebeu de Moscou o clearance que foi negado ao Brasil.
Perda de potência
Tendo incorporado os dois porta-helicópteros de assalto anfíbio de construção francesa que tiveram seu repasse à Marinha Russa bloqueado por causa da crise russo-ucraniana na Crimeia, militares egípcios anunciaram, em 2015, a aquisição de 46 unidades do modelo Alligator.
Os três primeiros foram entregues em meados de 2017, como parte de um lote inicial de 12 aparelhos.
Todos foram reservados ao treinamento de pilotos e técnicos em manutenção. Ano passado, um total de 100 militares – 30 pilotos e 70 mecânicos de Aviação – já haviam passado por estágio técnico em território russo.
Mas, em meados deste ano, a tramitação, na Agência de Cooperação em Segurança dos Estados Unidos (DSCA), de uma solicitação do Egito acerca de helicópteros de ataque, indicou que havia sérios problemas com os Ka-52 fornecidos pelos russos.
Mais tarde, ao admitir formalmente esses contratempos, militares egípcios sublinharam que se tratava de problemas “principalmente de natureza técnica”.
Informações obtidas pelo Departamento de Defesa, em Washington, afirmam que o novo Ka-52 tem esses “problemas técnicos” espalhados por quase toda a aeronave: nas instalações de motores, em seus aviônicos, nos sistemas de navegação e nos equipamentos de visão noturna.
Em ambientes de temperatura elevada (muito comum em terras egípcias) o motor VK-2500 do Ka-52 apresenta uma significativa perda de potência, que não pode ser eliminada ou, simplesmente, contornada, por uma mudança no regime de voo.
Além disso, aviônicos e sistemas de navegação não se revelaram confiáveis, o que, em tese, pode facilitar uma situação de acidente.
De acordo com a DSCA, o governo do Cairo solicitou a compra de dez helicópteros de ataque americanos Apache AH-64E, (modelo também indisponível para o Exército Brasileiro), 24 motores 1700-GE-701D, peças sobressalentes e outros equipamentos. Na terça-feira da semana passada (27.11) o Departamento de Estado americano manifestou-se favoravelmente ao negócio.
Valor da operação comercial: cerca de 1 bilhão de dólares.
Em sua justificativa para pedir os Apaches, os generais egípcios elencaram (1) o combate às atividades terroristas que se multiplicam na Península do Sinai e prejudicam a estabilidade regional; e (2) a possibilidade de aumento da interoperabilidade entre o Egito, os Estados Unidos e outros aliados empenhados na guerra anti-terrorista.
Erdogan
Na segunda-feira da semana passada (26.11), em um discurso durante a solenidade comemorativa de mais um aniversário de criação da 15ª Ala de Ataque da Força Aérea das Filipinas, sediada em Cavite, o Comandante-Geral da corporação, tenente-general Galileo Kintanar, informou que o Grupo de Trabalho Técnico que analisava um helicóptero de ataque para sua corporação, selecionara o T129 ATAK, fabricado pela Turkish Aerospace Industries (TAI).
T-129 ATAK |
O anúncio causou surpresa e alvoroço, porque esse resultado ainda não foi, nem mesmo, levado, oficialmente, ao Departamento de Defesa Nacional, que é o órgão com autoridade para confirmar e viabilizar tal aquisição.
Fabricantes de helicópteros dos Estados e da Europa ressaltaram, nas mídias de seus países, que o contrato da Aviação Militar Filipina com a TAI ainda não foi assinado, e que tal documento precisará superar diversas etapas administrativas (verificações de preços, financiamentos, de equipamentos embarcados e prazos de entrega, entre outros) – o que permite inferir que a opção pelo T-129 será firmemente contestada.
Entre os que acreditam que a definição pelo Comando da Força Aérea Filipina encerra o assunto, a expectativa é de que a operação comercial seja estabelecida por meio de um acordo de governo a governo, entre Turquia e Filipinas.
Brasil
Aberta ainda em 2014 para mobiliar uma unidade de ataque com aeronaves “no estado da arte”, uma licitação internacional do Exército Brasileiro pré-selecionou quatro modelos de helicópteros: o americano Bell AH-1Z, o T-129 Mangusta modernizado (projeto italiano fabricado na Turquia), o russo Mi-28NE e o Eurocopter Tiger (cuja inclusão no programa, de última hora, exigiu uma gestão específica da companhia Helibras junto às autoridades brasileiras.
Mas todo esse trabalho foi, por ora, deixado de lado, enquanto o Comando da Aviação do Exército, explora a possibilidade de obter de 8 a 12 células do aparelho AH-1W (Whiskey) Super Cobra, operado há mais de três décadas pelo Corpo de Marines dos Estados Unidos.
Cerca de 35 unidades do modelo Super Cobra foram disponibilizadas para “nações amigas” do governo americano. E isso a um preço que não chega nem a um terço do valor de um helicóptero de ataque novo.
A questão é que o tema da aquisição de Super Cobras usados envolve custos de modernização significativos, que deverão ser quitados, obrigatoriamente, junto a empresas americanas.
A cabine do helicóptero, por exemplo, fortemente analógica, precisará ser submetida a uma ampla modernização.
O interessante é que, nesse momento, nem mesmo a alternativa do Super Cobra encerra o assunto dos helicópteros de ataque no âmbito do Exército Brasileiro.
Battlehawk
A 14 de novembro último, representantes da empresa americana Sikorsky apresentaram, a uma plateia do Quartel General do Exército, a versão do conhecido helicóptero Black Hawk armado para missões de ataque – que muitos tratam, nos círculos aeronáuticos internacionais, como Battlehawk (“Falcão de Batalha”) .
Na faixa de mercado dos helicópteros dedicados ao combate, a Sikorsky vem colhendo sucessos e insucessos.
O Exército da Colômbia acaba de adquirir mais um lote da versão S-70 Arpía III do Black Hawk – com engenharia israelense –, mas os australianos, por exemplo, preferiram o modelo Eurocopter Tiger ARH ao aparelho da Sikorsky.
O que pode ter movido a companhia americana a tentar se intrometer no assunto da unidade de ataque do EB é o clima de indisfarçável aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos, motivado pela eleição do deputado Jair Bolsonaro à Presidência da República.
A 14 do mês passado, a explanação sobre a versão de ataque do Black Hawk esteve a cargo do diretor global de Programas Militares da companhia, Joe Palumbo.
Ela foi assistida, entre outros, pelo chefe do Estado-Maior do Exército, general de Exército Paulo Humberto, pelo Comandante da Aviação do Exército e pelo diretor de Material de Aviação da Força Terrestre.
Atualmente, a ideia do Exército é que a sua unidade aérea de ataque esteja pronta para ser ativada por volta do ano de 2025.