Os exercícios da OTAN Trident Juncture 2018 realizados há pouco na Noruega envolveram 65 navios, 250 aviões, 10 mil unidades de equipamento e 50 mil militares. Entretanto, o evento foi também marcado por inúmeros incidentes e confusões – o colunista da Sputnik Andrei Kots conta mais sobre o que se passou.
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Embora os maiores exercícios nos últimos 15 anos tenham sido reconhecidos como bem-sucedidos, na prática os erros de cálculo não puderam ser evitados.
Embora os maiores exercícios nos últimos 15 anos tenham sido reconhecidos como bem-sucedidos, na prática os erros de cálculo não puderam ser evitados.
Militares dos EUA na Trident Juncture © REUTERS / Capitão Kylee Ashton/Força Aérea dos EUA |
Acidentes nas estradas
Parece que neste outono a Aliança Atlântica decidiu bater todos os recordes no que se trata do número de acidentes de transporte, observa Kots. Assim, no período de preparação e realização das manobras, desde agosto até 7 de novembro, a OTAN e as Forças Armadas da Noruega receberam 412 relatos sobre acidentes que causaram danos ao meio ambiente e à infraestrutura do país, bem como 51 queixas da população local. Em particular, aconteceram 30 acidentes de transporte envolvendo tanto veículos militares como civis.
Por exemplo, em 23 de outubro três caminhões norte-americanos que seguiam em coluna colidiram uns com os outros por causa da rodovia coberta de gelo, deixando ainda outros quatro veículos capotados na valeta. Em resultado, quatro militares ficaram gravemente feridos, e o movimento na rodovia parou por várias horas. Acidentes semelhantes também aconteceram no mês de novembro.
Já na noite de 9 de novembro mais um acidente acabou sendo fatal. Ao atravessar uma estrada na escuridão, um soldado alemão foi atropelado por um carro e morreu na sequência.
Batalha naval
Além de diferentes acidentes nas estradas, as manobras Trident Juncture 2018 também foram marcadas por inúmeras falhas em equipamentos militares.
Assim, em 17 de outubro um helicóptero multifuncional francês NH90 TTH se acidentou ao decolar do porta-helicópteros Dixmude, perto da cidade de Dunkirk. A tripulação saiu ilesa, mas quatro marinheiros no convés ficaram gravemente feridos.
Uma semana depois, em 24 de outubro, o azar atingiu o navio de desembarque estadunidense USS Gunston Hall, que não conseguiu contornar uma tormenta no mar da Noruega. Em resultado, dezenas de tripulantes e fuzileiros navais ficaram feridos.
Passados apenas alguns dias, foram registradas duas emergências nos navios da Marinha do Canadá — em 26 de outubro, uma das fragatas pegou fogo, felizmente sem baixas humanas, enquanto em 29 de outubro outra fragata da mesma família ficou à deriva perto da costa britânica. Primeiro, o navio ficou completamente sem eletricidade, mas, graças à mestria dos marinheiros canadenses, acabou reintegrando a esquadra principal.
Entretanto, o destino mais trágico foi o da fragata da Marinha Real da Noruega KNM Helge Ingstad, que colidiu com o petroleiro Sola TS junto à costa norueguesa, resultando em oito marinheiros feridos e no afundamento da fragata. O local do acidente está cercado até hoje, estando em curso uma operação de resgate.
Maldição do frio
Na Noruega, os militares dos diferentes países-membros da OTAN enfrentaram outro inimigo duro — o clima muito frio. Logo se verificou que nem todos estavam preparados para as temperaturas negativas, escreve o colunista da Sputnik.
Aliás, na terça-feira passada (13) o secretário-geral do bloco, Jens Stoltenberg, informou os jornalistas sobre as frequentes falhas técnicas provocadas pelo frio.
Um problema especial é a falta de uniformes de inverno. Assim, o tenente coronel Uros Trinko que comandou o contingente esloveno durante as manobras, revelou que seus subordinados se haviam queixado dos uniformes e calçado, que eram totalmente inadequados para a umidade e o frio noruegueses.
Já os militares holandeses, por sua vez, nem sequer receberam uniformes mais quentes do seu comando.
Confusões de outro tipo
Claro que um enorme contingente internacional não é um "vizinho" muito desejável para qualquer população local. Em apenas alguns dias, os mais de seis mil militares norte-americanos que passaram por Reykjavik ao se dirigir para a Noruega beberam toda a cerveja que tinha na cidade.
Já na Noruega, os residentes denunciaram diversas vezes os militares da OTAN por estes satisfazerem suas necessidades em plena rua — perto de jardins de infância, escolas e estruturas esportivas.
Outros descontentes foram os fazendeiros, cujos campos foram "lavrados" pelos tanques da OTAN, além de cercados, árvores e redes de eletricidade danificados.