É pouco provável que a Rússia e o Japão assinem um tratado de paz, mas poderá haver algum progresso nas negociações sobre o estatuto das Ilhas Curilas após o encontro entre o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e o presidente russo Vladimir Putin, disse Yuri Tavrovsky, professor da Universidade Russa da Amizade dos Povos, à Sputnik.
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Recentemente a imprensa japonesa escreveu que o primeiro-ministro Shinzo Abe tem a intenção, nas margens da próxima reunião da ASEAN, de sugerir ao líder russo acelerar as negociações sobre a resolução da questão do estatuto das Ilhas Curilas, com base na declaração soviético-japonesa de 1956. Após a Segunda Guerra Mundial, a Rússia e o Japão não chegaram a concluir um tratado de paz.
Ilhas Curilas © Sputnik / Alexander Liskin |
O Japão reivindica as ilhas de Kunashir, Shikotan, Iturup e Habomai, se baseando no tratado bilateral sobre o comércio e as fronteiras de 1855. A posição de Moscou é que as ilhas se tornaram parte da URSS após a Segunda Guerra Mundial e que a soberania da Federação da Rússia sobre elas é indiscutível.
Em 1956, a URSS e o Japão assinaram uma declaração conjunta. A URSS esperava que esta declaração pusesse fim à disputa, mas o Japão considerou o documento apenas como parte da solução do problema, mantendo as reivindicações em relação a todas as ilhas.
De acordo com este documento, Moscou manifestou prontidão, após a assinatura do tratado de paz, de entregar as ilhas de Shikotan e Habomai ao Japão. A proposta de Abe, ao que se sabe, incluiria a possibilidade de discutir a soberania de Kunashir e Iturup, que não são mencionadas na declaração. Como nota a imprensa japonesa, Abe espera que os países cheguem a um acordo em 2019.
"Acredito que a proposta de Abe é possível. Abe já realizou muitas tentativas de resolver esse problema, que é basicamente insolúvel", disse Tavrovsky à Sputnik.
O especialista acha que é impossível resolver o problema de um tratado de paz entre a Rússia e o Japão, porque este problema está relacionado com os resultados da Segunda Guerra Mundial. Praticamente todas as grandes mudanças na fronteira russo-japonesa ocorreram em resultado de guerras. Quaisquer concessões territoriais vão contra os interesses nacionais da Rússia.
"A fronteira pode ser mudada só em resultado de uma nova guerra entre a Rússia e o Japão, o que é absolutamente impossível", disse ele.
Tavrovsky lembrou que o Japão tem disputas territoriais com todos os outros vizinhos e que a solução da questão territorial entre Moscou e Tóquio causará preocupação à China e à Coreia do Sul, causando instabilidade no oceano Pacífico.
O especialista acredita que o governo japonês, incluindo Shinzo Abe, é forçado por razões políticas internas a buscar novos meios de solução do problema territorial. Segundo ele, Abe entende que o problema do tratado de paz é insolúvel, impede-o de melhorar as relações com a Rússia, mas, dada a opinião pública japonesa, o primeiro-ministro do Japão é obrigado a lidar com essa contradição.
"Nenhuma pedra das Ilhas Curilas se tornará japonesa no futuro previsível", acrescentou o professor.
Por isso, os avanços quanto ao tratado de paz podem ter a ver apenas com o surgimento de novas formulações, novos prazos, mas na prática a situação não mudará.
Em setembro, no Fórum Econômico do Oriente, Putin, falando com Abe, inesperadamente propôs elaborar um tratado de paz sem condições preliminares até o final do ano. Após o encontro, Abe explicou mais uma vez a posição do Japão, tornando impossível aceitar a proposta. Ao mesmo tempo, o governo do Japão e pessoalmente Abe consideraram a proposta do presidente russo como uma expressão de seu desejo de terminar as complexas negociações.