General Augusto Heleno e o astronauta Marcos Pontes, da reserva da FAB, foram confirmados como futuros ministros. Outros nomes ainda prometem surgir de grupo de militares que atuou nos bastidores da campanha.
Érika Kokay | Deutsch Welle
Jair Bolsonaro (PSL) é capitão da reserva do Exército. Seu vice, Hamilton Mourão (PRTB), general também reformado. O futuro gabinete do presidente eleito neste domingo (28/10) promete seguir, pelo menos em parte, essa tendência: dois militares foram confirmados para ministérios, e outros estão sendo cotados.
Augusto Heleno, general da reserva do Exército, deverá ficar a cargo da Defesa |
Em agosto, durante a campanha eleitoral, Bolsonaro chegou a declarar que seu eventual governo teria "um montão de ministro militar", devidamente selecionados "de acordo com sua competência e habilidade" – reconhecendo que algumas pastas não justificam ter o comando de um oficial.
O então candidato argumentou que ministérios liderados por militares são menos sujeitos à corrupção. "Acho difícil corromper um general. Não é incorruptível, mas é muito mais difícil do que estes que passaram por aí", afirmou, em crítica a governos passados.
O primeiro militar confirmado em seu futuro gabinete é Augusto Heleno, general da reserva do Exército, que ficará a cargo da Defesa. Ele e Bolsonaro se conheceram nos anos 1970 na Academia Militar dos Agulhas Negras, em Resende (RJ), quando o futuro político era ainda um cadete, e Heleno, tenente.
Enquanto Bolsonaro entrou para a reserva em 1988, ano em que foi eleito vereador no Rio de Janeiro, Heleno seguiu a carreira no Exército. Em 2004, foi nomeado comandante da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah). Quatro anos depois, de volta ao Brasil, tornou-se comandante militar da Amazônia.
Hoje aos 70 anos, o general foi um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro, responsável por orquestrar a área de segurança pública no plano de governo. Antes de Mourão, ele chegou a ser cotado para ser vice na chapa, mas foi barrado por seu partido, o PRP.
Em entrevista em maio, Heleno defendeu a presença de oficiais no governo. Disse haver "uma espécie de conscientização de que os militares são capazes de colocar ordem na casa".
Outro nome anunciado como futuro integrante do gabinete de Bolsonaro é o astronauta Marcos Pontes, tenente-coronel da reserva da Força Aérea Brasileira (FAB) e o primeiro brasileiro a ir ao espaço. Ele deve assumir o Ministério da Ciência e Tecnologia. "É um patriota, tem conhecimento e vontade de mudar as coisas e uma iniciativa muito grande", disse Bolsonaro.
Ele confirmou a indicação de Pontes nas últimas semanas, em resposta a questionamentos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Em carta às instituições, Bolsonaro ainda disse que seu governo terá como meta um investimento de 3% do PIB em ciência, tecnologia e inovação.
Pontes é formado em engenharia aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e é mestre em engenharia de sistemas pela Naval Postgraduate School, nos Estados Unidos. Em 2006, passou oito dias na Estação Espacial Internacional, após um acordo entre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Rússia, que custou 10 milhões de reais ao governo brasileiro.
Filiado ao PSL, ele apareceu ao lado do candidato do PSL durante a corrida eleitoral e chegou a afirmar, em vídeo publicado nas redes sociais em julho, que aceitaria se tornar candidato a vice-presidente caso fosse convidado pela campanha de Bolsonaro. Em 2014, o astronauta concorreu a deputado federal de São Paulo pelo PSB, mas recebeu apenas 43 mil votos.
A "caserna" em Brasília
Um grupo de militares de alta patente atuou nos bastidores da campanha de Bolsonaro à Presidência, reunindo-se semanalmente num hotel na capital federal. O chamado Grupo de Brasília tem sido visto como um embrião do gabinete de Bolsonaro e dele podem sair ministros do futuro governo. O general Augusto Heleno fazia parte desse núcleo.
Segundo o portal Uol, ao menos nove generais e um brigadeiro, todos da reserva, integraram o grupo em duas frentes: uma técnica, responsável por criar a plataforma de governo, e outra política, que agia nos estados – entre os articuladores políticos havia seis generais da reserva.
A frente técnica, por sua vez, foi composta por quatro militares – três generais e um brigadeiro – e apenas um civil, o cientista político Antônio Flávio Testa.
Entre os militares está Oswaldo Ferreira, general reformado do Exército, responsável por questões de transporte, infraestrutura e mineração. Embora seu nome ainda não tenha sido confirmado, Ferreira é o principal cotado para o Ministério dos Transportes – uma pasta que Bolsonaro já anunciou pretender colocar a cargo de um militar.
Por sua vez, o general da reserva Aléssio Ribeiro Souto, coordenador do Grupo de Brasília para as áreas de ciência, tecnologia e educação, foi apontado como possível ministro da Educação.
Questionado pelo jornal Folha de S. Paulo sobre esse grupo de militares, o presidente do PSL, Gustavo Bebianno, disse que a escolha de ministérios não terá como critério o fato de ser ou não ser um militar, mas reconheceu que o núcleo de generais possa lançar ministros.
"Desse núcleo de estudos, por exemplo, o general Ferreira conhece a fundo as mazelas do Brasil e as suas necessidades para infraestrutura. Então, talvez, desse núcleo militar venha um núcleo para a infraestrutura", afirmou Bebianno.
O presidente do PSL, contudo, negou que o governo será composto por maioria militar. "Isso nunca foi cogitado." Bolsonaro também mudou seu discurso mais recentemente e afirmou que os militares terão espaço em sua gestão, mas não ocuparão um terço dos ministérios.
Nesta semana, o jornal Estado de S. Paulo publicou que o capitão reformado estaria avaliando nomes militares para comandar também a Petrobras. Para setores da campanha, um general na presidência da estatal passaria a "imagem de austeridade para minimizar impactos de um possível governo com políticos tradicionais".
Outros ministros
Além de Augusto Heleno e Marcos Pontes, outros dois nomes, ambos civis, foram confirmados pelo capitão para compor seu futuro gabinete. O economista Paulo Guedes, um dos principais conselheiros de Bolsonaro na campanha, vai assumir o Ministério da Fazenda, e o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) deve ficar com a pasta da Casa Civil.
Durante a corrida eleitoral, Bolsonaro disse que pretende reduzir os atuais 29 ministérios a apenas 15, e prometeu não negociar a chefia das pastas em troca de apoio no Congresso.
Cultura e Esportes, por exemplo, seriam sugados pela Educação. Além do general Ribeiro Souto, outro cotado para a pasta é Stavros Xanthopoylos, diretor de relações internacionais da Associação Brasileira de Educação à Distância (Abed) e um dos principais conselheiros de Bolsonaro.
Dois nomes estão no páreo para a Saúde: Henrique Prata, presidente do Hospital do Câncer de Barretos, e Nelson Teich, empresário e médico oncologista do Rio.
Bebianno, presidente do PSL, é o mais cotado para o Ministério da Justiça e já sugeriu que aceitaria o cargo caso fosse convidado. Outro sondado é o advogado Antonio Pitombo, que defende Bolsonaro nos processos que ele enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF).
Outra promessa de enxugar o gabinete era fundir as pastas de Agricultura e Meio Ambiente. Mas o próprio Bolsonaro já admitiu voltar atrás, ante pressão de ambientalistas e do próprio agronegócio, que teme perder mercado no exterior.
Mas, caso a fusão se concretize, segundo a Folha, um dos cotados é Nabhan Garcia, presidente da União Democrática Ruralista (UDR). O ruralista causou polêmica entre ambientalistas recentemente ao declarar que ainda é possível realizar mais desmatamento legal na Amazônia.