Com o fim do conflito sírio estando cada vez mais perto, como será o futuro do país e o balanço de forças da região? Analista norte-americano apresenta sua visão e esta não é nada favorável à Casa Branca.
Sputnik
Após passar uma semana na Síria, Doug Bandow, ex-assessor do presidente estadunidense Ronald Reagan e colaborador da revista The National Interest, chegou à conclusão de que a política de seu país em relação à Síria foi "um fracasso desastroso".
© AP Photo / Hassan Ammar |
Hoje em dia, o autor é investigador sênior no Instituto Cato, reflete sobre o apoio significativo de que o presidente sírio Bashar Assad goza, apesar de todas as acusações contra ele, inclusive de alegadamente ser "um ditador sangrento".
"Toda essa gente viu o que a revolução impulsionada pelos EUA implicou para o Iraque e não gostou do resultado. A ocupação estadunidense não evitou as limpezas religiosas e os massacres, pois muitos dos sobreviventes fugiram para a Síria", escreve o colunista.
Além dos crentes sírios, o exército também é algo que contribui para a coesão da sociedade. Nas palavras do autor, quase em todos os edifícios do país se podem ver fotos dos soldados tombados na luta contra os extremistas, e isto se converteu em uma espécie de "identidade comum".
Para Bandow, é impossível fazer de conta que os simpatizantes de Assad não existem.
"Os EUA cometem um erro ao se focar em Assad. Washington deveria ter se focado na questão de 'O que é pior?' Será que o envolvimento americano teria levado a um resultado melhor? O desastre iraquiano demonstrou como os EUA conseguiram tornar a situação muito pior", opina.
O próprio autor qualifica o regime sírio como "ditadura", mas destaca umas peculiaridades importantes.
"[Essa ditadura] é autoritária, não totalitária, e é secular, não religiosa. A sociedade síria nos surpreende pela sua modernidade. Claro que há conservadores religiosos, mas os Assad, pai e filho, tal como Saddam Hussein, criaram um espaço público diverso e secular, em meio ao qual a maioria dos americanos se sentiriam confortáveis", partilha Bandow.
Aliás, observa ele, o desejo estadunidense de criar uma Síria "verdadeiramente liberal e democrática" tem sido um objetivo digno, mas nenhuma das fações armadas no país conseguiram garantir isso.
Enquanto o Exército Livre da Síria serviu para legitimar a oposição síria no cenário global, na realidade acabou sendo uma aposta débil e pouco eficaz, enquanto sua única alternativa foram os grupos extremistas religiosos, apoiados pelas monarquias do Golfo e pela Turquia.
O governo de Assad foi a maior força na luta contra os jihadistas, relembra Bandow, e o apoio ao Exército Livre da Síria por parte dos EUA apenas enfraqueceu as forças do governo e prolongou a guerra sem ter a menor chance de assegurar sua chegada no poder.
Além disso, os EUA têm criticado o Irã e a Rússia por apoiarem as autoridades sírias, embora tenha sido Assad quem solicitou formalmente sua ajuda, e tenham sido os EUA que desrespeitaram a lei internacional e intervieram na Síria sem qualquer pretexto, continuaram ocupando grande parte do país soberano na esperança de conseguirem a derrubada do atual governo, resume o autor.
"O regime está agora mais seguro que nunca desde 2011. A administração Trump não tem autoridade para invadir, ocupar e desmantelar uma nação estrangeira seja qual for o pretexto", enfatiza ele.
Washington não pode forçar a Rússia, o Irã e o movimento libanês Hezbollah, ou seja, todos os aliados históricos de Damasco, a deixar a Síria, diz Bandow, mas, em vez disso, deve ele próprio retirar suas forças e ir para casa.