A Embraer disse ser prematuro antecipar os termos e condições de uma eventual joint venture com a norte-americana Boeing para aumento das vendas do cargueiro militar KC-390, de acordo com comunicado divulgado nesta terça-feira pela fabricante brasileira de aeronaves.
Raquel Stenzel | Reuters | DefesaNet
Em resposta a pedido de esclarecimento sobre notícia publicada na mídia, a Embraer disse que o memorando de entendimento assinado com a Boeing prevê, em caráter genérico, a possibilidade de uma segunda joint venture, que vem sendo discutida em paralelo à combinação dos negócios de aviação comercial, mas que até o momento não tem nada definido. “Nesse contexto, as negociações entre Embraer e Boeing vêm avançando, registrando a Embraer, contudo, que ainda não existem novos documentos celebrados além do memorando de entendimentos”, disse a Embraer.
Embraer KC-390 |
O jornal Valor Econômico publicou na segunda-feira que a Boeing e a Embraer negociam a instalação de uma linha de montagem do novo cargueiro militar KC-390 nos Estados Unidos, e que a Embraer seria controladora da joint venture, com cerca de 51 por cento do capital.
A Embraer disse ser prematuro antecipar os termos e condições da joint venture potencial específica, inclusive sua localização e participação acionária, e até mesmo se ela virá efetivamente a se concretizar. “Da mesma forma, não é possível, no momento, fazer qualquer comentário a respeito do impacto dessa joint venture adicional sobre as vendas do KC-390 ou sobre os resultados da Embraer”, disse a empresa brasileira.
Sindicato reforça campanha contra joint venture entre Embraer e Boeing¹
O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, que representa funcionários da Embraer, vai intensificar a campanha contra a parceria da fabricante brasileira com a norte-americana Boeing. Depois de notícias sobre o teor das conversas entre as empresas no âmbito da segunda joint venture anunciada em julho, envolvendo o avião multimissão KC-390, os sindicalistas vão novamente procurar o governo para pedir veto à operação.
Temendo um movimento semelhante ao do caso do jato executivo Phenom - cuja montagem foi totalmente transferida para Melbourne, nos Estados Unidos, em 2016 -, o grupo acredita que cerca de mil empregos estariam ameaçados se a nova empresa de Defesa for criada e, no futuro, a montagem do KC-390 passe para solo americano.
Embora a ideia de uma nova empresa para produtos e serviços de Defesa já fosse conhecida, o assunto não tinha chamado a atenção do sindicato até agora. No memorando de entendimentos divulgado em 5 de julho, Embraer e Boeing comentavam genericamente a joint venture na área, destinada a "promoção e desenvolvimento de novos mercados e aplicações" para o KC-390. No dia que o acordo foi anunciado, os executivos da Embraer fizeram breves comentários sobre essa joint venture, observando apenas que ela aprofundaria a parceria comercial já existente com a Boeing no KC-390 e que a empresa teria a brasileira como sócia majoritária.
Já no memorando de entendimentos "integral" de 5 de julho, mantido em sigilo pelo Ministério Público do Trabalho até o início de setembro, Embraer e Boeing falam em "esforços conjuntos em vendas, marketing, engenharia e colaboração industrial" no escopo da possível nova empresa.
Para o sindicato, há fortes chances de transferência total da montagem do cargueiro militar para os Estados Unidos se uma nova fábrica for aberta, como indicam as notícias veiculadas na imprensa.
Em conversa com o Broadcast, o diretor do sindicato, Herbert Claros, afirma que essa história lembra a do jato executivo Phenom, cuja produção foi transferida de São José dos Campos (SP) para Melbourne, nos Estados Unidos, em 2016. "Quando a fábrica foi para Melbourne, o sindicato se manifestou contrário e a Embraer disse a mesma coisa que ela está dizendo agora: que era somente uma fábrica de apoio nos Estados Unidos. E, hoje, o Phenom não tem nada feito no Brasil", diz o sindicalista, acrescentando que, com a linha na Flórida, são cerca de 1,5 mil postos de trabalho a menos no Brasil.
Na visão de Herbert Claros, não haveria motivos para a Embraer manter duas unidades para montagem do KC-390. Ele estima que 800 a 1 mil funcionários da empresa em Gavião Peixoto (SP) - planta responsável pela unidade de Defesa - perderiam o emprego se a proposta da fábrica norte-americana (atrelada à joint venture) avançar.
O sindicalista reitera que irá procurar novamente os presidentes da República, Senado e Câmara para pedir o veto do governo ao acordo com a Boeing, que envolve ainda a joint venture em aviação comercial com fatia majoritária de 80% da norte-americana. Ele aponta que o programa do KC-390 é especialmente sensível porque recebeu dinheiro público para se viabilizar. "Para nós, a golden share (ação de classe especial detida pelo governo) tem que ser usada nesse caso".
Procurada, a Embraer afirma que "são totalmente infundadas" as especulações sobre desativação da linha de produção do KC-390 em Gavião Peixoto e sobre redução de empregos. "A empresa confirma que a produção da aeronave será mantida nesta planta", diz em nota enviada ao Broadcast.
Nesta terça-feira, 2, em comunicado, a Embraer afirmou ser "prematuro" antecipar os termos e condições da possível joint venture em Defesa, "inclusive sua localização e participação acionária da Embraer e, até mesmo, se ela virá efetivamente a concretizar-se".
Há mais de dez anos em desenvolvimento, o programa do jato militar multimissão realiza sua primeira entrega em 2018. Conforme a Embraer, a Força Aérea Brasileira (FAB) recebe o primeiro KC-390 até o final do ano e a entrada em serviço da aeronave acontecerá em 2019.
Aviso de greve
Em campanha salarial, os metalúrgicos da Embraer aprovaram aviso de greve em assembleia realizada nesta terça-feira, 2. A informação é do sindicato da categoria em São José dos Campos (SP), que representa funcionários da fabricante brasileira.
"A mobilização tem como principal objetivo pressionar a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que negocia pela Embraer, a apresentar proposta de reajuste salarial e renovação dos direitos previstos na Convenção Coletiva", observa o grupo, em nota.
Segundo o sindicato, a Fiesp não iniciou as discussões econômicas da campanha salarial e pretende "retirar direitos" da Convenção Coletiva, como a estabilidade no emprego para trabalhadores lesionados. A proposta apresentada pela Fiesp - e rejeitada pelos metalúrgicos - também envolve a "terceirização irrestrita" na Embraer e redução do adicional noturno, dizem os trabalhadores.
¹por Letícia Fucuchima - Terra