Enquanto o governo dos Estados Unidos trata com ambiguidade o conflito palestino-israelense, o presidente do país, Donald Trump, mostra uma posição pró-Israel que vem incomodando os países árabes e muitos dos ocidentais.
Susana Samhan | EFE
Em uma época em que são comemorados o 25º e o 40º aniversários dos acordos de Oslo e de Camp David, respectivamente, o governo americano mantém no limbo o chamado "pacto do século", com o qual Trump pretende resolver um conflito de décadas, mas cujos termos exatos são desconhecidos.
Donald Trump | EFE/Michael Reynolds |
Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca disse à Agência Efe que "o plano de paz começa com a realidade".
"(O plano) reconhece a história do conflito, mas evita depender de noções esgotadas do que deveria ser (a solução), e em vez disso está focado no que poderia ser", afirmou.
"Não é uma folha de termos de duas páginas, mas um documento extenso que explica como a equipe de paz (dos EUA) pensa que o conflito deveria ser resolvido", ressaltou a fonte.
Após consultas com israelenses, palestinos, líderes regionais e outros interlocutores, ainda segundo o porta-voz, o governo Trump traçou um plano que considera "realista, justo, e igualmente importante e aplicável", com o qual as partes "ganharão mais do que darão".
Apesar da falta de detalhes, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, revelou recentemente que a equipe americana tinha lhe sugerido uma iniciativa baseada em uma confederação jordaniano-palestina, e que ele respondeu que aceitaria, mas só se Israel fizesse parte dela.
O correspondente do jornal palestino "Al Quds" em Washington, Said Arikat, disse à Efe duvidar que a ideia de confederação possa ser aceita pelas autoridades israelenses, já que, em 19 de julho, Israel aprovou uma lei que garantia seu caráter como Estado nacional dos judeus.
Quem também se mostrou crítico em relação à postura do atual governo americano foi o ex-embaixador dos EUA em Israel (de 2001 a 2005) e no Egito (1997 a 2001), Daniel C. Kurtzer.
"Acredito que as pessoas deste governo que trabalham neste assunto não leram ou entenderam a história", destacou Kurtzer, destacando ainda que os atuais negociadores dos EUA consideram que a clássica solução de dois Estados, um palestino e outro israelense, não é de interesse nem de Israel, nem de Washington.
Arikat opinou que Washington "adotou a visão israelense do conflito, deixando de fora a solução de dois Estados, e além disso reconheceu Jerusalém como capital de Israel".
"Este governo se alinhou completamente com a posição do Israel e do Likud (o partido do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu)", frisou Arikat.
Com isso, ficaram para trás os esforços mediadores dos EUA que levaram aos acordos de Camp David (1978) e de Oslo (1993 e 1995).
Na opinião de Kurtzer, o legado mais significativo desses pactos foi "o reconhecimento mútuo".
"A OLP (Organização para a Libertação da Palestina) reconheceu o direito de Israel existir, e Israel reconheceu a OLP como representante legítima do povo palestino", afirmou.
A situação mudou desde então, e o também acadêmico da Universidade de Princeton lembrou que o problema palestino-israelense "não é mais uma prioridade para ninguém, em nenhum lado".
"Quando Trump foi eleito, disse que (uma solução) seria uma prioridade, mas acho que agora o governo reconheceu que há muitos outros assuntos desafiadores no Oriente Médio. Síria, Iraque, Iêmen e os temas nucleares do Irã empurraram o problema para o fim da agenda", argumentou.
Apesar do cenário complicado, Kurtzer afirmou que uma solução para o conflito é "100% possível", já que "as sociedades têm um desenho mental do que seria um acordo de paz, com dois Estados, com suas respectivas autoridades e forças de segurança".
"O que falta e faltou durante anos foi uma liderança heróica", opinou o ex-embaixador.