O exército dos Estados Unidos acaba de criar uma nova unidade destinada a descobrir como vai ser a guerra do futuro, a fim de preparar o soldado para ela, uma missão para a qual, pela primeira vez, o Pentágono criou um posto de comando em uma instituição acadêmica.
Rafael Salido | EFE
Em decisão inédita, o Departamento de Defesa dos EUA instalou o centro de controle de sua nova unidade no prédio de Sistemas da Universidade do Texas, localizada em Austin, onde vai trabalhar a maior parte dos 500 funcionários que formarão a equipe, dos quais 400 serão civis.
O general James C. McConville prova um simulador de voo com realidade virtual. EFE/Brandon Banzhaf/ cedida pelo exército dos EUA |
"No Comando de Futuros do Exército, defendemos ter qualquer conhecimento, de qualquer fonte, para criar soluções inovadoras de maneira mais rápida e melhor", explicou a unidade futurista em seu site.
Portanto, o Pentágono e a comunidade científica unirão forças para delinear como serão os conflitos armados dentro de 30 anos.
"Não podemos resolver todos os desafios que enfrentamos sozinhos", reconheceu o coronel Patrick Seiber, diretor de comunicações do Comando de Futuro do Exército americano.
À frente dessa ambiciosa missão estará o general de quatro estrelas John Murray, que se juntou às forças armadas em 1982 e que tem experiência no Afeganistão.
"Este deve ser um esforço de equipe, devemos trabalhar juntos para garantir que nossos soldados tenham tudo que precisam, quando necessário, para ser implantado, lutar e vencer no campo de batalha moderno contra um inimigo extremamente letal", disse Murray, durante a cerimônia de inauguração do novo comando.
Durante meses, o Departamento de Defesa vem expressando sua preocupação sobre a possibilidade de ajustamentos orçamentais nos últimos anos acabarem minando a capacidade militar dos EUA em um momento crítico, quando outros países estão aumentando seu investimento.
"No passado, estávamos focados na guerra atual, enquanto alguns dos nossos adversários nucleares, como Rússia e China, ou em menor grau Coreia do Norte e Irã estavam olhando para o futuro", declarou Seiber durante entrevista por telefone.
Embora as tropas americanas permaneçam focadas na chamada guerra contra o terror em países como Afeganistão, Iraque, Síria e Níger, a nova Estratégia Nacional de Defesa afirma que a prioridade do Pentágono deve ser China e Rússia, que estão investindo em dois novos cenários de guerra: o espacial e o cibernético.
A formação deste novo comando, disse Seiber, é a primeira reorganização formal do exército em 45 anos, ou seja, desde 1973, quando, após a derrota sofrida no Vietnã, o Pentágono percebeu que não era possível continuar lutando como nos tempos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Essa decisão foi a semente que acabou dando frutos, como os helicópteros Black Hawk e o sistema de mísseis Patriot.
A questão que surge em Washington agora é o que poderiam ser os novos elementos que inclinam a balança no campo de batalha.
"Há seis prioridades que surgiram nesta modernização: a precisão de disparo de longo alcance, o desenvolvimento de veículos de combate de próxima geração, as plataformas de elevação vertical, a formação de um exército mais móvel e rápido, os sistemas de defesa aérea e antimísseis e um soldado mais letal", enumerou Seiber.
Durante a cerimônia de abertura da nova unidade de comando, o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior do exército dos EUA, também ressaltou a importância de campos como robótica e inteligência artificial, nos quais o setor privado e o mundo acadêmico podem ser decisivos.
"Sabemos que há uma infinidade de tecnologias emergentes que terão, quer queiramos ou não, um impacto sobre como são realizadas operações militares. Este comando vai determinar a vitória ou derrota...", frisou Milley.