Casco modular, materiais compósitos e vida útil expirada – nestes dias se tornou conhecido que a Ucrânia planeja adquirir três navios de guerra de minas dinamarqueses de segunda mão. Segundo a mídia, os "novos" navios custarão 102 milhões de euros (R$ 492,3 milhões) e a Dinamarca já aprovou a transação.
Sputnik
Nesta matéria, a Sputnik explica por que Kiev compra equipamento militar obsoleto.
CC BY-SA 3.0 / Kim Storm Martin / Danish navy SF300 vessel Støren (P555) accelerating |
Novos velhos navios
Os navios varredores fabricados com base nas lanchas Flyvefisken (peixe-voador, em dinamarquês), ou Standard Flex 300, serão provavelmente atribuídos à principal base naval da Ucrânia em Odessa.
A particularidade dos navios do projeto Standard Flex 300 é seu esquema modular. O "peixe voador" já foi considerado bastante avançado e inovador. O esquema de módulos de substituição rápida (o processo de troca de blocos varia de 24 a 48 horas) permite o seu uso como navios de mísseis, artilharia, guerra antissubmarina, antimina ou de colocação de minas.
Cada módulo é um contêiner com um certo tipo de armas: pode ser uma peça de artilharia de 76 milímetros, um sistema de mísseis antiaéreos, lançadores de mísseis de cruzeiro Harpoon, tubos de torpedos de 533 mm, um radar de detecção de alvos de superfície ou aéreos ou uma estação de reconhecimento via rádio. Não foram divulgadas informações sobre a compra pela Ucrânia de módulos separados em conjunto com os navios, portanto é possível concluir que serão usados exclusivamente como caça-minas.
A frota dinamarquesa recebeu 14 lanchas desse tipo e aproximadamente cem módulos substituíveis no período de 1986 a 1996. No entanto, o design modular não se justificou. Os navios não eram usados como multiusos, mas com um conjunto fixo de equipamentos e armas.
O Flyvefisken foi retirado da frota dinamarquesa de 2010 a 2012. Três foram comprados na versão de navio-patrulha pela Lituânia e cinco por Portugal. Os caça-minas com equipamento antiminas, destinados à Marinha da Ucrânia, aguardam a conclusão da transação. Segundo os especialistas, é pouco provável que a compra de três navios de segunda mão de pequena tonelagem corrija o estado deplorável em que se encontra a Marinha ucraniana e incremente seu poder de ataque.
Problemas com entrega
Segundo o especialista militar Aleksei Leonkov, esse acordo é mais benéfico para os próprios dinamarqueses.
"Eles não precisam mais desses navios. Hoje, a Marinha Real tem navios-patrulha oceânicos modernos, fragatas e navios de comando e apoio capazes de resolver tarefas conjuntas dentro da frota da OTAN", comenta Leonkov.
Ele acrescentou que "os benefícios são óbvios também do ponto de vista de que os navios não precisam ser cortados para sucata – isso custa dinheiro, só que, entretanto, surgiu este negócio".
Além disso, o analista acredita que a Ucrânia provavelmente enfrentará problemas com o transporte das embarcações adquiridas.
"É preciso fazer uma viagem da Dinamarca até Gibraltar, passar por todo o mar Mediterrâneo e pelo Bósforo. É um percurso longo, os navios devem ser escoltados e reabastecidos – a logística custa muito dinheiro. Não lhes [os navios] será permitido entrar no mar de Azov […] Um Flyvefisken pesa 320 toneladas e é improvável que sejam transportados por terra", enfatiza.
Provavelmente, o destino dos "novos" navios será navegar pelo mar Negro e assustar com sua aparência os moradores mal informados. Eles servem perfeitamente para simularem uma capacidade de combate da Marinha ucraniana, mas não serão úteis para se oporem à Rússia (os políticos ucranianos anunciaram repetidamente essa intenção).
Frota de mosquitos
Nos últimos anos, a Ucrânia vem apostando no equipamento da Marinha principalmente com lanchas pequenas. O comando da Marinha não espera mais alcançar a paridade militar com a Rússia nos mares Negro e de Azov, mas acredita que o país precisa de um a frota pequena, mas eficiente. Além disso, Kiev planeja criar uma base naval no mar de Azov até o final de 2018. Este é, aparentemente, um dos pontos da nova estratégia de desenvolvimento da Marinha ucraniana até 2035 que está sendo desenvolvida com a participação ativa de especialistas estrangeiros.
Supõe-se que as pequenas lanchas da Marinha da Ucrânia usem a tática da "matilha de lobos" desenvolvida pelos submarinistas da Alemanha nazista durante a 2ª Guerra Mundial. Os marinheiros ucranianos esperam atacar simultaneamente com várias lanchas blindadas leves um grande navio inimigo. Segundo a sua teoria, uma fragata ou um cruzador de mísseis não pode acompanhar vários alvos de uma só vez e não terá tempo de atingir com seu fogo todas as unidades de combate da chamada frota de mosquitos, que estará se dirigindo rapidamente para o alvo.
Calcula-se que uma ou duas lanchas serão capazes de se aproximarem à distância de tiro e disparar contra o navio inimigo com uma salva precisa de torpedos ou mísseis. Ao mesmo tempo, os militares da Marinha da Ucrânia declaram abertamente que essas táticas são dirigidas exclusivamente contra os navios de guerra da Frota do Mar Negro da Rússia.