Segundo jornal americano, apesar de reuniões, planos estagnaram. Casa Branca enfatizou a necessidade de "dialogar com todos os venezuelanos que demonstrem um desejo de democracia".
Por G1
Funcionários do governo Trump se reuniram secretamente com militares venezuelanos para discutir a derrubada do presidente Nicolás Maduro no último ano, mas acabaram decidindo não agir - reportou neste sábado (8) o jornal americano "The New York Times".
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, durante encontro com empresários no palácio Miraflores, em Caracas, na quarta-feira (5) (Foto: HO/Venezuelan Presidency/AFP) |
Trump é um duro crítico do governo Maduro, enquanto a Venezuela está mergulhada em uma grave crise econômica e humanitária que desatou violentos protestos e provocou uma onda migratória a países vizinhos.
Citando autoridades americanas anônimas e um ex-comandante militar venezuelano que participou dos diálogos secretos, o "New York Times" disse que os planos do golpe estagnaram.
O jornal afirma que a Casa Branca se negou a dar respostas detalhadas quando questionada sobre essas conversas, mas enfatizou a necessidade de "dialogar com todos os venezuelanos que demonstrem um desejo de democracia".
Um dos comandantes militares venezuelanos envolvidos nas negociações secretas não era uma figura ideal para ajudar a restaurar a democracia: ele está na lista de sanções do governo americano de autoridades corruptas na Venezuela.
Ele e outros membros do aparato de segurança venezuelano foram acusados por Washington de uma série de crimes graves, incluindo tortura de opositores, prisão de centenas de prisioneiros políticos, ferimento de milhares de civis, tráfico de drogas e colaboração com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, ou FARC, que é considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos.
As autoridades americanas acabaram decidindo não ajudar os conspiradores, e os planos de golpe pararam. Mas a disposição do governo Trump de se reunir várias vezes com oficiais decididos a derrubar um presidente no hemisfério pode ter efeito negativo na região politicamente.
A maioria dos líderes latino-americanos concorda que o presidente da Venezuela, Maduro, é um governante cada vez mais autoritário que efetivamente arruinou a economia de seu país, levando a extrema escassez de alimentos e remédios. O colapso desencadeou um êxodo de venezuelanos desesperados que estão transbordando fronteiras, sobrecarregando seus vizinhos.
Maduro há muito tempo justifica seu domínio sobre a Venezuela alegando que os imperialistas de Washington estão ativamente tentando depô-lo, e as negociações secretas poderiam fornecer munição para reprimir a posição quase unida da região contra ele, diz a reportagem.
Reuniões e pedido de apoio material
Em agosto de 2017, o presidente Trump declarou que os Estados Unidos tinham uma “opção militar” para a Venezuela.
"Foi o comandante em chefe dizendo isso agora", disse o ex-comandante venezuelano da lista de sanções em entrevista, sob condição de anonimato por medo de represálias do governo venezuelano. "Eu não vou duvidar quando este foi o mensageiro."
Em uma série de reuniões secretas no exterior, que começaram no ano passado e continuaram em 2018, os oficiais militares disseram ao governo americano que eles representavam algumas centenas de membros das forças armadas que estavam contra o autoritarismo de Maduro.
Os militares pediram aos Estados Unidos que fornecessem rádios criptografados, citando a necessidade de se comunicar com segurança, enquanto desenvolviam um plano para instalar um governo de transição para governar o país até que as eleições pudessem ser realizadas.
As autoridades americanas não forneceram apoio material, e os planos foram desvendados após uma repressão recente que levou à prisão de dezenas de conspiradores.
Crise humanitária
De acordo com o "NYT", a crise humanitária na Venezuela levou o governo americano a aceitar um encontro com os militares. "Depois de muita discussão, concordamos que deveríamos ouvir o que eles tinham a dizer", disse um alto funcionário do governo que não estava autorizado a falar sobre as negociações secretas.
Após o primeiro encontro em 2017, os embaixadores americanos reportaram que os militares venezuelanos não pareciam ter um plano definido e pediam por ideias.
O ex-comandante venezuelano disse que os policiais rebeldes nunca pediram uma intervenção militar americana. "Eu nunca concordei ou eles propuseram fazer uma operação conjunta", disse ele.
Mais tarde, eles planejaram tomar o poder em março, disse o ex-oficial, mas esse plano vazou. Finalmente, os dissidentes esperavam a eleição de 20 de maio, durante a qual Maduro foi reeleito, como uma nova data-alvo. Mas, novamente, o plano vazou e os conspiradores seguraram o fogo.
Não está claro quantos desses detalhes os militares compartilharam com os americanos. Mas não há indicação de que Maduro soubesse que existia esta conversa com os americanos.
Explosão durante discurso de Maduro
Depois que drones carregados de explosivos foram detonados perto de Maduro em um ato em 4 de agosto em Caracas, o presidente atribuiu a tentativa de ataque aos Estados Unidos, à Colômbia e a seus inimigos domésticos.
O Departamento de Estado condenou a "violência política", mas também denunciou prisões arbitrárias e confissões forçadas de suspeitos por parte do governo da Venezuela.
O conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton, insistiu em que "não houve participação do governo dos Estados Unidos" no incidente de 4 de agosto.
Mari Carmen Aponte, uma das principais diplomatas dos Estados Unidos para assuntos latino-americanos no governo do presidente Barack Obama, disse ao "New York Times" que "isso vai cair como uma bomba" na região.