O site oficial da Marinha da África do Sul divulgou, na terceira quinta-feira deste mês (16.08.), que, na última semana de julho, ao recepcionar, na cidade de São Petersburgo, o vice-almirante Mosiwa Samuel Hlongwane, seu colega Comandante da Força Naval sul-africana, o Chefe da Armada Russa, almirante Vladimir Ivanovich Korolyov – um submarinista de 63 anos –, “expressou gratidão pela presença da delegação sul-africana e garantiu ao Comandante da Marinha [sul-africana] que tal participação contribuiria para o desenvolvimento da cooperação bilateral entre os dois países”.
Por Roberto Lopes | Poder Naval
De acordo com o texto do site (disponível em aqui), redigido pelo militar sul-africano M. L. Tabhete, Korolyov “chamou a atenção” de Hlongwane para o fato de “que desde 2016 a Marinha Russa vinha promovendo a ideia de exercícios combinados entre os dois países. ‘Esperamos que estes exercícios ocorram, num futuro próximo, não apenas para o benefício dos países participantes, mas para toda a comunidade internacional’.”
Corveta Barroso no IBSAMAR III |
E o comunicado prossegue: “Além disso, o almirante V.I. Korolyov usou o debate para expressar determinação em participar do IBSAMAR, que ele descreveu como um meio crucial para alcançar a incisividade militar de todos os estados membros”.
O IBSAMAR é um exercício naval bianual que reúne forças navais da Índia, Brasil e África do Sul, e, precisamente este ano, terá, durante a primeira quinzena de outubro, a sua 6ª edição.
As manobras transcorrerão ao largo do litoral sul-africano. A unidade que representará a Marinha do Brasil (MB) será a corveta Barroso, que já se encontra na travessia do Rio para o porto militar de Simon’s Town. A bordo do navio seguem um helicóptero Esquilo (UH-12), e uma fração do Grupamento de Mergulhadores de Combate.
O exercício IBSAMAR VII, que, em teoria, poderá receber navios de guerra russos, terá lugar na costa indiana, durante o último trimestre de 2020.
A MB não faz comentários sobre a revelação feita pelo site da Marinha sul-africana no último dia 16, mas é certo que a formalização do pedido do almirante Korolyov não pegou de surpresa o almirante Hlongwane, e é perfeitamente crível supor que o Comandante da Marinha sul-africana já tenha conversado sobre o tema da participação russa com os seus dois colegas da operação IBSAMAR: o almirante de esquadra brasileiro Eduardo Leal Ferreira e o vice-almirante indiano Sunil Lanba.
De resto, é preciso lembrar que os governos de Brasília, Nova Déli, Moscou e Joanesburgo já mantém uma interação político-econômica de certa intensidade no âmbito do BRICS, grupo de países emergentes que, engrossado pela China, passou a funcionar, em 2009, por meio de reuniões de cúpula anuais.
Azerbaijão
Mosiwa Hlongwane viajou à Rússia no período de 27 a 31 de julho (três semanas depois de ter completado 56 anos de idade), para participar das festividades do 322º Aniversário da Marinha Russa – criada em 30 de outubro de 1696 por um decreto do jovem Czar Pedro I da Rússia (mais conhecido como Pedro, O Grande).
A data foi comemorada com uma parada naval de 39 embarcações, 38 aeronaves e mais de 4.000 militares – evento presidido pelo presidente Vladimir Putin no Rio Neva que, além do almirante sul-africano, reuniu, entre outros convidados estrangeiros, chefes e representantes das marinhas da Índia, Paquistão, Coreia do Sul, Tailândia e Indonésia. Todos devidamente obsequiados com reuniões privadas de trabalho com o chefe da Armada Russa, e com visitas ao Museu Naval Central de São Petersburgo e ao Museu do Estado Hermitage (um dos maiores museus de arte do mundo), também sediado na cidade.
Na Rússia, o Comandante da Força Naval sul-africana sentiu-se à vontade.
Durante as décadas de 1980 e 1990 ele cumpriu estudos básicos de Navegação e cursos de aperfeiçoamento nas escolas da Marinha do Azerbaijão, em Baku, dentro da Doutrina Naval preconizada pela antiga União Soviética. Muitos de seus professores eram oficiais da Frota Vermelha.
Nada a ver, claro, com a formação de qualquer chefe naval brasileiro.
Desde o fim da 2ª Guerra Mundial a MB vem mantendo escrupulosa distância da Marinha russa (tratada, nos anos da Guerra Fria, como inimiga) e das suas ofertas de meios e de equipamentos.
Akula II
A data foi comemorada com uma parada naval de 39 embarcações, 38 aeronaves e mais de 4.000 militares – evento presidido pelo presidente Vladimir Putin no Rio Neva que, além do almirante sul-africano, reuniu, entre outros convidados estrangeiros, chefes e representantes das marinhas da Índia, Paquistão, Coreia do Sul, Tailândia e Indonésia. Todos devidamente obsequiados com reuniões privadas de trabalho com o chefe da Armada Russa, e com visitas ao Museu Naval Central de São Petersburgo e ao Museu do Estado Hermitage (um dos maiores museus de arte do mundo), também sediado na cidade.
Na Rússia, o Comandante da Força Naval sul-africana sentiu-se à vontade.
Durante as décadas de 1980 e 1990 ele cumpriu estudos básicos de Navegação e cursos de aperfeiçoamento nas escolas da Marinha do Azerbaijão, em Baku, dentro da Doutrina Naval preconizada pela antiga União Soviética. Muitos de seus professores eram oficiais da Frota Vermelha.
Nada a ver, claro, com a formação de qualquer chefe naval brasileiro.
Desde o fim da 2ª Guerra Mundial a MB vem mantendo escrupulosa distância da Marinha russa (tratada, nos anos da Guerra Fria, como inimiga) e das suas ofertas de meios e de equipamentos.
Akula II
Mas isso não tem impedido os oficiais lotados na Comissão Naval Brasileira na Europa, sediada em Londres, de visitar, regularmente, o Salão Naval de São Petersburgo – principal mostra de sistemas navais russos.
Em junho de 2017, a agência de notícias russa Itar Tass informou que dois oficiais da Marinha do Brasil haviam estado no estaleiro onde se encontrava em construção uma corveta do Projeto 20382 Classe Tiger, o que indicaria interesse da MB nesse projeto.
Em Brasília, o Centro de Comunicação Social da Marinha emitiu nota oficial, esclarecendo que a visita fora efetivamente realizada, mas apenas para permitir que os militares, que participavam do Salão de São Petersburgo, conhecessem as características do escolta russo, que possui pontos em comum com o programa em andamento para aquisição de um projeto que sirva à nova classe de corvetas Tamandaré.
Até uns dez anos atrás, o Comando Naval Russo enxergava a Marinha do Brasil com potencial semelhante ao da Força Naval indiana.
Prova disso é que, conforme o Poder Naval pôde apurar, no fim do segundo mandato do presidente Luis Inácio Lula da Silva, a Marinha Russa propôs transferir para a Esquadra Brasileira, por meio de um leasing, dois submarinos nucleares classe Akula II – um tipo de cooperação que ela já havia iniciado com a Marinha da Índia.
Entre meados dos anos de 1980 e o início dos anos de 2000, os pesados Akula, de 8.500 toneladas à superfície e quase 14.000 toneladas submersos, constituíram a principal capacidade ofensiva da Armada russa.
Sete modelos Akula I foram comissionados pelos russos entre 1984 e 1990, um modelo II começou a operar em 1995, e um Akula III foi incorporado em 2001. O navio recebido com maior aceitação pelos chefes navais russos foi, entretanto, o Akula Improved, variante melhorada do Akula I. Nada menos do que sete desses barcos entraram em serviço no período de 1991 a 2009.
Diante do oferecimento da Marinha russa, e mediante autorização expressa do então presidente Lula, o ministro da Defesa da época, Nelson Jobim, autorizou que dois oficiais da MB (um deles, engenheiro naval) fossem à Rússia conhecer o classe Akula II.
Os relatórios desses militares retrataram a imponência do submarino, de 113,3 m de comprimento, que, na Força Naval Russa, exigia uma tripulação de 31 oficiais e 31 subalternos.
Mas, em Brasília, o ministro Jobim concluiu que:
Em junho de 2017, a agência de notícias russa Itar Tass informou que dois oficiais da Marinha do Brasil haviam estado no estaleiro onde se encontrava em construção uma corveta do Projeto 20382 Classe Tiger, o que indicaria interesse da MB nesse projeto.
Em Brasília, o Centro de Comunicação Social da Marinha emitiu nota oficial, esclarecendo que a visita fora efetivamente realizada, mas apenas para permitir que os militares, que participavam do Salão de São Petersburgo, conhecessem as características do escolta russo, que possui pontos em comum com o programa em andamento para aquisição de um projeto que sirva à nova classe de corvetas Tamandaré.
Até uns dez anos atrás, o Comando Naval Russo enxergava a Marinha do Brasil com potencial semelhante ao da Força Naval indiana.
Prova disso é que, conforme o Poder Naval pôde apurar, no fim do segundo mandato do presidente Luis Inácio Lula da Silva, a Marinha Russa propôs transferir para a Esquadra Brasileira, por meio de um leasing, dois submarinos nucleares classe Akula II – um tipo de cooperação que ela já havia iniciado com a Marinha da Índia.
Entre meados dos anos de 1980 e o início dos anos de 2000, os pesados Akula, de 8.500 toneladas à superfície e quase 14.000 toneladas submersos, constituíram a principal capacidade ofensiva da Armada russa.
Sete modelos Akula I foram comissionados pelos russos entre 1984 e 1990, um modelo II começou a operar em 1995, e um Akula III foi incorporado em 2001. O navio recebido com maior aceitação pelos chefes navais russos foi, entretanto, o Akula Improved, variante melhorada do Akula I. Nada menos do que sete desses barcos entraram em serviço no período de 1991 a 2009.
Diante do oferecimento da Marinha russa, e mediante autorização expressa do então presidente Lula, o ministro da Defesa da época, Nelson Jobim, autorizou que dois oficiais da MB (um deles, engenheiro naval) fossem à Rússia conhecer o classe Akula II.
Os relatórios desses militares retrataram a imponência do submarino, de 113,3 m de comprimento, que, na Força Naval Russa, exigia uma tripulação de 31 oficiais e 31 subalternos.
Mas, em Brasília, o ministro Jobim concluiu que:
(a) o Akula II era um submarino grande demais para ser operado pela Força de Submarinos da Esquadra;
(b) o leasing perturbaria enormemente o esforço que a MB fazia para desenvolver o seu próprio submarino de propulsão nuclear, desagradando os almirantes que defendiam o projeto com unhas e dentes; e
(c) a aproximação com os russos arriscava criar arestas importantes com a Marinha dos Estados Unidos. O assunto foi, então, abandonado.