Aeronaves incomuns de se ver em São Paulo, como o protótipo do YT-25B Universal II do PAMA-LS e C-98 Caravan com torreta FLIR do CLA chamaram a atenção do público mais atento
Por Fernando “Nunão” De Martini | Poder Aéreo
No último domingo, 26 de agosto, ocorreu nas dependências do Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP) o tradicional Domingo Aéreo no Campo de Marte, em sua edição 2018.
YT-25B Universal II | Nunão |
Em comum com outras edições recentes, o tempo fechado – por mais que se marque o evento em época seca, ao que parece as conjunções astrais conspiram para que, exatamente no dia do Domingo Aéreo em São Paulo, o clima mude (no ano passado, por exemplo, no mês de agosto mais seco em décadas, choveu exatamente no dia do evento). Felizmente, desta vez apenas as nuvens escuras atrapalharam, com chuviscos esparsos, permitindo que aeronaves decolassem, que a Esquadrilha da Fumaça fizesse sua apresentação mais simples para clima adverso (ainda assim arrancando muitos aplausos e emoção do público com voos invertidos e cruzamentos de aeronaves) e as pessoas se mantivessem secas.
Também em comum com outras edições dos últimos anos, a presença cada vez maior de atrativos pouco condizentes com um evento aeronáutico e mais com eventos familiares, como escorregadores e outros brinquedos para os quais os aviões abrem espaço para ficar em segundo plano, mas isso é um assunto para outra matéria. Nesta, mostraremos algo que não é comum de se ver no Domingo Aéreo no Campo de Marte: aeronaves realmente diferentes, ao menos para o pessoal com olhar mais atento ao lado aeronáutico da festa domingueira.
Uma desses “pássaros” é muito difícil de se ver em céus paulistanos, ainda mais com sua nova “plumagem” estilo Super Tucano: trata-se de uma versão do bem conhecido treinador T-25 Universal utilizado há décadas na Academia da Força Aérea (AFA), no caso um protótipo do Universal II, com designativo YT-25B na cauda e matrícula FAB 1831. Foi uma iniciativa da então empresa independente Neiva (mais tarde absorvida pela Embraer) de uma versão mais potente do Universal, voltada para treinamento mas também com potencial para ser um avião de ataque leve.
O avião é hoje orgânico do Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA-LS), organização da Força Aérea Brasileira (FAB) conhecida principalmente por realizar a manutenção nível parque nos aviões T-27 Tucano e A-29 Super Tucano, e daí a razão do YT-25B estar com pintura em padrão semelhante a este último, em cinza médio e verde escuro: costuma-se utilizar as tintas disponíveis na unidade para pintar aeronaves orgânicas – anteriormente, o padrão de pintura desse avião era semelhante aos AT-27 Tucano, versão armada dos treinadores turboélice da FAB que tinham um padrão de pintura, na época final de serviço nas extintas unidades da Aviação de Ataque da FAB (transformadas em unidades de caça), em dois tons de cinza.
Um pouco de história
O T-25 Universal foi projetado e desenhado por uma equipe de cerca de 50 pessoas, liderada por Joseph Kovacs (também responsável, mais tarde, pelo T-27 Tucano). A construção do primeiro protótipo foi iniciada em maio de 1965, e a aeronave realizou seu primeiro voo, com o piloto de provas Brasílico Freire Neto nos comandos, em 29 de abril de 1966. As boas qualidades do avião foram atestadas pela fábrica e também pelo então CTA (Centro Tecnológico da Aeronáutica) e, após a solução de problemas menores, a FAB assinou um contrato para 150 exemplares. Esse protótipo, com matrícula FAB 1830, chegou a realizar um pouso de emergência no litoral paulista, em água com pouco menos de um metro de profundidade, em janeiro de 1970. Foi retirado, lavado, inspecionado, reparado e voou novamente para testes de parafuso com paraquedas de cauda, segundo conta o saudoso jornalista e historiador aeronáutico Roberto Pereira de Andrade em seu livro “Aircraft Building: a Brazilian Heritage”.
O mesmo livro mostra, em sua página 218, um T-25 Universal com matrícula FAB 1831 (apenas um número acima do protótipo 1830) como o primeiro exemplar de produção da aeronave fabricado para a Força Aérea Brasileira. Exatamente a matrícula do YT-25B que vemos nestas fotos. Vale dizer que não é incomum que protótipos ou aeronaves de início de produção sejam usados como base para novas versões, o que parece ter sido o caso desse avião.
Em relação ao T-25 Universal, a nova versão YT-25B desenvolvida na década de 1970 trocou o motor de 300hp (Lycoming IO-540-K1DS de 6 cilindros opostos, tipo boxer), por um de 400hp (modelo IO-740 de 8 cilindros opostos) acionando uma hélice de três pás no lugar da bipá do irmão mais velho. O motor maior resultou num aumento do comprimento do capô, o que pode ser percebido comparando as imagens abaixo que mostram um T-25 da AFA também presente ao Domingo Aéreo 2018, com o YT-25B ao fundo. Outra diferença é a superfície vertical da cauda, ligeiramente mais alta.
O desenvolvimento do Universal II também deveria desembocar numa versão com dois assentos em Tandem (um à frente do outro), do qual se apresentou oficialmente ao final de 1972 o projeto N-721 ao então Ministério da Aeronáutica. O desempenho geral não era muito melhor que o T-25 comum, exceto pela capacidade de decolar com cerca de 500kg de carga bélica em quatro pontos duros sob as asas, mas esperava-se que o avião fosse posteriormente dotado de um motor turboélice Pratt & Whitney PT-6A para atingir desempenho realmente diferenciado e mais capacidade de armamentos. Porém, já em meados daquela década os requisitos da FAB foram sendo aprimorados, e as exigências levaram ao desenvolvimento de um novo avião pelo mesmo projetista Kovacs, agora na Embraer: o T-27 Tucano.
O Universal II acabou restrito ao protótipo de matrícula 1831 que hoje serve ao PAMA-LS em missões de ligação típicas de aviões orgânicos desse porte, ostentando sua plumagem guerreira ao estilo Super Tucano, que aliada ao perfil esguio e mais elegante que o T-25 formam um conjunto digno de se fotografar.
Caravan
O mesmo livro mostra, em sua página 218, um T-25 Universal com matrícula FAB 1831 (apenas um número acima do protótipo 1830) como o primeiro exemplar de produção da aeronave fabricado para a Força Aérea Brasileira. Exatamente a matrícula do YT-25B que vemos nestas fotos. Vale dizer que não é incomum que protótipos ou aeronaves de início de produção sejam usados como base para novas versões, o que parece ter sido o caso desse avião.
Em relação ao T-25 Universal, a nova versão YT-25B desenvolvida na década de 1970 trocou o motor de 300hp (Lycoming IO-540-K1DS de 6 cilindros opostos, tipo boxer), por um de 400hp (modelo IO-740 de 8 cilindros opostos) acionando uma hélice de três pás no lugar da bipá do irmão mais velho. O motor maior resultou num aumento do comprimento do capô, o que pode ser percebido comparando as imagens abaixo que mostram um T-25 da AFA também presente ao Domingo Aéreo 2018, com o YT-25B ao fundo. Outra diferença é a superfície vertical da cauda, ligeiramente mais alta.
O desenvolvimento do Universal II também deveria desembocar numa versão com dois assentos em Tandem (um à frente do outro), do qual se apresentou oficialmente ao final de 1972 o projeto N-721 ao então Ministério da Aeronáutica. O desempenho geral não era muito melhor que o T-25 comum, exceto pela capacidade de decolar com cerca de 500kg de carga bélica em quatro pontos duros sob as asas, mas esperava-se que o avião fosse posteriormente dotado de um motor turboélice Pratt & Whitney PT-6A para atingir desempenho realmente diferenciado e mais capacidade de armamentos. Porém, já em meados daquela década os requisitos da FAB foram sendo aprimorados, e as exigências levaram ao desenvolvimento de um novo avião pelo mesmo projetista Kovacs, agora na Embraer: o T-27 Tucano.
O Universal II acabou restrito ao protótipo de matrícula 1831 que hoje serve ao PAMA-LS em missões de ligação típicas de aviões orgânicos desse porte, ostentando sua plumagem guerreira ao estilo Super Tucano, que aliada ao perfil esguio e mais elegante que o T-25 formam um conjunto digno de se fotografar.
Caravan
Bem ao lado do YT-25B estava outro “pássaro” mais parrudo, com a pintura tática verde e cinza da FAB, mas nesse caso, um avião de transporte C-98 Caravan, tipo que não é incomum de se ver no Campo de Marte, exceto por um detalhe: trata-se de aeronave que veio de longe, orgânica do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, como atestam as marcações e sua fuselagem. Além do fato de ser uma visita de uma organização bem distante do PAMA-SP, um detalhe o diferenciava de outros C-98 que eventualmente passaram por aqui: uma torreta FLIR (câmeras de imagem por infravermelho).
C-98 Caravan | Nunão |
Em comum com o YT-25B que estava ao seu lado, assim como o T-25 logo a seguir (e também com o T-27 Tucano que também estava exposto e os A-29 da Esquadrilha da Fumaça / EDA que participaram do evento), o C-98 é apoiado pelo PAMA-LS. Já as principais aeronaves apoiadas pelo PAMA-SP, anfitrião dos Portões Abertos do último domingo, são os caças F-5 EM/FM da FAB, mas estes são tema para outra matéria sobre o Domingo Aéreo 2018 do Campo de Marte.