Israel irá se unir à coalizão contra o Irã se Teerã tentar bloquear o estreito de Bab el Mandeb, no mar Vermelho, anunciou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Sputnik
Em entrevista à Sputnik Persa, Boris Dolgov, especialista do Centro de Estudos Árabes e Islâmicos, e Simon Tsipis, especialista israelense e funcionário do Instituto de Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Tel Aviv, comentaram as condições para a aliança israelense com países árabes e as circunstâncias para a adesão de Israel à OTAN no Oriente Médio.
Bandeira de Israel © Sputnik / Vladimir Astapkovich |
A aliança não se concretizará
Segundo Dolgov, as declarações de Israel são apenas um movimento de propaganda. Mesmo desejando entrar em uma possível aliança dos Estados árabes, Israel dificilmente conseguirá fazer isso, porque alguns países sunitas, liderados pela Arábia Saudita, não irão aceitar Israel.
"Certamente, essas declarações foram feitas pela liderança de Israel. [Na região] há uma confrontação sunita-xiita. Sunitas são liderados pela Arábia Saudita e xiitas pelo Irã […] Para Israel, o Irã é inimigo, enquanto os aiatolás estão no poder", disse o especialista.
Segundo ele, é "irrealista" a aliança de Israel com Estados sunitas e no mundo muçulmano pode ser considerada de forma bastante negativa.
"É improvável que esses países, especialmente o Egito, concordem com a participação de Israel nessa aliança […] Talvez Israel, e isso é possível, planeje trabalhar com esses países contra o Irã", comentou.
O especialista expressou a opinião de que, mesmo que os países árabes concordem em se unirem a Israel para uma possível aliança, a condição para a entrada de Israel na OTAN "árabe" passará por uma solução do problema palestino, com o qual Israel provavelmente não concordará.
"O problema palestino é uma pedra no caminho entre Israel e o mundo árabe. O Egito nesse aspecto é muito inflexível a favor dos palestinos. Na Jordânia, há um grande número de palestinos e organizações palestinas, que, naturalmente, se oporão a essa solução do problema da Palestina. Se considerarmos a participação hipotética de Israel, então talvez a condição para isso seja uma solução do problema palestino, para o qual é improvável que Israel ceda. Isso também é óbvio", disse Dolgov.
A aliança deve acontecer
A opinião contrária é mantida por Simon Tsipis, que vê perspectivas muito boas para Israel formar uma aliança contra o Irã com países que poderiam potencialmente entrar na OTAN "árabe".
"A possibilidade é absolutamente real, porque Israel, Estados Unidos e Arábia Saudita têm um interesse comum – o confronto com o Irã. […] Os interesses de Israel coincidem aqui. Israel tem um confronto político muito tenso com o Irã", comentou.
Segundo ele, a República Islâmica do Irã ameaça Israel com destruição e está desenvolvendo um programa nuclear para isso.
"Além disso, o Irã está cansado da situação entre a Síria e Israel, apoiando grupos de militantes que lutam ao lado de Assad e tentando construir sua infraestrutura para futuras agressões contra Israel; e também apoia o grupo Hamas, que realiza periodicamente confrontos com o exército israelense a partir do território da Faixa de Gaza", salientou o analista.
O Egito e Israel, como a Jordânia e Israel, têm tratados de paz e entre os países existe um mundo considerado "frio", por isso a participação desses Estados em uma coalizão é possível. Esta é uma perspectiva absolutamente realista, relata Tsipis.
O problema palestino ficará em segundo plano
Mesmo que os cidadãos palestinos que residem no Egito e na Jordânia se oponham a essa coalizão, suas vozes não serão ouvidas porque a luta anti-iraniana terá mais peso do que o problema palestino, acredita o cientista político.
"Tanto na Jordânia como no Egito as minorias palestinas podem se opor à essa aliança, mas elas não representam uma ameaça à segurança nacional do Egito ou da Jordânia. A questão palestina será relegada ao segundo lugar, e a coalizão da OTAN no Oriente Médio vem primeiro", comentou.
Tsipis observou que a única condição que pode ser apresentada a Israel por parte dos países árabes será a solução da questão palestina.
"Israel dispõe de substanciais capacidades navais, aéreas e também de reconhecimento. Os membros da coalizão, em particular, os Estados Unidos, desejarão evocar a ajuda de Israel, que pode ser sujeita a uma condição relacionada com a solução do conflito palestino-israelense", disse.
O especialista israelense também notou que os países árabes que participam da possível coalizão exigirão a remoção do bloqueio terrestre e marítimo da Faixa de Gaza, abrir postos de controle através dos quais suprimentos humanitários sejam transportados para a Faixa de Gaza e os quais Israel fechou em resposta a ataques com mísseis.
Tsipis acredita que Israel concordará em aceitar as condições estabelecidas, já que a participação nessa coalizão é um grande passo à frente.
"Em minha opinião, Israel aceitará tais condições. Primeiro, a participação nessa coalizão elevará o prestígio de Israel aos olhos de muitos países do mundo muçulmano, porque ele de fato se tonará um aliado. Em segundo lugar, a questão mais importante para Israel – o Irã – será resolvida. Se o Irã não for derrotado, o país será significativamente enfraquecido do ponto de vista militar. Assim, Israel vai querer garantir que o Irã enfraqueça seu controle na Síria e na Faixa de Gaza", concluiu Tsipis.