Texto do general Eduardo Villas Bôas foi lido nesta sexta-feira, durante cerimônia do Dia do Soldado, com a presença do presidente Michel Temer. Intervenção foi decretada por Temer em fevereiro.
Por Guilherme Mazui | G1, Brasília
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirmou nesta sexta-feira (24) que “aparentemente” os militares são os únicos a se engajar na intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Ele criticou a falta de ações do poder civil no combate à violência.
O presidente Michel Temer e o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, se cumprimentam em cerimônia do dia do Exército (Foto: Marcos Corrêa/PR) |
Segundo o general, muitos pensam de forma errada que a intervenção é somente militar. A fala de Villas Bôas foi lida por um subordinado na cerimônia do Dia do Soldado, realizada no quartel-general do Exército, em Brasília. O presidente Michel Temer estava presente na solenidade.
A intervenção foi decretada em fevereiro deste ano por Temer, como uma tentativa de conter a escalada da violência no Rio de Janeiro. Com a medida, a segurança pública no estado passou a ser comandada pelo governo federal. O interventor escolhido foi o general do Exército Walter Braga Netto.
“Passados seis meses, apesar do trabalho intenso de seus responsáveis, da aprovação do povo e de estatísticas que demonstram a diminuição dos níveis de criminalidade, o componente militar é, aparentemente, o único a engajar-se na missão”, afirmou Villas Bôas em um trecho da mensagem.
“Exigem-se soluções de curto prazo, contudo, nenhum outro setor dos governos locais empenhou-se, com base em medidas socioeconômicas, para modificar os baixos índices de desenvolvimento humanos, o que mantém o ambiente propício a proliferação da violência”, continuou o general.
Mortes de militares
A mensagem do comandante do Exército também abordou as recentes mortes de três militares em ações no Rio: o cabo Fabiano de Oliveira dos Santos, o soldado Marcus Vinícius Viana Ribeiro e o soldado João Viktor da Silva. Villas Boâs afirmou que vivemos "tempos atípicos". Segundo ele, "valorizamos a perda das vidas de uns em detrimento das de outros".
O general ainda declarou na mensagem que as mortes dos três militares tiveram "repercussão restrita, que nem de longe atingiram a indignação ou a consternação condizente com os heróis que honraram seus compromissos de defender a pátria e proteger a sociedade".
Temer citou as mortes dos militares na mensagem presidencial, que também foi lida durante a cerimônia.
"Seu sacrifício não será em vão, cumpriremos a tarefa imperiosa de recompor a ordem pública no Rio de Janeiro", disse o presidente na mensagem.
'Era de conflitos e incertezas'
A mensagem do comandante do Exército lembrou que os militares atuam em diferentes estados do país, em operação de garantia da lei e a ordem. Ele citou o Rio Grande do Norte como exemplo.
O general ainda mencionou o trabalho dos soldados em Pacaraima, cidade de Roraima na fronteira com a Venezuela, principal porta de entrada de venezuelanos no Brasil.
Villas Bôas tratou do momento do país em parte da mensagem. Sem citar as eleições de outubro, disse que os brasileiros vivem "uma era de conflitos e incertezas, na qual os individualismos se exacerbaram e o bem comum foi relegado a segundo plano".
"Perdemos disciplina social, a noção de autoridade e o respeito às tradições e aos valores, o que nos tornou uma sociedade ideologizada, intolerante e fragmentada", afirmou o general.
Para Villas Bôas, a autoestima dos brasileiros está diminuindo sua autoestima e o país não consegue "vislumbrar um projeto" de futuro. "É chegada a hora de dizer basta ao diversionismo, à radicalização retrógrada e à fragmentação social", afirmou.
Medalha do Pacificador
Durante a cerimônia desta sexta, no quartel general do Exército, foram entregues as medalhas do Pacificador e Exército Brasileiro. A cerimônia marcou a comemoração do Dia do Soldado. A data homenageia o nascimento do marechal Luís Alves de Lima e Silva (1803-1880), o duque de Caxias, patrono do Exército.
Nesta sexta, foram condecorados pelo Exército militares, políticos, juristas, diplomatas e professores. Uma das autoridades que receberam a medalha do Pacificador foi o ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).