Natural de Maceió, a psicóloga aposentada Walderez Moura Cavalcante, que à época tinha 4 anos, sobreviveu ao massacre nazista após ficar horas à deriva no mar dentro de um caixote.
Por Waldson Costa e Jonathan Lins | G1 AL
O tempo passou e o cenário político internacional foi reconfigurado, mas as lembranças da manhã de 17 de agosto de 1942 ainda estão presentes na memória da psicóloga Walderez Moura Cavalcante, 80, uma das sobreviventes do naufrágio do navio Itagiba, bombardeado por um submarino alemão na costa da Bahia.
Walderez Moura Cavalcante, 80, mostra fotos que foram feitas dias após ao naufrágio do navio Itagiba (Foto: Jonathan Lins/G1) |
Nesta sexta-feira (17), faz 76 anos do incidente diplomático que mudou a história do Brasil, levando o país a entrar na 2ª Guerra Mundial apoiando o bloco dos Estados Unidos. À época, Walderez tinha apenas 4 anos.
Alagoana de Maceió, ela embarcou no Itagiba com o pai, Octávio de Barros Cavalcante, no porto do Rio de Janeiro no dia 13 de agosto, com destino à capital de Alagoas. Na ocasião, ela era filha única do rapaz que trabalhava no convéns da embarcação.
“Eu estava brincando na bomba d’água do navio. Foi aí que escutei um forte sinal, vi fumaça e senti meu pai me arrancar às pressas de onde eu estava. Eu não entendia o que acontecia, mas lembro bem que fomos para uma baleeira [bote salva-vida] que foi danificada pelos destroços do navio que afundou. Ao me separar do meu pai, que se machucou, fui colocada dentro de um caixote de leite condensado que flutuava e lá fiquei até ser resgatada”, conta.
A história ganhou as páginas dos principais noticiários da época, e Walderez Cavalcante se tornou a principal imagem da comoção nacional que fez pressão popular e política para que o Brasil tomasse partido na guerra contra o nazismo liderado por Adolf Hitler.
O massacre alemão resultou no naufrágio de cinco navios brasileiros e na morte de mais de 600 pessoas em menos de 48 horas.
Antes de ser resgatada do mar, a menina de 4 anos passou horas à deriva. Seu resgate só aconteceu por conta da insistência de seu pai, que ameaçou também ficar no mar caso a filha não fosse localizada. Quando as equipes de buscas já estavam prestes a desistir, alguém avistou ao longe o caixote onde a menina flutuava.
“Eu sempre tive uma relação muita próxima com o mar. Minha família foi uma das fundadoras do vilarejo de Paripueira [atualmente, município]. Eu passava horas brincando na praia e vez ou outra um dos pescadores me trazia um peixinho para brincar. Talvez por isso fui encontrada tranquila dentro do caixote e disse para o almirante que me resgatou que onde eu estava as pessoas não falavam comigo e os peixinhos não apareceram para brincar”, lembra Walderez.
Ataque do submarino U-507
O cargueiro onde estava Walderez Cavalcanti foi um dos cinco navios atacados pelo submarino U-507 entre os dias 15 e 17 de agosto de 1942, entre a costa dos estados de Sergipe e Bahia.
O Itagiba foi o quarto navio bombardeado pelos alemães; ele afundou 10 minutos após o ataque deixando dezenas de mortos e feridos (Foto: Jonathan Lins/G1) |
À época, além do Itagiba, onde morreram 36 pessoas, foram a pique após bombardeios de torpedos os navios Baependi (270 mortos); Araraquara (131 mortos), Aníbal Benévolo (150 mortos) e Arará (20 mortos), sendo este último a embarcação que resgatou alguns dos náufragos do Itagiba.
Após esta ação bélica alemã, o presidente Getúlio Vargas declarou em 22 de agosto do mesmo ano estado de beligerância com a Alemanha e a Itália. O decreto foi publicado no dia 31, sendo declarada oficialmente a participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial.