O comandante do Exército Nacional da Líbia (LNA), Khalifa Haftar, pode se tornar o novo "coronel Kadhafi" ou novo "pai da nação", consideram especialistas.
Sputnik
O comandante do Exército Nacional da Líbia (LNA), Khalifa Haftar, pode se tornar o novo "coronel Kadhafi" ou novo "pai da nação", consideram especialistas.
O comandante do Exército Nacional da Líbia (LNA), Khalifa Haftar © AFP 2018 / Abdullah Doma |
As recentes informações de que o LNA controla 90% do território líbio, que já não está nas mãos dos extremistas, ainda reforçam mais esta ideia. Se for verdade, a Líbia poderá estar perto de ser unificada e ver o fim da guerra civil, afirmam os colunistas Nikita Kovalenko e Anna Baikova do jornal russo Vzglyad.
País destroçado
Historicamente, a Líbia tem três regiões: a Tripolitânia (oeste), a Cirenaica (leste) e Fezã (sul). Com a guerra, as três regiões se dividiram e passaram a ser controladas por vários grupos armados que com frequência têm confrontos entre si, assinalam os autores do artigo.
O governo reconhecido pela ONU se encontra em Tripoli (Tripolitânia) e é liderado por Fayez Sarraj. No entanto, nem sequer consegue controlar completamente a capital, destaca o artigo.
O parlamento sediado na cidade de Tobruk não reconhece o governo, tendo formado seu próprio governo, apoiado pelo comandante do exército Khalifa Hafter.
Enquanto isso, foi na região de Cirenaica que os extremistas das organizações terroristas Al-Qaeda e Daesh (proibidas na Rússia) começaram a atuar.
Quem é o comandante Haftar?
Oriundo da região de Cirenaica, Khalifa Haftar pertence a uma das tribos mais influentes e poderosas da Líbia.
Em 1969, participou da revolta que colocou Kadhafi no poder, tornando-se seu homem de confiança. Porém, nos anos 1990, houve um conflito entre eles e Haftar tentou realizar outro golpe de Estado.
O golpe fracassou e o comandante teve que fugir do país. Os colunistas sublinham que Haftar estudou na URSS e fala bem russo. Além disso, também viveu quase 20 anos nos Estados Unidos. Quando Kadhafi foi derrubado, Haftar voltou e criou o Exército Nacional da Líbia, com a ajuda do Egito.
Situação atual na Líbia
Os autores do artigo explicam que oficialmente o LNA obedece ao parlamento, mas na realidade Haftar é seu único líder, ressaltando, porém, que as notícias sobre os êxitos do exército devem ser encaradas com cautela.
"O exército de Haftar informou sobre a libertação de Benghazi, capital da região de Cirenaica, há um ano, mas na realidade a cidade só foi completamente libertada neste verão", diz o artigo.
A mesma opinião foi expressa pelo ex-embaixador da Rússia na Líbia, Veniamin Popov, que sublinhou que a maior parte do país é "um deserto pouco povoado que ninguém controla no sul".
Apesar das dúvidas do embaixador russo sobre os êxitos reais de Haftar, os colunistas acreditam que tem um exército poderoso.
Vyacheslav Matuzov, especialista em assuntos árabes, acredita que o futuro da Líbia passa pelo LNA.
Ele disse ter se encontrado com muitas tribos líbias na Tunísia e que estas querem ver um governo forte no país. Por isso, o exército de Haftar poderá ser um bom fundamento para tal.
Além disso, o especialista destacou que a Rússia também está interessada em que a situação no país se normalize para que os terroristas da Síria não possam se refugiar na Líbia. Ele acredita que os EUA, a Itália e a França também chegaram à mesma conclusão.
A Líbia tem grande interesse para os europeus por causa da imigração, acrescenta Popov. Segundo o artigo, todas as rotas de imigrantes ilegais que querem vir para a Europa a partir da África e Oriente Médio passam pela Líbia.
"Antes, no tempo de Kadhafi, paravam [os imigrantes] com dinheiro europeu, mas agora o LNA não vai resolver os problemas da União Europeia", afirmou o ex-embaixador, opinando que as futuras relações da Líbia com a Rússia e o Ocidente dependerão da capacidade da UE de chegar a um acordo com os políticos líbios.
A Líbia está passando por uma profunda crise desde 2011, ano em que o seu líder Muammar Kadhafi foi derrubado e executado, passando a haver dois governos no país.