O OTH, concebido para vigiar uma fronteira marítima afastada até 200 milhas náuticas (370,4 km) da costa brasileira, está perfeitamente preparado para identificar alvos para além dessa distância
Por Roberto Lopes | Poder Naval
De Santa Vitória do Palmar (RS)
“Propriedade da União”
“Marinha do Brasil”
“Entrada Proibida”
Junto à inusitada porteira de madeira pintada na cor verde (que mais se assemelha à cancela de uma propriedade rural), cravada nas dunas da Praia do Cassino, município de Santa Vitória do Palmar (RS) – a meros 600 m da arrebentação das ondas –, a advertência, pintada sem extravagância em uma placa metálica, faz perfeito sentido com tudo daquele lugar: a lonjura, o isolamento e a discrição.
E, sim, há o frio também.
A baixa temperatura que, nesse trecho do litoral gaúcho, se estende por, ao menos, seis meses do ano, é constantemente levada de um lado para o outro pelo vento, que sopra quase inaudível, mexendo com o areal, mudando as dunas de lugar.
Na manhã desta terça-feira (19.06), em que um grupo de jornalistas esteve no local, os 9º positivos ao ar livre produziam uma sensação térmica de 7º.
A porteira verde é o acesso ao sítio de 600 m², onde a Marinha do Brasil (MB) mantém o Farol do Albardão (de 48 m de altura) e, há cerca de dois anos, hospeda as antenas e os shelters brancos do radar OTH 0100, de vigilância marítima, projetado, desenvolvido e construído pela companhia IACIT, da cidade de São José dos Campos (SP).
Camuflagem
A baixa temperatura que, nesse trecho do litoral gaúcho, se estende por, ao menos, seis meses do ano, é constantemente levada de um lado para o outro pelo vento, que sopra quase inaudível, mexendo com o areal, mudando as dunas de lugar.
Na manhã desta terça-feira (19.06), em que um grupo de jornalistas esteve no local, os 9º positivos ao ar livre produziam uma sensação térmica de 7º.
A porteira verde é o acesso ao sítio de 600 m², onde a Marinha do Brasil (MB) mantém o Farol do Albardão (de 48 m de altura) e, há cerca de dois anos, hospeda as antenas e os shelters brancos do radar OTH 0100, de vigilância marítima, projetado, desenvolvido e construído pela companhia IACIT, da cidade de São José dos Campos (SP).
Camuflagem
Estamos a só uns 200 km da fronteira com o Uruguai, e nesse ponto perdido da costa oriental da América do Sul, em uma das praias mais extensas do planeta, a lonjura, o isolamento e a discrição, ajudam a camuflar alguns segredos.
Por exemplo: o de que o OTH, concebido para vigiar uma fronteira marítima afastada até 200 milhas náuticas (370,4 km) da costa brasileira, está perfeitamente preparado para identificar alvos para além dessa distância. “250 milhas [463 km] certamente”, confidencia ao Poder Naval o engenheiro eletrônico Gustavo de Castro Issi, de 39 anos (40 em setembro), diretor de Planejamento da companhia paulista.
Outro fato relevante: apesar de projetado para detectar até pequenas embarcações de superfície, com comprimentos de casco entre 10 m e 40 m, as ondas emitidas pela “boca” do OTH – uma antena muito magra, de 15 m de altura, instalada na área leste do sítio da Marinha – são capazes de captar, até mesmo, a presença da vela de um submarino que se mova próximo à superfície.
Um terceiro dado importante: a tecnologia desenvolvida pela empresa paulista empresta ao país a capacidade de fazer detecção marítima que só um pequeno grupo de potências militares – possivelmente Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, Canadá e Austrália – são capazes de exibir.
As aplicações dos radares OTH são mais que evidentes.
Um 0100 da IACIT é capaz de identificar a incursão não autorizada de uma embarcação por águas jurisdicionais brasileiras – o que implica dizer barcos de narcotraficantes ou de contrabandistas de armas. Mas não apenas eles.
Também pesqueiros em atividade ilegal ou que usem técnicas consideradas predatórias. E até mesmo embarcações dotadas de sensores concebidos para diferentes leituras oceanográficas (inclusive as de sítios de riquezas submarinas), que estejam operando sem o conhecimento ou a permissão de autoridades brasileiras.
Salinidade
Por exemplo: o de que o OTH, concebido para vigiar uma fronteira marítima afastada até 200 milhas náuticas (370,4 km) da costa brasileira, está perfeitamente preparado para identificar alvos para além dessa distância. “250 milhas [463 km] certamente”, confidencia ao Poder Naval o engenheiro eletrônico Gustavo de Castro Issi, de 39 anos (40 em setembro), diretor de Planejamento da companhia paulista.
Outro fato relevante: apesar de projetado para detectar até pequenas embarcações de superfície, com comprimentos de casco entre 10 m e 40 m, as ondas emitidas pela “boca” do OTH – uma antena muito magra, de 15 m de altura, instalada na área leste do sítio da Marinha – são capazes de captar, até mesmo, a presença da vela de um submarino que se mova próximo à superfície.
Um terceiro dado importante: a tecnologia desenvolvida pela empresa paulista empresta ao país a capacidade de fazer detecção marítima que só um pequeno grupo de potências militares – possivelmente Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, Canadá e Austrália – são capazes de exibir.
As aplicações dos radares OTH são mais que evidentes.
Um 0100 da IACIT é capaz de identificar a incursão não autorizada de uma embarcação por águas jurisdicionais brasileiras – o que implica dizer barcos de narcotraficantes ou de contrabandistas de armas. Mas não apenas eles.
Também pesqueiros em atividade ilegal ou que usem técnicas consideradas predatórias. E até mesmo embarcações dotadas de sensores concebidos para diferentes leituras oceanográficas (inclusive as de sítios de riquezas submarinas), que estejam operando sem o conhecimento ou a permissão de autoridades brasileiras.
Salinidade
O segredo tecnológico da técnica de detecção além do horizonte já não é mais um segredo comercial.
O OTH da IACIT funciona por meio de sinais que se propagam ao longo da curvatura da Terra, dentro do conceito Surface Wave (Ondas de Superfície).
Isso quer dizer que eles “cavalgam” a salinidade existente na superfície das ondas, e a sua perda de eficiência, para além das 200 milhas, exigirá apenas que os alvos sejam de tamanhos maiores.
Na entrevista coletiva que concedeu na terça-feira, Castro Issi afirmou que as ondas emitidas pela “boca” transmissora do radar são capazes de avançar, inclusive, por sobre as corcovas de mares tempestuosos, produzidas por ondas de 8 ou 10 m de altura (ou mais).
Ao colidirem com um alvo, essas emissões retornam a um array da Praia do Cassino: a disposição circular de 23 antenas receptoras, distante cerca de 300 m da “boca” do sistema.
O processamento dos sinais é feito por um equipamento da marca israelense Elta – pequeno e fino como o captador de sinais doméstico de uma tevê a cabo –, instalado em um dos dois contêineres brancos que controlam o funcionamento do OTH.
Para o aparato de Defesa brasileiro e, em especial, para os recursos de detecção do Comando de Operações Navais (CON) da Marinha, a capacitação da IACIT e o bom funcionamento do OTH 0100 a partir da Praia do Cassino – investimento que já atingiu a marca dos 17 milhões de Reais – é um presente que caiu do céu.
Especialmente depois que limitantes financeiras e tecnológicas forçaram a Marinha a adiar a implantação do seu ambicioso Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz): uma complexa rede de radares, satélites e outros sensores que – a um custo (estimado) de 20 bilhões de Reais – iria monitorar a vasta área de 3,6 milhões de km² da Amazônia Azul, onde se insere o estratégico Pré-Sal.
De acordo com a equipe da IACIT que acompanhou a visita dos jornalistas, quatro unidades do radar seriam suficientes para monitorar toda a área de atividade econômica marítima brasileira abaixo da costa do estado do Espírito Santo.
A vigilância da costa em sua integralidade exigiria 24 OTHs.
O OTH da IACIT funciona por meio de sinais que se propagam ao longo da curvatura da Terra, dentro do conceito Surface Wave (Ondas de Superfície).
Isso quer dizer que eles “cavalgam” a salinidade existente na superfície das ondas, e a sua perda de eficiência, para além das 200 milhas, exigirá apenas que os alvos sejam de tamanhos maiores.
Na entrevista coletiva que concedeu na terça-feira, Castro Issi afirmou que as ondas emitidas pela “boca” transmissora do radar são capazes de avançar, inclusive, por sobre as corcovas de mares tempestuosos, produzidas por ondas de 8 ou 10 m de altura (ou mais).
Ao colidirem com um alvo, essas emissões retornam a um array da Praia do Cassino: a disposição circular de 23 antenas receptoras, distante cerca de 300 m da “boca” do sistema.
O processamento dos sinais é feito por um equipamento da marca israelense Elta – pequeno e fino como o captador de sinais doméstico de uma tevê a cabo –, instalado em um dos dois contêineres brancos que controlam o funcionamento do OTH.
Para o aparato de Defesa brasileiro e, em especial, para os recursos de detecção do Comando de Operações Navais (CON) da Marinha, a capacitação da IACIT e o bom funcionamento do OTH 0100 a partir da Praia do Cassino – investimento que já atingiu a marca dos 17 milhões de Reais – é um presente que caiu do céu.
Especialmente depois que limitantes financeiras e tecnológicas forçaram a Marinha a adiar a implantação do seu ambicioso Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz): uma complexa rede de radares, satélites e outros sensores que – a um custo (estimado) de 20 bilhões de Reais – iria monitorar a vasta área de 3,6 milhões de km² da Amazônia Azul, onde se insere o estratégico Pré-Sal.
De acordo com a equipe da IACIT que acompanhou a visita dos jornalistas, quatro unidades do radar seriam suficientes para monitorar toda a área de atividade econômica marítima brasileira abaixo da costa do estado do Espírito Santo.
A vigilância da costa em sua integralidade exigiria 24 OTHs.