Violência na cidade portuária de Hodeida, principal ponto de entrada, aumentou nos últimos dias; país já atravessa pior crise humanitária no mundo; Conselho de Segurança se reúne a portas fechadas para discutir situação.
Alexandres Soares | ONU
Agências humanitárias das Nações Unidas e parceiros realizam operações de assistência urgente no Iêmen após a escalada da violência à cidade portuária de Hodeida.
Um homem e o seu filho na cidade de Hodeida, procurando água | Ocha/Giles Clarke |
A coordenadora da ONU no país, Lise Grande, disse que dezenas de funcionários da organização entregam comida, água e serviços médicos. Pelo menos 600 mil moradores precisam de ajuda para sobreviver.
Entrevista
Numa entrevista à ONU News, Grande informou que "nos últimos dois dias, desde que o assalto militar começou, tem havido fortes bombardeamentos vindos do mar e confrontos terrestres".
Ela diz estar com receio que "nos próximos dias, a menos que aconteça um cessar das hostilidades, o combate se espalhe para as partes densamente populosas da cidade".
Apesar das dificuldades, Grande explicou que as agências da ONU "sabem o quão importante é manter as suas operações a decorrer". Segundo ela, "os funcionários humanitários estão comprometidos em permanecer em áreas onde as pessoas precisam deles".
Preparação
Em nota, a coordenadora explicou que os parceiros humanitários se preparavam para um possível ataque há semanas.
Grande disse que, na quarta-feira, “mesmo quando a cidade estava sendo bombardeada, um navio contratado pelo ONU descarregava no porto de Hodeida milhares de toneladas de comida”. Segundo ela, outros dois navios vão fazer o mesmo nos próximos dias.
Além de ser uma das áreas mais populosas do país, a cidade é o ponto de entrada mais importante de bens necessários para evitar uma crise de fome e o retorno da epidemia de cólera.
Cerca de 70% das importações do Iêmen, incluindo bens comerciais e humanitários, entram pelos portos Hodeida e Saleef.
Ajuda
As agências têm 63 mil toneladas de comida, dezenas de milhares de kits de emergência, água e combustível para distribuir. Equipas médicas foram levadas para o terreno e já estabeleceram centros de serviço.
Todos os dias, 50 mil litros de água potável são distribuídos e equipes de saúde tentam parar o espalhar da cólera e outras doenças mortais.
A ONU e os seus parceiros também ajudam as pessoas que foram deslocadas pelos combates no sul da cidade nos últimos dias.
Encontro
Grande afirmou que “sob a lei humanitária internacional, as partes de um conflito são obrigadas a fazer o possível para proteger civis e garantir que têm a ajuda e assistência que precisam para sobreviver”.
A coordenadora humanitária e o enviado especial do secretário-geral da ONU para o Iêmen, Martin Griffiths, participam num encontro a portas fechadas do Conselho de Segurança.
Crise
A situação humanitária no Iêmen já é considerada a mais grave no mundo pelas agências da ONU. Se as condições não melhorarem, o número de pessoas que enfrentam insegurança alimentar grave e o risco de morrer de fome, pode ultrapassar os 10 milhões até o fim do ano.
A ONU e os seus parceiros precisam de US$ 3 bilhões este ano para ajudar cerca de 22 milhões de pessoas. Até este momento, as organizações já receberam metade desse valor.