Dias depois que Trump anunciou a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã, os preços do petróleo estão subindo e a moeda russa – o rublo – está se fortalecendo.
Por Alexandre Galante | Forças Terrestres*
O tumulto no Irã/Oriente Médio aumenta o preço do petróleo, que vai acabar tirando a economia russa de Putin da depressão.
Trump atropela acordo nuclear com o Irã |
O preço do petróleo é o mais alto em 3 anos e meio e as ações de óleo da Rosneft, uma das três maiores empresas de petróleo e gás da Rússia, estão em alta de 30% em um mês.
Para o Estado russo, cujas finanças continuam altamente dependentes dos recursos naturais, o petróleo é uma fonte significativa de renda, num momento em que o presidente Vladimir Putin está iniciando seu quarto mandato no Kremlin com promessas de desenvolver a economia da Rússia e reduzir a pobreza.
O primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, avaliou o custo dos objetivos de longo prazo de Putin em mais de 100 bilhões de euros.
Analistas do Alfa Bank da Rússia disseram que a retirada dos EUA do acordo nuclear do Irã manterá os preços do petróleo altos, o que é ótimo para a economia russa, e deduzem que a concorrência dos EUA e da UE também ajudará a Rússia a vender aço e outros produtos manufaturados ao Irã.
Embora a Rússia tenha condenado Washington por sua retirada do acordo nuclear com o Irã, Moscou permanece menos exposto às conseqüências econômicas das sanções dos EUA do que a Europa e suas empresas podem até se beneficiar da medida.
“O acordo e o levantamento de sanções em 2015 marcaram o retorno dos negócios europeus ao Irã. Mas é improvável que eles possam continuar fazendo negócios hoje, dando espaço para a Rússia”, disse o cientista político independente Vladimir Sotnikov.
“A Rússia pode agora avançar a toda velocidade”, acrescentou ele.
A Rússia e o Irã já tiveram relações difíceis, mas viram os laços melhorarem desde o fim da Guerra Fria.
Apesar de Teerã ter sido evitado pela comunidade internacional nos anos 90, Moscou concordou em retomar a construção da usina nuclear iraniana de Bushehr que a Alemanha abandonou.
A Rússia e o Irã procuraram fortalecer seus laços comerciais muito antes do acordo de 2015, apesar das sanções internacionais em vigor.
“A Rússia quer vender aço, infra-estrutura de transporte e outros bens manufaturados para o Irã. Quanto menos concorrência dos EUA e da UE, melhor”, disse Charlie Robertson, analista da Renaissance Capital.
Igor Delanoe disse que a Rússia tem um “papel real a desempenhar” nos setores de energia e eletricidade do Irã.
China também se beneficia
A CNPC, gigante chinesa do setor de energia, está disposta a comprar a participação da empresa francesa Total no projeto de gás iraniano South Pars, caso este decida desistir por causa das sanções dos Estados Unidos contra Teerã, informou a Reuters.
“A possibilidade de retirada da Total está bastante alta agora e, nesse cenário, a CNPC estará pronta para assumir totalmente a situação”, disse a agência de notícias citando a fonte do setor.
“A CNPC previu uma alta probabilidade de uma nova imposição das sanções dos EUA”, disse outra fonte.
O campo South Pars é a maior reserva de gás natural do mundo já encontrada em um só lugar. A Total tem uma participação de 50,1% no projeto que desenvolve a fase 11 de South Pars, enquanto a China tem 30% com as ações remanescentes pertencentes à subsidiária nacional da petrolífera iraniana, PetroPars.
Nos atuais preços do gás, todas as reservas do South Pars podem ser estimadas em cerca de US$ 2,9 trilhões. O Irã compartilha o campo com o Catar. A Total assinou um acordo com o Irã em julho de 2017 para desenvolver a fase 11 do campo de gás com um investimento inicial de US$ 1 bilhão. A empresa francesa foi a primeira empresa ocidental a investir no setor de energia do Irã após o acordo nuclear de 2015.
Em março, o CEO da Total, Patrick Pouyanné, disse que a empresa pedirá uma isenção para continuar o desenvolvimento do campo de gás se os EUA decidirem reimpor as sanções.
Nova linha ferroviária da China para o Irã envia uma mensagem para Trump
Novas conexões de trens de carga geralmente têm um potencial limitado para fazer manchetes globais, mas um novo serviço lançado na China na quinta-feira pode ser diferente. Sua carga – 1.150 toneladas de sementes de girassol – pode parecer banal, mas seu destino, no entanto, é muito mais interessante: Teerã, a capital do Irã.
O lançamento de uma nova conexão ferroviária entre Bayannur na Região Autônoma da Mongólia Interior da China e o Irã foi anunciado pela agência oficial de notícias Xinhua na quinta-feira. Seu caminho exato não foi descrito no despacho, mas os tempos de viagem aparentemente serão encurtados em pelo menos 20 dias em comparação com o transporte de carga por navio. Agora é esperado que as sementes de girassol cheguem a Teerã em cerca de duas semanas.
Enquanto os Estados Unidos estão pressionando as empresas estrangeiras a reduzir suas operações no Irã, a China parece estar fazendo o oposto. O lançamento da conexão do trem de carga de quinta-feira foi apenas a mais recente medida adotada por Pequim para intensificar as relações comerciais com o Irã e parece não haver planos até agora para ceder às exigências dos EUA.
*Com Agências Internacionais