A ruptura do acordo nuclear iraniano e a saída dos EUA do Plano de Ação Conjunto Global contribuirão, sem dúvida, para surgimento de novas crises no Oriente Médio, escreve Vladimir Sazhin, colunista da Sputnik.
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Colapso do acordo e grande guerra
Sazhin duvida que Israel, Arábia Saudita e EUA possam observar com tranquilidade como aumenta o risco de o Irã dispor de armas nucleares caso Trump decida abandonar o acordo.
Usina nuclear Bushehr, no Irã © Sputnik / Valery Melnikov |
"Se o país persa continuar desenvolvendo seu programa, não se pode excluir a possibilidade de que os países citados realizem ataques a suas instalações. [Caso isso aconteça] haverá uma grande guerra no Oriente Médio", escreve Sazhin em seu artigo para a Sputnik.
No entanto, o autor aponta que Teerã está preparada para qualquer problema. Neste respeito, o analista relembra as declarações do presidente iraniano, Hassan Rouhani.
"Estou dizendo à Casa Branca que, se eles não cumprirem seus compromissos, o governo iraniano reagirá. Se alguém violar o acordo nuclear, então terá que enfrentar as consequências", disse o líder.
Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Yavad Zarif, afirmou que Teerã poderia retomar suas atividades no campo nuclear com maior intensidade. Segundo o diplomata, o Irã rapidamente restauraria sua pesquisa nuclear se os EUA decidirem abandonar o acordo nuclear.
O país persa poderia até mesmo voltar a enriquecer urânio a 20% em apenas quatro dias.
O Plano de Ação Conjunto Global assinado por Teerã e pelo Grupo 5+1 (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia, mais a Alemanha) em julho de 2015 prevê que o enriquecimento não exceda os 4%.
O colunista da Sputnik enfatiza que, três anos após a assinatura do acordo, a infraestrutura nuclear do país persa não sofreu grandes mudanças. Esta é a razão pela qual o Irã conseguiu preservar seu potencial nuclear e está preparado para se tornar uma potência nuclear.
"Em um novo cenário, Teerã recuperaria as investigações de seu programa nuclear, que foram congeladas nos últimos anos", enfatiza o autor do artigo.
De que Trump não gosta?
Durante a campanha eleitoral de 2016, Donald Trump repetidamente criticou o Plano de Ação Conjunto Global e declarou que este não beneficiava os Estados Unidos. Depois de se tornar presidente, o político republicano rapidamente passou de palavras a ações, considera o colunista.
Segundo Sazhin, desde o primeiro momento no poder o presidente dos EUA apontou quais eram, segundo sua opinião, os quatro principais defeitos do acordo nuclear.
A primeira é a impossibilidade de os inspetores internacionais controlarem todas as instalações iranianas. O outro fator é a falta de garantias de que o Irã nunca venha a produzir armas nucleares, o terceiro é a validade do plano (expira em 10 ou 15 anos). A última desvantagem é a ausência de um veto à criação de mísseis balísticos.
Mais tarde, Trump anunciou ter prolongado pela última vez as sanções impostas ao Irã e em 12 de maio iria se retirar do Plano de Ação Conjunto Global se a França, Alemanha e Reino Unido não concordassem em mudar consideravelmente as cláusulas do acordo.
A reação dos países europeus
Sazhin enfatiza que Paris, Berlim e Londres estão extremamente interessadas nas relações com o Irã e, especialmente, os negócios continuam sendo desenvolvidos. Esta foi a razão pela qual, depois de conhecer os planos de Trump, seus colegas europeus entraram em pânico e começaram as consultas.
"Em resultado, de acordo com dados da mídia, as partes concordaram ser necessário separar o acordo nuclear dos pecados de Teerã e voltar a ameaçar o Irã com novas sanções", escreve o jornalista.
O autor do artigo relembra que, em 24 de abril, o presidente francês, Emmanuel Macron, visitou os EUA e se encontrou com Donald Trump. Para aproximar suas posições, o presidente francês propôs começar a esboçar um novo acordo sobre o programa nuclear iraniano que incluiria o desenvolvimento do programa de mísseis e a contenção da expansão iraniana no Oriente Médio.
O presidente francês não foi o único líder europeu a visitar a capital dos EUA. Em 27 de abril, a chanceler alemã, Angela Merkel, também desembarcou em Washington. O tema da conversa foi, provavelmente, o mesmo que com Macron, sugere Sazhin, acrescentando que não exclui a possibilidade de que Trump posteriormente mantenha uma conversa telefônica sobre o assunto com a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May.
"É provável que os europeus não consigam convencer Trump a permanecer no Plano de Ação Conjunto Global. Atualmente, as perspectivas são sombrias. A administração Trump deixou claro que a Casa Branca não mudaria sua opinião e Trump não reconsideraria sua posição em relação ao acordo nuclear. Há apenas uma possibilidade de os EUA permanecerem no Plano de Ação Conjunto Global — se os europeus conseguirem persuadir o Irã a fazer concessões", escreve o jornalista.
Como será a resposta do Irã?
Sazhin acredita que é impossível fazer com que o Irã faça concessões aos EUA e admita mudanças no acordo nuclear. Qualquer interpretação diferente do Plano de Ação Conjunto Global seria inaceitável para o país persa.
O autor do artigo menciona que durante as negociações realizadas entre 2014 e 2015, as autoridades iranianas prestaram muita atenção a cada palavra no projeto, sem permitir o uso de palavras ambíguas, e observaram de modo escrupuloso a tradução do documento final em todas as línguas.
"Isso significa que todos os esforços dos europeus não vão dar frutos e Trump retirará os Estados Unidos do Plano de Ação Conjunto Global", resume Sazhin.