Apelos à contenção de Moscovo, Berlim e Paris após ataque iraniano com rockets contra os Montes Golã e realização israelita
Susana Salvador | Diário de Notícias
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse ontem que o Irão ultrapassou uma "linha vermelha" ao disparar duas dezenas de rockets a partir de território sírio contra os Montes Golã (ocupados por Israel). Num vídeo publicado no Twitter, defendeu que o seu exército respondeu de forma "apropriada", com o bombardeamento de cerca de 70 posições iranianas na Síria. "Estamos no meio de uma batalha prolongada e a nossa política é clara: não vamos permitir que o Irão se entrincheire militarmente na Síria", avisou. Moscovo, Berlim e Paris apelam ao diálogo e contenção após o mais sério confronto militar entre os dois inimigos até à data.
O recurso à força "é uma tendência muito preocupantes e nós partimos do princípio que todas as questões devem ser resolvidas pelo diálogo", disse o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov. Horas antes, o seu número dois, Mikhail Bogdanov, já tinha apelado à "contenção" do Irão e de Israel. A Casa Branca criticou o "desenvolvimento inaceitável e altamente perigoso" no Médio Oriente, apoiando num comunicado o direito de Israel à "autodefesa". Os ataques surgem depois de o presidente norte-americano, Donald Trump, ter saído do acordo nuclear com o Irão, apesar dos apelos contra dos aliados europeus.
Ontem, o presidente francês, Emmanuel Macron, apelou à "desescalada" da violência na região, depois de um encontro com a chanceler alemã. "Sabemos que enfrentamos uma situação extremamente complicada aqui. A escalada das últimas horas mostra que este é realmente um tema de guerra e paz, e só posso pedir a todos os envolvidos para exercerem contenção", afirmou Angela Merkel.
"Não queremos uma escalada, mas não vamos deixar ninguém atacar-nos ou construir uma infraestrutura para nos atacar no futuro", disse o ministro da Defesa israelita, Avigdor Lieberman. "Atingimos quase todas as infraestruturas iranianas na Síria. Precisam de se lembrar do ditado que diz que se chover sobre nós, haverá uma tempestade sobre eles", acrescentou. "Espero que tenhamos acabado com este episódio e que toda a gente tenha percebido", concluiu.
Montes Golã
Segundo os israelitas, a brigada para as operações externas dos Guardas da Revolução (Quds) lançou pouco depois da meia-noite local (22.00 de quarta-feira em Lisboa), a partir dos arredores de Damasco, cerca de 20 rockets Fajr e Grad em direção aos Montes Golã ocupados por Israel. Pelo menos quatro projéteis foram intercetados pelo Iron Dome, o sistema de defesa antiaéreo do estado hebraico, e os outros não terão chegado aos alvos.
Israel anexou em 1981 uma parte dos Montes Golã (1200 km2), que ocupava desde a guerra dos Seis Dias, em 1967. A anexação não foi reconhecida pela comunidade internacional, que ainda considera o território sírio. Perto de 510 km2 deste planalto rochoso a cerca de 60 quilómetros de Damasco, que além da importância militar estratégica é fonte de um terço da água de Israel, foi devolvido ao controlo sírio em 1974. Damasco tentou recuperá-los durante a guerra de 1973, sem sucesso, tendo sido assinado um armistício no ano seguinte - uma força de observação da ONU está numa zona de desmilitarização desde então. Existem 33 colonatos nos Montes Golã, onde vivem 20 mil pessoas. Durante as guerras, a maioria dos sírios fugiram, tendo ficado apenas cerca de 18 mil drusos.
Em represália pelos ataques com rockets, Israel lançou pelo menos 70 mísseis (a grande maioria a partir de 28 caças F-15 e F-16) e alega ter acertado em quase todos os alvos militares iranianos importantes na Síria. Entre eles, armazéns de armamento ou postos de observação no território sírio. Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (organização não governamental baseada em Londres com uma vasta rede de informação no terreno), pelo menos 23 combatentes morreram, entre eles 18 estrangeiros. O exército sírio confirmou apenas três baixas.
Em rota de colisão
Israel considera o Irão a principal ameaça à sua segurança já que, desde a revolução iraniana de 1979, os seus líderes têm apelado à eliminação do estado hebraico. Por causa da retórica hostil, consideram que seriam o principal alvo caso Teerão desenvolvesse o seu programa nuclear. Na prática, os dois países nunca estiveram em guerra, apesar de os iranianos apoiarem vários grupos anti-israelitas - como o Hezbollah libanês ou a organização palestiniana Hamas.
Israel e Irão estão há meses em rota de colisão, tendo como pano de fundo a Síria - país com o qual tecnicamente os israelitas ainda estão em guerra e para onde Teerão enviou milhares de tropas em apoio ao presidente Bashar al-Assad. Telavive teme que o que considera o "eixo radical" (que inclui o Hezbollah e o Hamas) esteja a tentar abrir uma nova frente de conflito contra Israel, à medida em que o regime sírio vai recuperando o controlo do terreno.
Desde o início da guerra civil, em 2011, Israel já terá feito mais de uma centena de ataques aéreos na vizinha Síria. Em fevereiro, disseram ter abatido um drone iraniano que tinha entrado no seu espaço aéreo e contra-atacaram atingido posições antiaéreas na Síria. Por seu lado, Teerão prometeu retaliar depois de, no mês passado, um alegado ataque israelita ter matado sete dos seus soldados numa base aérea em Homs. No início da semana, os media sírios revelaram que Israel atingiu um posto militar próximo de Damasco, matando alegadamente pelo menos oito iranianos.
Ontem, o presidente francês, Emmanuel Macron, apelou à "desescalada" da violência na região, depois de um encontro com a chanceler alemã. "Sabemos que enfrentamos uma situação extremamente complicada aqui. A escalada das últimas horas mostra que este é realmente um tema de guerra e paz, e só posso pedir a todos os envolvidos para exercerem contenção", afirmou Angela Merkel.
"Não queremos uma escalada, mas não vamos deixar ninguém atacar-nos ou construir uma infraestrutura para nos atacar no futuro", disse o ministro da Defesa israelita, Avigdor Lieberman. "Atingimos quase todas as infraestruturas iranianas na Síria. Precisam de se lembrar do ditado que diz que se chover sobre nós, haverá uma tempestade sobre eles", acrescentou. "Espero que tenhamos acabado com este episódio e que toda a gente tenha percebido", concluiu.
Montes Golã
Segundo os israelitas, a brigada para as operações externas dos Guardas da Revolução (Quds) lançou pouco depois da meia-noite local (22.00 de quarta-feira em Lisboa), a partir dos arredores de Damasco, cerca de 20 rockets Fajr e Grad em direção aos Montes Golã ocupados por Israel. Pelo menos quatro projéteis foram intercetados pelo Iron Dome, o sistema de defesa antiaéreo do estado hebraico, e os outros não terão chegado aos alvos.
Israel anexou em 1981 uma parte dos Montes Golã (1200 km2), que ocupava desde a guerra dos Seis Dias, em 1967. A anexação não foi reconhecida pela comunidade internacional, que ainda considera o território sírio. Perto de 510 km2 deste planalto rochoso a cerca de 60 quilómetros de Damasco, que além da importância militar estratégica é fonte de um terço da água de Israel, foi devolvido ao controlo sírio em 1974. Damasco tentou recuperá-los durante a guerra de 1973, sem sucesso, tendo sido assinado um armistício no ano seguinte - uma força de observação da ONU está numa zona de desmilitarização desde então. Existem 33 colonatos nos Montes Golã, onde vivem 20 mil pessoas. Durante as guerras, a maioria dos sírios fugiram, tendo ficado apenas cerca de 18 mil drusos.
Em represália pelos ataques com rockets, Israel lançou pelo menos 70 mísseis (a grande maioria a partir de 28 caças F-15 e F-16) e alega ter acertado em quase todos os alvos militares iranianos importantes na Síria. Entre eles, armazéns de armamento ou postos de observação no território sírio. Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (organização não governamental baseada em Londres com uma vasta rede de informação no terreno), pelo menos 23 combatentes morreram, entre eles 18 estrangeiros. O exército sírio confirmou apenas três baixas.
Em rota de colisão
Israel considera o Irão a principal ameaça à sua segurança já que, desde a revolução iraniana de 1979, os seus líderes têm apelado à eliminação do estado hebraico. Por causa da retórica hostil, consideram que seriam o principal alvo caso Teerão desenvolvesse o seu programa nuclear. Na prática, os dois países nunca estiveram em guerra, apesar de os iranianos apoiarem vários grupos anti-israelitas - como o Hezbollah libanês ou a organização palestiniana Hamas.
Israel e Irão estão há meses em rota de colisão, tendo como pano de fundo a Síria - país com o qual tecnicamente os israelitas ainda estão em guerra e para onde Teerão enviou milhares de tropas em apoio ao presidente Bashar al-Assad. Telavive teme que o que considera o "eixo radical" (que inclui o Hezbollah e o Hamas) esteja a tentar abrir uma nova frente de conflito contra Israel, à medida em que o regime sírio vai recuperando o controlo do terreno.
Desde o início da guerra civil, em 2011, Israel já terá feito mais de uma centena de ataques aéreos na vizinha Síria. Em fevereiro, disseram ter abatido um drone iraniano que tinha entrado no seu espaço aéreo e contra-atacaram atingido posições antiaéreas na Síria. Por seu lado, Teerão prometeu retaliar depois de, no mês passado, um alegado ataque israelita ter matado sete dos seus soldados numa base aérea em Homs. No início da semana, os media sírios revelaram que Israel atingiu um posto militar próximo de Damasco, matando alegadamente pelo menos oito iranianos.