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12 maio 2018

Irã pressionado, Rússia tenta obter dividendos

Entre um ataque israelita e a saída dos EUA do acordo nuclear, o regime iraniano está sob pressão. Putin exerce influência


César Avó | Diário de Notícias

A calma regressou à fronteira israelo-síria na sexta-feira, após a troca de fogo entre rockets disparados contra os montes Golã, ocupados por Israel, e mísseis israelitas contra alvos iranianos na Síria. Mas a tensão permanece, numa altura em que a guerra na Síria, a saída dos EUA do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano e a abertura da embaixada norte-americana em Jerusalém na segunda-feira são uma conjugação de fatores incendiários.


A linha dura do regime convocou manifestações para protestar contra a decisão dos Estados Unidos, como esta em Teerã | REUTERS/TASNIM

Vladimir Putin não perdeu a oportunidade para reforçar o papel de potência no terreno. Manteve contactos com o presidente turco, Recep Erdogan, e com a chanceler alemã, Angela Merkel, e sublinhou a "importância essencial" da manutenção do acordo. O presidente russo irá encontrar-se com a líder alemã no dia 18, em Sochi. Mas se Moscovo joga pelo lado iraniano quanto ao acordo nuclear, a sua posição relativa à influência de Teerão na Síria não é tão clara. Há quem afirme, como Yossi Mekelberg, da Chatham House, que o Kremlin "não está satisfeito com o ganho de poder e de influência do Irão" na Síria e que o ataque aéreo israelita a alvos iranianos foi feito com o acordo tácito russo. Benjamin Netanyahu, o governante do Estado hebraico, assistiu às cerimónias do Dia da Vitória e reuniu-se com Putin.

Ontem, o ministro israelita da Defesa, Avigdor Lieberman, deslocou-se aos montes Golã e aconselhou o líder da Síria, Bashar al-Assad a "expulsar os iranianos". "Ponha Qasem Soleimani e a Quds daí para fora", disse. Soleimani é o comandante da Brigada Quds, o braço das operações no exterior dos Guardas da Revolução. Noutro desenvolvimento relacionado com a Quds, o secretário do Tesouro norte-americano impôs sanções a seis indivíduos e três entidades acusados de canalizar milhões de dólares para a milícia presente na Síria e no Líbano.

Por sua vez, o governo iraniano condenou a intervenção militar israelita, negou a responsabilidade pelo lançamento dos 20 rockets - "pretextos inventados e sem fundamento" - e devolveu as culpas a Israel e EUA. O porta-voz dos Ministério dos Negócios Estrangeiros acusou aqueles países de apoiarem grupos terroristas que fazem guerra por procuração. "Os principais defensores desses grupos estão a atacar e invadir os territórios sírios, numa tentativa de vingar os sucessivos fracassos dos seus terroristas e inclinar a balança a seu favor", declarou Bahram Qassemi.

Se em termos militares não é de prever um recrudescimento entre o Irão e Israel nas próximas horas, a linguagem usada por alguns dirigentes não ajuda à pacificação. É o caso do aiatola Ahmad Khatami, que desafiou tudo e todos: "Vamos expandir as capacidades dos nossos mísseis apesar da pressão do Ocidente. E que Israel saiba que, se agir de forma insensata, Telavive e Haifa serão transformadas em ruínas e totalmente destruídas."

Prova da mensagem dúplice de Teerão, cujo regime reflete as tensões entre a linha dura religiosa e militar e os reformistas, o presidente Hassan Rouhani já tinha anunciado que quer manter em vigor o acordo assinado em 2015 com os restantes membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha.

No domingo, o chefe da diplomacia iraniana (e negociador do acordo nuclear), Javad Zarif, inicia em Pequim uma viagem que tem paragens em Moscovo, na segunda-feira, e em Bruxelas, na quarta. Na capital belga, Zarif vai encontrar-se com os homólogos francês, alemão e britânico - Jean-Yves Le Drian, Heiko Maas e Boris Johnson -, além da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.

Demissão na agência da ONU

O chefe das inspeções da Agência Internacional de Energia Atómica, Tero Varjoranta, demitiu-se ontem. O finlandês encarregado de verificar o cumprimento do Tratado de Não-Proliferação Nuclear não tornou público o porquê da sua saída. A demissão ocorreu no mesmo dia em que o diretor-geral daquela agência da ONU anunciou um encontro com o presidente russo. O japonês Yukiya Amano vai ser recebido por Putin em Sochi na segunda-feira.

Acordo, sim, acordo, não

Irã


O governo está sob fogo cruzado. Não quer ceder aos norte-americanos e negociar novo acordo, mas também não tem interesse em romper com os outros países, única forma de poder amenizar as sanções económicas que Washington retomou ao sair do acordo (cujo nome oficial é Plano de Ação Conjunto Global). E tem de aplacar a ira e a retórica dos fundamentalistas, que voltaram a gritar "morte à América" e "morte a Israel", mas também a lançar a dúvida e o ódio sobre os outros países. "Também não se pode confiar nesses países europeus que subscreveram [o acordo]. Não podemos confiar nos inimigos", disse o influente aiatola Khatami.

França

Paris tomou as dores dos países que querem manter o acordo em vigor. O ministro da Economia, Bruno Le Maire, instou a Europa a exercer a "soberania económica" em resposta às ameaças de sanções extraterritoriais para com as empresas europeias que mantenham relações com o Irão. Também o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, disse que tais sanções são "inaceitáveis". Le Maire propôs que se ponha em prática uma diretiva europeia, aprovada em 1996, criada para contornar o embargo a Cuba. Outra proposta é de dotar a UE de instrumentos que permitam a transferência de fundos internacionais sem passar pelo sistema Swift, que é norte-americano. As exportações francesas para o Irão duplicaram (1,5 mil milhões de euros em 2017) e a petrolífera Total e a construtora automóvel Renault têm interesses no país.

Alemanha

"Se todos fizermos o que queremos, então isto são más notícias para o mundo...", disse Angela Merkel sobre a decisão de Donald Trump e o futuro do acordo nuclear. Defensora do pacto, a chanceler alemã também disse que é do interesse alemão "manter uma forte relação transatlântica". Como equilibrar esses laços com o peso de 3 mil milhões de euros de exportações de 10 mil empresas, e 120 empresas a operar no Irão, é a grande questão.

Rússia

Vladimir Putin está numa posição única, ao manter relações com todos os atores do Médio Oriente, alguns rivais e outros simplesmente com interesses contrários. Segurar o acordo pode ser um troféu diplomático para o dirigente russo. E há negócios a manter, desde sistemas antimíssil a centrais nucleares.

China

Linhas de crédito de milhares de milhões de dólares, investimentos de empresas de tecnologia e em equipamento naval são alguns dos negócios que Pequim e Teerão estavam a desenvolver e que podem ficar congelados.

EUA

"É claro que não podemos prevenir uma bomba nuclear iraniana sob a estrutura decadente e podre do atual acordo", disse Donald Trump. E, em consequência, retirou os EUA do dito acordo e decidiu-se pelo regresso das sanções económicas ao Irão.

Arábia Saudita

O reino da casa de Saud bateu palmas à decisão de Trump. A Arábia Saudita acusa o regime da República Islâmica de ter beneficiado economicamente com o acordo para financiar a "desestabilização da região" e de "apoiar grupos terroristas", além do regime de Bashar al-Assad.

Israel

No final de abril, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, abriu terreno para a decisão de Donald Trump quando fez uma apresentação em que alegou ter provas de que Teerão tinha mentido e que mantinha um programa nuclear secreto. "O acordo está fundado em mentiras e em enganos", afirmou.

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