O brasileiro Rafael Marques Lusvarghi, que foi capturado por um grupo de nacionalistas ucranianos e levado ao Serviço de Segurança da Ucrânia, permanece preso na Ucrânia ao aguardo de julgamento. Seu advogado contou em entrevista à edição Ukraina.ru o que aconteceu com Lusvarghi e com os que o capturaram.
Sputnik
No início de maio, Rafael Marques Lusvarghi foi agredido por membros do grupo nacionalista ucraniano S14 que o levaram de modo violento do mosteiro onde estava refugiado e o entregaram aos serviços de segurança ucranianos.
Valentin Rybin, advogado do brasileiro durante julgamento em Kiev © Sputnik / Stringe |
Ao mesmo tempo, mais tarde, um tribunal de Kiev exigiu ao Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) que abrisse caso contra o líder do grupo radical, Yevgeny Karas, por atos de terrorismo e privação de liberdade ilegal, referindo-se à agressão contra Lusvarghi.
O fato de um caso ter sido aberto contra Karas é bastante surpreendente, pois antes o líder do S14 admitiu ter cooperado com o SBU.
Falando da captura de Lusvarghi, o advogado do brasileiro, Valentin Rybin, reiterou à Ukraina.ru a opinião que já expressou no Facebook, culpando pelo acontecido a embaixada do Brasil.
Segundo Rybin, a embaixada do Brasil em Kiev, em particular o cônsul, enviou uma carta oficial aos Ministérios da Justiça e das Relações Exteriores da Ucrânia, informando que Lusvarghi estava refugiado em um mosteiro nos arredores de Kiev.
"Na embaixada do Brasil trabalham cidadãos da Ucrânia. Falei com eles, vi sua lealdade ao novo curso ucraniano. Acho que isso serviu de motivação para fornecer informações ao cônsul de tal modo que ele informasse a todos onde estava Rafael", sublinhou Rybin.
O advogado lembrou que tanto ele como seu cliente solicitaram ao cônsul que emitisse documentos de regresso, mas a embaixada nunca o fez.
No momento, Rafael está aguardando o julgamento e o advogado acredita que este não será adiado muito e já em julho deverá ser anunciada a decisão.
Entre setembro de 2014 e novembro de 2015, Lusvarghi combateu no Exército da República Popular de Donetsk, sendo posteriormente preso na capital ucraniana em outubro de 2016.
Em janeiro de 2017, o brasileiro foi condenado a 13 anos de prisão por "atos de terrorismo" contra o Estado ucraniano. Contudo, após algum tempo, ele foi libertado por possíveis irregularidades no processo e se refugiou em um mosteiro onde foi detido pelos nacionalistas supostamente com o objetivo de trocá-lo por um soldado ucraniano prisioneiro.
Porém, o advogado detalha que Rafael já foi preparado para ser trocado ainda no fim de 2017.
"Em 18 de dezembro de 2017, Rafael Lusvarghi saiu da prisão justamente no âmbito da preparação para a troca [de prisioneiros] que teve lugar em 27 de dezembro de 2017, dia em que a República Popular de Donetsk [RPD] entregou à Ucrânia seus cidadãos, militares, que estavam presos na RPD com a condição de que Rafael Lusvarghi também recebesse liberdade", contou o advogado.
Porém, segundo Rybin, o brasileiro não voltou à RPD porque daí não podia voltar ao Brasil, pois não tinha documentos. Por isso, tomou a decisão de ir ao Brasil da Ucrânia após receber passaporte. Assim, segundo o defensor, a parte ucraniana fez o possível para que o brasileiro voltasse para casa. Quem não fez foi a embaixada brasileira na Ucrânia.
"A Ucrânia lhe deu a oportunidade de sair. Por que ele não aproveitou esta oportunidade se deve perguntar aos representantes da República Federativa do Brasil na Ucrânia que não lhe deram […] possibilidade de receber documentos de regresso", comentou Rybin, afirmando que este fato está em muitos documentos.
O advogado ressalta que casos deste tipo são bastante demorados e difíceis para vencer, relatando também de ameaças constantes que ele recebe por defender seus clientes.