Os líderes das duas Coreias, Kim Jong-un e Moon Jae-in, selaram nesta sexta-feira sua histórica cúpula com um acordo para conseguir "a completa desnuclearização" da península e abrir uma nova era que ponha fim ao estado de guerra entre os dois países.
Andrés Sánchez Braun | EFE
Goyang (Coreia do Sul) - "Sul e Norte confirmaram sua meta comum de conseguir uma península livre de armas nucleares através da completa desnuclearização", diz a declaração conjunta assinada pelos dois líderes após as conversas na fronteira militarizada entre os dois países.
Kim Jong-un e Moon Jae-in | EFE/KOREA SUMMIT PRESS |
Além disso, Seul reconhece no texto o peso que têm nesse sentido os gestos adotados por Pyongyang, que recentemente anunciou o congelamento de seus testes nucleares e de mísseis, e o fechamento de seu centro de testes atômicos.
"As duas partes concordam em cumprir com seus papéis e responsabilidades, já que os dois países reconhecem que as medidas adotadas pela Coreia do Norte para a desnuclearização da península têm uma importância significativa e são uma medida capital", diz o documento.
Após a assinatura do texto, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, disse que se esforçará para "conseguir a paz na península e por cumprir o escrito na declaração", mas não mencionou especificamente em nenhum momento o termo "desnuclearização" e o programa de armas nucleares norte-coreano.
Alguns analistas mantêm suas dúvidas a respeito do compromisso de Pyongyang com sua desnuclearização, dada a importância capital que o regime depositou em seu programa de armas nas três últimas décadas, algo que o regime considerava fundamental para garantir sua sobrevivência.
Também jogam contra as fracassadas conversas de seis lados da última década, suspensas após anos de negociações depois que Pyongyang colocou todo tipo de impedimentos para que seu arsenal e instalações atômicas fossem inspecionados, o que foi considerado uma estratégia para ganhar tempo.
No entanto, Seul insistiu que a cúpula e a declaração de hoje supõem apenas o primeiro passo de um longo caminho para limpar a península de armas nucleares.
Nesse sentido, os dois líderes se comprometeram a continuar construindo a "confiança mútua" através de reuniões e conferências telefônicas regulares, como lembrou hoje Moon.
O presidente sul-coreano também concordou em visitar Pyongyang no segundo semestre para manter a atual aproximação entre os dois países, que, por sua vez, se comprometeram a cooperar para iniciar conversas com os EUA e, assim, assinar um tratado de paz definitivo que substitua o cessar-fogo que pôs fim à Guerra da Coreia.
As duas Coreias "declaram o fim dos 65 anos transcorridos desde o armistício" e apostam em substitui-lo por "um tratado de paz", segundo a declaração, em alusão à situação de enfrentamento técnico em que permanecem Norte, Sul e Estados Unidos desde 1950.
Norte e Sul concluíram a Guerra da Coreia em 27 de julho de 1953 com um armistício assinado pelas tropas norte-coreanas, o exército de voluntários da China e os EUA, em representação do comando das Nações Unidas, que nunca foi substituído por um tratado de paz definitivo.
"O Sul, o Norte e os Estados Unidos avançarão ativamente com a organização de cúpulas a três ou quatro partes com vistas a estabelecer um sistema de paz permanente e estável", diz a declaração conjunta.
Além disso, as partes estabelecem no texto a necessidade de retomar a cooperação econômica, congelada completamente desde 2016 por causa dos testes de armas de Pyongyang, e também a cooperação no campo humanitário, que inclui uma nova reunião das famílias separadas pela guerra em 8 de agosto, dia nacional em ambos os países.
A cúpula de hoje, a primeira realizada entre líderes das duas Coreias em 11 anos, representa uma grande reviravolta para a situação na península, marcada em 2017 pelos contínuos testes de armas do regime e as trocas de ameaças com o presidente dos EUA, Donald Trump.
De fato, Kim e o próprio Trump se comprometeram a realizar outra cúpula em maio ou junho para também tratar da desnuclearização de Pyongyang.
Caso esse encontro aconteça, será o primeiro entre os líderes dos dois países após quase 70 anos de conflito, que começou com a Guerra da Coreia (1950-1953), e de 25 anos de negociações fracassadas e tensões por causa do programa nuclear norte-coreano.