Ataque químico deixa dezenas de mortos na Síria, dizem ONGs; governo Assad nega

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Diferentes organizações, como o Observatório Sírio para os Direitos Humanos e os Capacetes Brancos, falam em mais de 40 mortos em Douma, cidade no subúrbio de Damasco.


Por G1


Dezenas de pessoas morreram em um suposto ataque químico em Douma, na Síria, afirmaram ativistas, equipes de resgate e médicos sírios neste domingo (8). A cidade é controlada pelos rebeldes e fica perto da capital, Damasco. O governo de Bashar al-Assad nega o ocorrido.

Suposto ataque químico ocorreu na Síria (Foto: Alexandre Mauro/G1)
Suposto ataque químico ocorreu na Síria (Foto: Alexandre Mauro/G1)

Um comunicado conjunto divulgado pela Sociedade Médica Sírio-Americana (SAMS, na sigla em inglês) e a Defesa Civil síria (ONG mais conhecida como Capacetes Brancos) cita 49 mortos.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), ONG que monitora a guerra civil do país, disse que ao menos 80 pessoas foram mortas em Douma ontem, incluindo cerca de 40 que morreram de sufocamento.

A acusação do suposto ataque químico, que ocorreu no final do sábado, partiu do grupo rebelde sírio Jaish al-Islam. Eles acusam o regime de Assad de lançar um barril-bomba com substâncias químicas venenosas contra civis em meio a uma ofensiva das forças do governo sírio a Douma.

Os Capacetes Brancos, socorristas ligados à oposição, relataram que famílias inteiras foram encontradas sufocadas em suas casas e abrigos.

O OSDH disse que não podia confirmar se armas químicas foram usadas no ataque. As agências de notícias também não conseguiram verificar os relatos de forma independente.

Douma fica no subúrbio de Damasco, na região conhecida como Ghouta Oriental, que vem sendo alvo do regime sírio por concentrar opositores perto da capital.

Regime sírio, Rússia e Irã negam

A mídia estatal síria negou o lançamento de ataques químicos assim que as notícias começaram a circular. "Os terroristas do Jaish al-Islam estão em colapso e seus meios de comunicação estão fabricando ataques químicos em uma tentativa fracassada de obstruir os avanços do Exército Árabe Sírio", afirmou a agência de notícias estatal Sana.

Neste domingo, a televisão estatal síria informou que o governo do ditador Bashar Al-Assad "está pronto para iniciar negociações" com os rebeldes.

O governo russo também desmentiu o uso de armas químicas na ofensiva. "Nós negamos categoricamente essa informação", afirmou o general Yuri Yevtushenko, chefe do centro russo de reconciliação na Síria.

No Irã, o ministro de relações exteriores afirmou que o ataque não é baseado em fatos reais e que serve como "uma desculpa para organizar ofensivas militares contra a Síria".

Reação dos Estados Unidos

Os Estados Unidos pediram à Rússia que retirem o apoio a Assad após o suposto ataque químico. O Departamento de Estado dos EUA disse que relatos de vítimas em massa de um suposto ataque de armas químicas em Douma foram "horripilantes" e que, se confirmados, "exigem uma resposta imediata da comunidade internacional".

No Twitter, o presidente dos EUA, Donald Trump, condenou o suposto ataque e afirmou que a Síria pagará um preço alto. "Muitos mortos, incluindo mulheres e crianças, em um ataque químico absurdo na Síria. A área da atrocidade está cercada pelas forças sírias, deixando-a inacessível para o resto do mundo", escreveu.

"Presidente Putin, Rússia e Irã são responsáveis pela volta do 'animal' Assad. Preço alto a ser pago. Abram a área imediatamente para atendimento médico e investigação. Outro desastre humanitário sem qualquer razão", completou Trump.

Papa condena ataque

O papa Francisco condenou, neste domingo (8), o uso de "instrumentos de extermínio contra a população" na guerra da Síria.

"Nada pode justificar isso", afirmou o papa na praça de São Pedro do Vaticano, momentos após celebrar uma missa do segundo domingo de Páscoa. "Chegam da Síria notícias terríveis, com dezenas de vítimas, muitas delas mulheres e crianças. Rezamos por todos os mortos, pelas famílias e pelos afetados", disse.

"Rezamos para que os responsáveis políticos e militarem escolham outro caminho, o da negociação, o único que pode levar à paz e não à morte e à destruição", afirmou o papa Francisco.

Ofensiva contra rebeldes

Forças do governo sírio retomaram na sexta (6) à tarde sua ofensiva contra Douma, cidade controlada por rebeldes, após uma trégua de dez dias entrar em colapso devido a um desacordo sobre a evacuação de combatentes da oposição.

A violência recomeçou dias depois que centenas de combatentes da oposição e seus parentes deixaram Douma em direção às áreas controladas pelos rebeldes no norte da Síria. Douma é a última fortaleza rebelde no leste de Ghouta.

Assad já recuperou o controle de quase toda a região, em uma campanha militar apoiada pelos russos que começou em fevereiro, deixando apenas Douma em mãos rebeldes. Após um período de calmaria de alguns dias, as forças do governo voltaram a bombardear Douma na sexta.

Gás que afeta o sistema nervoso

Segundo a BBC, o ataque ocorreu por meio de uma suposta bomba-barril disparada por um helicóptero e contendo gás sarin, um agente tóxico que afeta o sistema nervoso.

Uma porta-voz da Union of Medical Relief Organizations, ONG americana que atua em hospitais sírios, afirmou que há relatos de pessoas com convulsões e boca espumando, sintomas consistentes com a exposição a gás nervoso ou cloro.

Ataques químicos

O suposto ataque de gás em Douma ocorre quase um ano após um outro ataque químico, também não confirmado, na cidade de Khan Sheikoun, no norte da Síria. Dezenas de pessoas morreram.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a ordenar uma ofensiva com mísseis contra uma base aérea síria.

Na época, os governos sírio e russo também negaram a autoria do ocorrido.

Um outro ataque químico no leste de Ghouta, em 2013, matou centenas de pessoas e foi atribuído às forças do governo sírio. Na ocasião, os EUA ameaçaram uma ação militar no país, mas recuaram.

A Síria nega ter usado armas químicas durante os sete anos de guerra civil e diz que eliminou seu arsenal químico em 2013, sob um acordo intermediado pelos EUA e pela Rússia.

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