Por meio de doação das Forças Armadas dos EUA, a artilharia brasileira incorpora seus primeiros blindados do modelo M992A2
Andréa Barretto | Diálogo
O Exército Brasileiro (EB) deu mais um passo em direção à ampliação de sua capacidade de fogo por meio da aquisição de 40 viaturas M992A2. Os equipamentos são provenientes dos Estados Unidos e têm previsão de chegada ao Brasil no segundo semestre de 2018.
As viaturas M992A2 são novidade na artilharia do Exército Brasileiro e foram adquiridas por meio de doação das Forças Armadas norte-americanas |
O M992A2 é uma viatura blindada de transporte especial remuniciadora originalmente do Exército dos EUA. A sua parte interna é construída para guardar a munição que alimenta os obuseiros da família M109, que também estão sendo adquiridos pelo EB e modernizados para a versão M109A5+. “Numa operação, o M992A2 é geralmente empregado de par com um obuseiro M109”, afirmou o Tenente-Coronel André Luís Ferreira Nogueira, adjunto da Seção de Blindados Classe IX, da Diretoria de Material do EB.
Ambos modelos de viaturas – M992A2 e M109 – fazem parte do conjunto de equipamentos militares colocados à disposição para doação pelas Forças Armadas dos EUA, através do programa Foreign Military Sales (vendas militares para o exterior). As unidades do M992A2 que chegarão em 2018 serão as primeiras desse tipo na artilharia do EB. Cada uma delas foi escolhida por uma comitiva técnica do Comando Logístico do EB. A equipe, formada por dois engenheiros e três mecânicos, visitou o local de armazenamento dos veículos nos Estados Unidos em dezembro de 2016.
“Fizemos a seleção dos blindados que estavam em melhor estado de conservação, segundo alguns critérios que estabelecemos, como motor, trem de rolamento e estado das lagartas”, explicou o Ten Cel Nogueira. “Por meio da avaliação desses itens, chegamos a uma nota para cada veículo. Aqueles com as maiores notas foram escolhidos”, acrescentou.
Mesmo estando em boas condições, as viaturas remuniciadoras vão passar por uma manutenção assim que aportarem no Brasil. O objetivo é verificar detalhes, como vazamento em radiador, vazamento de óleo etc. “Não haverá mudanças de projeto no veículo. As intervenções serão apenas a título de revisão e de reparos pontuais que se mostrarem necessários para a operação do material”, informou o Centro de Comunicação Social do Exército.
Essas ações serão realizadas no Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar, organização especializada na manutenção de veículos blindados. Concluída essa fase, as 40 viaturas M992A2 serão encaminhadas para as duas brigadas que também estão recebendo unidades do M109A5+: a 5ª Brigada de Cavalaria Blindada (5ª Bda C Bld) e a 6ª Brigada de Infantaria Blindada, que fazem parte do Comando Militar do Sul do EB.
Trabalho conjunto
Em 8 de março, no porto de Paranaguá, no sul do Brasil, foram retirados de um navio vindo dos Estados Unidos os quatro primeiros obuseiros da versão M109A5+. No total, serão 32 desses obuseiros.
Diferentemente das M992A2, as viaturas M109A5 estão sendo modernizadas em instalações norte-americanas antes de serem despachadas para o EB. Com o aprimoramento, que inclui a mudança de diferentes itens do veículo, os obuseiros passam da versão A5 para a A5+.
Os obuseiros da linha M109 são armamentos pesados chamados de autopropulsados porque são montados em veículos e podem assim ser deslocados no terreno. Esse equipamento é comumente confundido com os canhões. “Mas os canhões realizam tiro direto e os obuseiros realizam o tiro curvo”, apontou o Tenente-Coronel Sanzio Ricardo Rocha Gusmão, comandante do 5º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado, da 5ª Bda C Bld.
Quando estão em operação, os obuseiros da família M109 dependem das viaturas M992A2 para recarregarem a munição. Por isso, o emprego desses dois tipos de blindados é coordenado. No momento do tiro, a viatura remuniciadora posiciona-se bem próxima ao obuseiro. A munição que está no M992A2 é retirada manualmente pelos militares, pela parte traseira da viatura, e passada para a equipe do obuseiro, que carrega a arma.
As munições empregadas são granadas de artilharia de 155 milímetros. Elas podem ser autoexplosivas, iluminativas, fumígenas (que espalham fumaça no ambiente), entre outras, a depender dos objetivos da missão em que os blindados atuam. “O calibre, no entanto, não varia. É sempre de 155 milímetros, porque esse é o calibre do obuseiro”, contou o Ten Cel Nogueira.
Preparo
A guarnição do M992A2 é formada por um motorista e dois militares responsáveis pela retirada da munição de dentro do veículo no momento da operação. Para atuação com o novo blindado, as brigadas preveem treinamento focado principalmente na carga e descarga de munição.
O Ten Cel Nogueira acredita que os militares dessas organizações não terão surpresa em relação à condução dos M992A2, já que estão habituados com a direção de obuseiros M109. Esses dois tipos de blindados – M992A2 e M109 – são montados sobre o mesmo modelo de chassi, quer dizer, possuem a mesma estrutura de direção. O EB possui cerca de 35 viaturas M109 na versão M109A3, adquiridas ao longo dos anos 2000 e empregadas pelas brigadas blindadas.