Uma emigrante síria que vive atualmente na Suíça e preferiu ficar anónima, contou à Sputnik França, sete anos após o início do conflito no seu país, o que ela viveu em 2011.
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Sendo uma representante da elite síria, no início ela não se opunha às mudanças após a longa permanência de Bashar Assad no poder. Mas reconhece que ficou preocupada com a chegada da assim chamada Primavera Árabe. Ela pensou então: "Talvez queiramos derrubar o regime do qual estamos cansados, mas compreendemos que o futuro está ameaçado", tal como compreende hoje em dia.
Raqqa, Síria © AP Photo/ Asmaa Waguih |
Mas, na época, as pessoas já estavam encantadas com a possibilidade de "mudanças democráticas", esperadas a qualquer momento. "Aqueles que viviam no exterior e não viam o que se passava apelavam aos ignorantes para sair às ruas em protesto", nota. A mulher adicionou que até pagavam a algumas crianças cerca de 5.000 libras (328 reais) para que se manifestassem.
Cenário 'pensado com antecedência'
A interlocutora da agência disse: "Vimos como a catástrofe estava se aproximando de acordo com um plano pensado antes", lembrando como se informava sobre as primeiras "vitórias" da oposição e sobre a "libertação" das fronteiras com a Turquia e o Iraque, a partir de onde, segundo ela, vinha o fluxo principal dos militantes do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia).
A emigrante síria também lembrou a visita dos embaixadores francês e norte-americano à cidade de Hama que na época era o centro de descontentamento com as autoridades sírias e onde o diplomata francês expressou apoio aos cidadãos sírios.
Tudo isso cria a impressão não da chegada da democracia, mas da destruição do país. "Vi com meus próprios olhos como estavam destruindo o meu país. Ninguém queria fazer nada: ou por ignorância, ou por terem sido agentes, ou por circunstâncias serem mais fortes do que eles".
Silêncio da mídia
No início de 2012 os ataques terroristas eram um fenômeno permanente. A emigrante síria sublinha que, quando nas cidades europeias os atentados estavam no centro das atenções, os sírios, que sofriam disso cada dia, não interessavam a ninguém.
Segundo ela, tal parcialidade da mídia continua hoje em dia. "A mídia continua a descrever o que se passa nas regiões onde está concentrada a oposição".
Assad não tem direito de sair agora
"Já não uso a palavra 'regime', é o governo eleito pelo povo", reconhece ela, precisando que muitos mudaram de opinião, reconheceram que erraram por não suporem que se chegaria a este ponto.
"Não glorifico as autoridades, sou a favor de reformas. Mas se ele [Assad] sair, deixar o poder agora, será traidor. Ele não tem o direito de se demitir agora. Ele vai trair aqueles que o apoiam, vai trair a memória das vítimas. E se sair, quem o vai substituir?", pergunta.
Ela está convencida de que, mais cedo ou mais tarde, Bashar Assad vai deixar o seu cargo, mas antes disso é necessário "garantir a segurança nas grandes cidades" e estabilizar a situação no país.