Países entre UE e Rússia em meio a competição e incerteza

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Desde o fim da Guerra Fria, Leste Europeu e Ásia Central vivem numa espécie de limbo entre Bruxelas e Moscou. Reunidos na Conferência de Segurança de Munique, especialistas debatem o futuro dessas regiões.


Lewis Sanders IV | Deutsch Welle

O colapso do comunismo e da União Soviética na década de 1990 significou mudanças importantes para o Leste Europeu e para a Ásia Central. Mas os países em ambas as regiões acabaram por se ver numa situação de limbo entre Moscou e Bruxelas.


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Rússia e União Europeia em tempos de relação difícil

Durante a Conferência de Segurança de Munique, que se encerra neste domingo (18/02) na capital bávara, generais de alta patente da Otan, legisladores alemães e as partes interessadas se encontraram para assistir à discussão entre políticos e especialistas sobre o futuro geopolítico do Leste Europeu e da Ásia Central.

Alguns conferencistas disseram estar relativamente otimistas sobre ambas as regiões, não somente sobre os países no meio do caminho, mas também em relação à Rússia e à União Europeia (UE).

O presidente da Armênia, Serj Sargsyan, afirmou que seu país aprendeu que "a competição geopolítica não traz nada de bom", destacando que só é possível garantir progresso a todos os países "combinando interesses" com outras nações.

A questão, disse Sargsyan, não é estar preso entre duas forças políticas. Em vez disso, o que importa é encontrar áreas comuns de interesse entre Armênia, Rússia e UE: "Somente através da cooperação podemos superar as dificuldades circunstanciais".

"Estado de incerteza"

O primeiro-ministro moldavo, Pavel Filip, foi menos moderado em sua avaliação, observando a existência de um "estado de incerteza" no Leste Europeu e na Ásia Central.

Para Filip, reformas domésticas problemáticas, tensões geopolíticas e os diferentes níveis de cooperação militar e econômica com a Rússia estão no cerne dessa incerteza. "Todos os países dessa região enfrentam problemas semelhantes", disse o premiê.

Filip descreveu as tropas russas na região separatista moldava da Transnístria como um empecilho no relacionamento do país com Moscou. "Nós gostaríamos de construir relações equilibradas" com a Rússia, afirmou ele, mas somente após a "retirada das tropas e das munições russas".

Quanto ao oeste, o primeiro-ministro observou desenvolvimentos positivos no relacionamento da Moldávia com Bruxelas, incluindo um acordo de associação com a UE que permitiu o fortalecimento do sistema judiciário e trouxe mais transparência ao país.

O empenho decisivo da Moldávia em direção à UE deu ao país um objetivo: a adesão ao bloco europeu. Mas para outros Estados, ressaltou Filip, continua havendo uma "falta de direcionamento estratégico".

"Rússia é Europa"

Konstantin Kosachev, presidente do comitê de assuntos internacionais na câmara alta do Parlamento russo, aproveitou o evento para criticar a UE por supostamente não cumprir a Carta de Paris de 1990, que estabeleceu as bases para as relações entre a União Soviética e o Ocidente no final da Guerra Fria.

"A era do confronto e da divisão da Europa terminou", declarou Kosachev, citando a Carta. Ele acrescentou, no entanto, que a situação atual se encontra "tão longe" dos princípios da Carta "quanto possível".

O legislador russo também questionou aqueles que posicionam a Rússia fora do continente europeu. "A Europa está fortemente dividida. Mas não posso aceitar [...] que se descreva a Europa em um lugar e a Rússia em outro, fora da Europa. Rússia é Europa", afirmou.

UE e Rússia em competição geopolítica

Kosachev criticou a Otan e a UE pelo reflexo dessa exclusão geográfica da Rússia nas suas relações com Moscou. "Ambas as organizações – com todo o respeito – não são inclusivas, elas são exclusivas", disse ele. "Todo e qualquer país da Europa Central e do Leste Europeu teve a chance de se aliar a essas organizações, mas certamente há uma exceção e essa exceção é a Rússia."

O comissário para Negociações de Ampliação da UE, Johannes Hahn, rebateu a afirmação dizendo que Moscou já teve oportunidade para iniciar o processo de adesão a ambas as organizações.

"Corrija-me se eu estiver errado, mas houve um convite à Rússia no início dos anos 1990 para se aliar à Otan. E houve uma declaração clara da Rússia de que nunca se uniria à UE porque percebeu que o bloco europeu se autobloqueava, e tudo bem – respeitamos isso", disse Hahn.

Ainda não está claro se a Rússia foi convidada a se juntar à aliança militar ou ao bloco regional sempre em expansão. Mas, para Kosachev, passado é passado, e Bruxelas e Moscou agora "têm que reconhecer" que estão em "competição" uma com a outra.

Seguindo o pensamento de Kosachev, Alexey Pushkov, ex-chefe do comitê de assuntos internacionais da câmara baixa do Parlamento russo, disse à DW: "Há uma forte tendência na aliança ocidental de ver a Rússia como adversária".

O diálogo entre Kosachev e Hahn, no entanto, soou franco e honesto. Isso, ao menos, parece um passo na direção certa.

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