A ONU pediu nesta terça-feira uma pausa humanitária de pelo menos um mês no conflito armado na Síria para atender a centenas de milhares de sírios em áreas cercadas ou de difícil acesso e para evacuar feridos e doentes.
EFE
O residente da ONU na Síria e coordenador humanitário, Ali al Zatari, e outros representantes das Nações Unidas em Damasco fizeram este apelo perante uma situação que consideram "extrema" em várias partes do país, onde as agências humanitárias não têm acesso ou é muito perigoso entrar devido aos explosivos.
Hospital Kafr Nabl em Idlib, na Síria, em foto de 5 de fevereiro. EFE/ Yahya Nemah |
A ONU pede a "cessação imediata das hostilidades durante pelo menos um mês em toda Síria para poder entregar ajuda humanitária e serviços, evacuar os doentes graves e feridos e aliviar o sofrimento dos sírios", declarou em coletiva de imprensa o porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários, Jens Laerke.
Por sua vez, o representante do Unicef na Síria, Fran Equiza, declarou por telefone que apenas em janeiro morreram 60 crianças nos enfrentamentos armados em Ghouta Oriental, Damasco, Idlib e Afrin.
A ONU considera a situação especialmente problemática em Afrin, onde a Turquia lançou uma intervenção militar para acabar com a milícia curda que domina este enclave sírio do extremo noroeste do país, as Unidades de Proteção do Povo (YPG).
"Temos informações sobre pessoas cercadas" em Afrin, declarou Laerke, já que existe um suposto bloqueio à saída por parte da população que tenta fugir.
Até o momento apenas 380 famílias puderam chegar a localidades próximas e aos arredoras da cidade síria de Alepo, enquanto que milhares de pessoas se encontram deslocadas dentro de Afrin.
Em Al Hasakah, no nordeste da Síria, se chegou a um acordo para permitir que alguns parceiros da ONU retomem seu trabalho sobre o terreno após um mês em que a assistência humanitária chegou praticamente a ficar suspensa.
No entanto, este acordo só durará dois meses e cobre um número limitado de agências humanitárias que podem exercer sua tarefa.
"Precisamos de acesso sustentado" para todos os parceiros humanitários com o fim de chegar "sem restrições" aos sírios refugiados em acampamentos e outros lugares, disse Laerke.
Já em Raqqa, as agências podem entrar na cidade completamente devastada, segundo o porta-voz, mas as condições de segurança após a derrota do Estado Islâmico (EI) não lhes permite trabalhar.
"A falta de limpeza dos explosivos torna impossível fornecer ajuda humanitária dentro da cidade", explicou Laerke.
A situação também é crítica na província de Idlib, no noroeste do país, onde as operações militares provocaram o deslocamento de dezenas de milhares de civis, alguns dos quais tiveram que fugir várias vezes das hostilidades.
Segundo Equiza, apenas entre 15 de dezembro e 22 de janeiro cerca de 250.000 sírios foram deslocados em Idlib e seus arredores.
A ONU adverte que o governo poderia não ser capaz de resistir a um ressurgimento da violência dada a elevada concentração de pessoas deslocadas.
Ao mesmo tempo, as localidades de Fua e Kafraya, em Idlib, seguem cercadas por grupos armados e não têm acesso a provisões humanitárias e tratamento médico, indicou Laerke.
No sul, a equipe humanitária da ONU na Síria não tem acesso aos civis no acampamento de Al Rukban, onde a última vez que chegou um comboio com alimentos e outros produtos através da fronteira jordaniana foi no início de janeiro.