Em janeiro, homem apontou pistola a recrutas pedindo silêncio, e tiros foram disparados por 2 vezes em direção ao quartel, que fica ao lado da comunidade Kelson's. Leito de ambulatório foi atingido.
Por Marco Antônio Martins | G1 Rio
A Marinha abriu inquérito para apurar ameaças a militares e tiros disparados para dentro do Centro de Instrução Almirante Alexandrino (CIAA), na Penha, Zona Norte do Rio. Os episódios investigados aconteceram nos dias 21 e 24 de janeiro deste ano, de acordo com documento obtido pelo G1. Um leito do ambulatório chegou a ser atingido pelos tiros, mas estava vazio e ninguém se feriu.
Comunidade Kelson's e Centro de Instrução da Marinha ficam lado a lado, na Penha (Foto: Fernanda Garrafiel/Arte/G1) |
O CIAA é considerado o maior e mais diversificado centro de formação de praças da Marinha brasileira e é separado por um muro da comunidade da Kelson's, controlada pelo Comando Vermelho. A Marinha informou, em nota, que reforçou a segurança interna para evitar a "ocorrência de fatos similares".
Segundo relatos de militares, numa manhã de janeiro, um criminoso armado com uma pistola sentou no muro que separa o quartel da favela e ordenou que os recrutas parassem a atividade física porque o barulho estava incomodando. Em outro dia, tiros foram disparados para dentro da unidade e atingiram as instalações do centro (veja detalhes abaixo).
Os militares suspeitam que o homem que fez as ameaças de cima do muro seja integrante da facção que controla a Kelson's. O inquérito que investiga os fatos foi aberto pela Marinha no fim do mês passado e tem prazo de 30 dias para ser concluído, com possibilidade de prorrogação.
Na manhã desta terça-feira (6), imagens feitas pelo Globocop mostraram homens armados com fuzis na principal via de acesso à favela da Kelson's. O local onde os bandidos armados ficam de vigia está a uma pequena distância do muro do Centro de Instruções da Marinha. Algumas horas depois, um dos suspeitos foi preso pela polícia na região.
Medidas de segurança
Além de reforçar a segurança no quartel, a Marinha informou que outra medida tomada tem sido manter equipes de socorro de prontidão, diariamente, caso algum incidente aconteça com os recrutas.
Ameaça de traficantes é relatada em documento da Marinha (Foto: Fernanda Garrafiel/G1) |
A ameaça a alunos de uma unidade militar acontece num momento em que as Forças Armadas têm auxiliado as polícias do RJ no combate à violência.
Após as ocorrências, as áreas dentro do quartel mais próximas à comunidade passaram a ser consideradas "sensíveis" pelos militares. De acordo com o relato de integrantes da Marinha, os disparos vieram de um ponto entre os fundos da favela Kelson's e a cooperativa de pesca que há na comunidade.
As ameaças relatadas no documento:
- 21 de janeiro: Às 8h30, cerca de 500 alunos faziam a atividade física quando foram surpreendidos por um homem armado com pistola. Os instrutores decidiram retirar a tropa e deixar o local.
- 24 de janeiro: Foram disparados tiros para o interior do CIAA, e instrutores e alunos precisaram se proteger. No mesmo dia, dois tiros atingiram o ambulatório naval. Um dos disparos acertou um leito de emergência e passou próximo de um cilindro de oxigênio. Ninguém ficou ferido.
O CIAA está numa localidade considerada estratégica: o seu acesso principal é na Avenida Brasil, a via expressa mais importante do Rio. Os fundos está a Baía de Guanabara. Do quartel é possível se ver a Linha Vermelha, outra importante via expressa.
Visita de Madre Teresa
A comunidade da Kelson's surgiu há 70 anos numa ocupação de oito pescadores. Por estar ao lado de uma base militar, ganhou, inicialmente, o nome de comunidade Marcílio Dias, herói da Batalha Naval do Riachuelo.
O grau de pobreza extrema do local levou a comunidade a ser visitada por Madre Teresa de Calcutá, em 1982, quando a missionária esteve no Brasil.
Atualmente, a Kelson's, nome que passou a ser chamada por causa da fábrica de PVC que há no local, tem 12 mil moradores. A comunidade é dominada pela facção de tráfico de drogas Comando Vermelho.
De acordo com policiais do 16º Batalhão (Olaria), o chefe do tráfico no local é Geraldo Francisco do Carmo Júnior, o Godô, que está preso. Ele é acusado pelo Ministério Público Estadual de comandar ações para o roubos de carga e tráfico de drogas.