Os EUA estão prontos para um longo conflito com o Irã. De acordo com o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Herbert Raymond McMaster, a primeira metade do ano de 2018 é o melhor período para começar a pressionar a República Islâmica.
Sputnik
Para cumprir sua meta, Washington precisa de apoio por parte da União Europeia, contudo, os europeus não pretendem confrontar com o Irã.
Bandeiras dos EUA e Irã © AP Photo/ Carlos Barria |
'Aquilo que beneficia aos EUA, prejudica os interesses da Europa'
Além do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), que ainda mantém seu controle em diversas regiões da Síria, o Irã é o principal adversário da Administração de Donald Trump. Em 2017, a Casa Branca qualificou a República Islâmica como o "principal patrocinador do terrorismo no mundo", dando a perceber que Washington está considerando a introdução de novas sanções. O presidente dos EUA, Donald Trump está ameaçando Teerã de revisar o acordo nuclear. Caso o acordo seja anulado, as limitações comerciais podem afetar, além da própria República Islâmica, os países que colaboram na área comercial com o Irã.
Esta opção definitivamente não agrada a União Europeia, cujas empresas já contribuíram com milhares de dólares na economia iraniana, explicou Semen Bagdasarov, especialista em assuntos do Oriente Médio.
"Quanto a este assunto, as discrepâncias entre os europeus e norte-americanos são muito sérias. Por exemplo, Teerã fechou um contrato com franceses sobre a renovação de toda a frota aérea do país. Paris e Berlim estão ativamente investindo na mineração de hidrocarbonetos iranianos. Sendo assim, o negócio europeu no Irã possui grandes perspectivas, contudo, novas sanções ameaçam a colaboração estreita entre os dois lados. Neste sentido, os interesses dos EUA e da União Europeia são completamente diferentes", explicou.
As discrepâncias entre a UE e os EUA são de natureza econômica. Diferente das empresas europeias, empresários norte-americanos praticamente não investiram nada na República Islâmica. Caso Trump aprove novas sanções contra Teerã, seus conterrâneos não serão afetados, porém, o contrário acontecerá com parceiros europeus dos Estados Unidos, e assim empresas da UE perderão bilhões de dólares.
Tanque aríete contra Teerã
Contrapondo ao Irã, Washington aposta no apoio dos dois Estados no Oriente Médio — Israel e Arábia Saudita. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, mostrou publicamente os destroços do drone iraniano derrubado recentemente sobre o território controlado por Tel Aviv. Posteriormente, Israel atacou alvos iranianos na Síria. Damasco respondeu derrubando o caça israelense F-16.
Netanyahu encara sério o agravamento do confronto.
"Agiremos, caso seja necessário, não somente contra aliados do Irã, mas também contra ele mesmo", afirmou o premiê israelense, convidando os diplomatas do Teerã a tirarem os destroços. No Irã, os fragmentos do material bélico derrubado não gerou nenhum interesse. O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, qualificou o discurso de seus oponentes como 'apresentação de circo' e não reagiu à provocação.
Contudo, Teerã respondeu de forma implícita. A edição iraniana Times of Tehran publicou o editorial “Observações de McMaster como exemplo de iranofobia", já que o ministro Zarif visitou a Rússia procurando por novos aliados contra os EUA.
'EUA são incapazes de negociar'
Durante a entrevista à Sputnik, outra analista, Irina Fedorova, opinou que o cancelamento do acordo nucelar com o Irã e reinício da pressão sobre o país não corresponde aos interesses europeus.
"O rompimento do acordo nuclear [do qual Trump está insistindo] ameaça todo mundo, uma vez que impossibilitará o acordo com a Coreia do Norte, que possui o próprio programa nuclear e problemas semelhantes ao Irã. Uma bomba relógio será colocada sob o regulamento diplomático dos impasses com este país", explicou.
"Esse quadro não encaixa nos interesses […] da Europa. Além disso, é de especial importância para os europeus regressarem ao mercado iraniano, perspectivo e crescente, mas os EUA impedem de fazê-lo. Por exemplo, quanto ao contrato de fornecimento de aviões que a empresa francesa obteve — as peças destas aeronaves são produzidas nos EUA, e caso Teerã introduza sanções, o grande acordo será ameaçado", assinalou a especialista.
Segundo Fedorova, do ponto de vista estratégico a revisão do acordo nuclear não beneficiará os EUA, e contra esta evolução de eventos, democratas estão se expressando.
"No momento, Washington está tencionando recuperar suas posições no Oriente Médio, mas a saída do acordo não favorece esta iniciativa. Fica parecendo que os EUA são incapazes de negociar: durante o mandato de um presidente eles firmam o acordo, e quando chega outro, o abandonam", ressaltou Fedorova.