A Missão da ONU no Mali é a força de paz que corre mais perigo na África e inclusive é a mais arriscada na história desses contingentes, concordam entidades e meios de imprensa.
Prensa Latina
Reprodução |
Essa força estabeleceu-se em abril de 2013 no país do Sahel para apoiar a autoridade central afetada desde 2012, quando um grupo de militares deu um golpe de Estado contra o presidente Amadou Toumani Touré, a quem consideravam ineficiente para deter a ofensiva dos movimentos separatistas tuareg na região setentrional. Desde então, o Mali atravessou um processo muito complexo para restabelecer as instituições e recuperar suas fontes de legitimidade. Deve-se reiterar que isso foi consequência da guerra desencadeada na Líbia pela Organização do Tratado do Atlântico Norte contra o líder Muamar Gaddafi, assassinado em dezembro de 2011.
Além do desequilíbrio líbio, uma das sequelas da campanha contra Gadafi foi o levantamento separatista tuareg na região setentrional do Mali, ao qual se vincularam grupos extremistas muçulmanos, que depois sequestraram a sublevação e estabeleceram seu modus operandi rigoroso.
Esse desvio para a opção integrista avançou até que foi enfrentada pela operação franco-africana Serval.
A 17 de janeiro de 2012, guerrilheiros tuareg atacaram posições do governo malinês e no dia seguinte enfrentaram os militares em Aguelhok e Tessalit, perto da fronteira argelina, e depois reforçaram suas ações, que alguns analistas consideraram que incluía uma grande ofensiva para o sul, isto é, em sentido à capital, Bamako.
Os meios de imprensa ponderaram esse levantamento armado como um efeito colateral da guerra contra a Líbia, e inclusive indicaram certa semelhança com o caos gerado nesse país com a intervenção armada de potências ocidentais e nações próximas contra o governo de Gaddafi.
Mais especificamente, Serval teve entre seus objetivos erradicar os destacamentos armados fundamentalistas e dissuadir toda tentativa de avançar para Bamako, bem como desarticular qualquer auge do integrismo (que se percebe como mais perigoso que o ideal separatista tuareg centrado no território que denominam Azawad).
A reivindicação tuareg da região de Azawad refere-se a uma zona relacionada a quatro países: Argélia, Líbia, Níger e Mali. É um território de 850 mil quilômetros quadrados, e por uma parte devém em um assunto de soberania e pela outra em uma demanda tendente a criar atrito entre os Estados do Sahel.
A operação militar franco-africana (2013-2014) dispersou os destacamentos integristas, enquanto a guerrilha tuareg e as autoridades de Bamako tentavam encaminhar um processo de paz e é nesse contexto em que se estabelece a Minusma.
Atualmente, a Minusma enfrenta um contexto de deterioração da segurança nas regiões centrais do Mali e quando faltam poucos meses para as eleições presidenciais, as Nações Unidas se propõem a reconsiderar a configuração da presença dessa Missão que conta com mais de 11 mil efetivos, 10 mil deles soldados.
ESCALADA DE VIOLÊNCIA
Em toda essa sobreposição de cenários bélicos esteve a Minusma, agora alvo de ataques de facções que sobreviveram à operação Serval e de formações terroristas inovadoras como a Frente de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (Jamaat Nusrat Al Islam wa Al Muslimin), do fundamentalista malinês Iyad Ag Ghali.
Segundo o relatório mais recente do secretário geral da ONU, António Guterres, sobre Mali, em decorrência do ano passado a situação de segurança piorou e os ataques contra a Minusma aumentaram, da mesma forma que contra as forças de defesa do país.
De 2013 até agora, morreram 155 capacetes azuis nesse Estado da faixa do Sahel, na África ocidental, conforme meios de imprensa.
Não obstante, anunciaram-se para este semestre as eleições presidenciais no país do Sahel, sobre o qual analistas políticos opinam que o primeiro item necessário para uma consulta tão importante é um espaço seguro, a fim de avançar em um exercício transparente e democrático.
Conquanto a construção das instituições seja parte do conteúdo ao qual deve colaborar a Missão da ONU no Mali, a questão é se essa formação de capacetes azuis e as demais forças de segurança estão em condições de garantir desde agora o sucesso do processo eleitoral.
Jean-Pierre Lacroix, chefe das operações de manutenção da paz da ONU, manifestou durante uma reunião do Conselho de Segurança que as próximas eleições presidenciais no Mali significarão o início de um novo capítulo na estabilização desse país.
No entanto, a pergunta persiste, principalmente porque o país requê-lo para progredir não apenas em seu processo de pacificação, como também quanto a reconciliação nacional, um aspecto que em certa medida determinou o início do processo de paz em 2015 e que ainda não funciona a plenitude.
Os ataques terroristas atingem hoje principalmente as regiões central e setentrional do Mali, porque ainda que os extremistas tenham sido em teoria expulsos de suas posições em janeiro de 2013, na realidade permanecem operando em extensas áreas do país que escapam ao controle estatal.
O general Jean-Paul Deconinck, chefe militar da Minusma desde abril, reconheceu que em 2017 enfrentaram a perda de 37 homens, o que qualificou de enorme e declarou ao jornal Le Fígaro que 'nosso esforço consiste em reduzir este número de perdas pressionando a equipe e remodelando a força'.
ELEIÇÕES À VISTA
Conforme Lacroix, o que ocorre no Mali é 'uma corrida contra o tempo', uma crescente insegurança às custas de centenas de vidas civis, a erosão dos direitos cidadãos e o agravamento da situação humanitária.
De acordo com estimativas a respeito, 4,1 milhões de malineses (22 por cento da população), possivelmente enfrentem insegurança alimentar em 2018.
Não se descarta que a percentagem de necessitados alcance entre 30 e 40 por cento da população no norte e o centro do país, e se referindo a todo esse panorama de dificuldades Lacroix precisou que o objetivo da Minusma é criar condições para as eleições e, no futuro, para o processo de paz.
Apesar dessas adversidades, o Mali prepara-se para realizar neste ano eleições presidenciais e legislativas; na primeira dessas consultas não se descarta a presença como candidato do atual mandatário, Ibrahim Boubacar Keita, e talvez também se candidate o ex-primeiro-ministro, Abdulaye Idrisa Maiga.
Essas são conotadas figuras do período de transição malinesa, iniciada com as eleições de 2013, que sucederam ao golpe militar de 2012.
O presidente Keita, eleito em agosto de 2013 por cinco anos, será provavelmente candidato na consulta prevista para o mês de julho, e é seguro que enquanto articule sua campanha eleitoral também fará planos para conseguir um melhor controle onde a insegurança ameace a institucionalidade.