Com a Lei de Contenção de Adversários da América Através de Sanções (Caatsa, na sigla em inglês) Washington pode começar a aplicação de um novo tipo de sanções. Desta vez, estariam seletivamente dirigidas contra aqueles que optarem por comprar armamento russo.
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"Estas sanções devem onerar a Rússia pelas suas ações. Impedindo os outros países de comprar equipamento militar e de inteligência russo, nós privamos Rússia dos lucros daqueles negócios que ela usaria para continuação de sua campanha internacional de má influência e desestabilização", destaca o comunicado do Departamento de Estado.
Sistema de defesa antiaérea russo S-400 Triumph © Sputnik/ Grigory Sysoev |
O especialista em assuntos de armamentos Andrei Frolov compartilhou com Gazeta.ru que ainda é cedo para ver até que ponto serão eficazes essas advertências, mas já se podem deduzir algumas de suas possíveis consequências.
Imagem tóxica
Tanto Moscou como Washington estão presentes nos mesmos segmentos do mercado de armamento global, só que em diferentes regiões. Para os EUA será difícil afastar a Rússia de seus parceiros tradicionais como a China, a Índia, o Vietnã ou a Argélia, mas, provavelmente, eles farão o possível para frear seu avanço em mercados potenciais, e isso é um jogo de longo prazo, aponta Frolov.
A estratégia de isolamento da indústria militar russa já deu seus frutos entre os países membros da OTAN. Em particular, a Rússia já não é convidada para exposições de armas e equipamentos militares como a de Le Bourget, na França, e a de Farnborough, no Reino Unido. Os britânicos já anunciaram que a Rússia não será admitida para estar presente no Salão Aeronáutico de Farnborough de 2018.
Com suas sanções Washington coloca uma simples escolha aos potenciais clientes: ou comprar armamento russo e se arriscarem a perder o favor dos EUA, ou optar pelo norte-americano, mais caro, mas sabendo que terão sempre confiança em dia de amanhã. Não obstante, isso é uma espécie de "pacto com o diabo", indica o especialista. Como exemplo, ele lembrou um caso recente, quando Washington retirou unilateralmente os especialistas contratados pelo Iraque para a manutenção técnica de seus tanques Abrams.
O especialista peruano Martín Manco concorda com Frolov e, sobre a possível compra de novos MiG-29 por parte de Lima, destacou à Sputnik Mundo que "comprar aos americanos é um problema muito delicado. Quando ficam bravos contigo já não querem vender os motores, peças de reposição, mísseis ou não te querem dar as atualizações. E, obviamente, fazem teus aviões ficar em terra".
Enquanto isso, o vice-primeiro-ministro da Rússia, Dmitry Rogozin, estima que a imposição de sanções contra a indústria de defesa russa pode até ser benéfica para o país.
De acordo com Rogozin, "para a Rússia pode ser útil" e promete "resultar em novas capacidades, enquanto para a Europa, nossos parceiros europeus, nossos vizinhos, não é rentável". Devido às sanções dos Estados Unidos contra o complexo militar-industrial russo, as empresas europeias sofreram prejuízos de centenas de bilhões de dólares, afirmou Rogozin.
Um mundo dividido
O ex-chefe de armamentos do Ministério da Defesa da Rússia, general Anatoly Sitnov, explicou à Gazeta.ru que os EUA estão perdendo a hegemonia global que caiu em suas mãos após a dissolução da URSS. Em questões econômicas eles estão cedendo espaço para a China, enquanto no setor de armamento a Rússia tem-se posicionado como um parceiro que sempre cumpre com suas obrigações. Este cenário estabelece as bases de um mundo multipolar em todos os ramos da atividade humana.
"Em muitos aspetos a Rússia é o regulador deste processo, já que nunca foi fixado o objetivo de colocar nenhum país em uma posição de dependência. É por isso que há muitos no mundo que desejam fazer negócios conosco. A aquisição de armas confiáveis, eficazes e econômicas, é muitas vezes um dos meios mais importantes para preservar a soberania de um Estado e de sua identidade nacional", sublinha Sitnov.
A estratégia de pressão dos EUA é, provavelmente, dirigida principalmente contra a Turquia, Qatar e Arábia Saudita, mas não contra países como a Índia, aponta o diretor do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias, Ruslan Pukhov. Segundo o especialista, Washington dificilmente correrá o risco de manchar suas relações com Nova Deli, que nos EUA é percebida como um contrapeso regional a Pequim.