O presidente da Autoridade Palestiniana defendeu hoje no Conselho de Segurança da ONU a "criação de um mecanismo multilateral" para interceder nas negociações de paz com Israel, rejeitando uma mediação única por parte dos Estados Unidos.
Pars Today
Durante uma longa e rara intervenção diante daquele alto órgão das Nações Unidas, Mahmud Abbas defendeu que a solução para o conflito no Médio Oriente não pode depender de "um só país" e propôs regular a questão palestiniana tendo como ponto de partida "uma conferência internacional" em meados deste ano.
Mahmud Abbas | Reprodução |
"É essencial criar um mecanismo multilateral através de uma conferência internacional" para ter paz no Médio Oriente, afirmou o líder palestiniano.
A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) reagiu entretanto e manifestou apoio à proposta de Abbas.
"É uma oportunidade histórica para a comunidade internacional apoiar a conquista de uma paz justa e duradoura e para pôr fim a 51 anos da ocupação de Israel de terras e de vidas palestinianas", afirmou o secretário-geral da OLP, Saeb Erekat, num comunicado.
A proposta de Abbas surge em resposta à decisão dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, um passo assumido em dezembro último pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, que o líder palestiniano voltou hoje a criticar fortemente.
"Queremos que Jerusalém esteja aberta às três religiões monoteístas", sublinhou Abbas, afirmando que Jerusalém também é a capital do futuro Estado palestiniano.
Após o anúncio de Trump, Mahmud Abbas descartou os Estados Unidos como mediador do processo de paz para o Médio Oriente, que está num impasse há vários anos.
Na mesma intervenção no Conselho de Segurança, Abbas pediu aos países que ainda não reconheceram o Estado palestiniano para darem esse passo.
Dos 193 Estados-membros que integram as Nações Unidas, 138 já reconheceram o Estado palestiniano, segundo recordou o presidente da Autoridade Palestiniana.
"Regressamos ao Conselho de Segurança e pedimos esta proteção" de um reconhecimento pleno e inteiro de um Estado, disse Mahmud Abbas.
"Reconhecer o Estado da Palestina não vai contra as negociações", insistiu o líder palestiniano, lançando um último apelo: "Ajudem-nos".
Após a intervenção, Mahmud Abbas foi fortemente aplaudido. O líder palestiniano saiu depois da sala e não assistiu à resposta do embaixador de Israel junto das Nações Unidas.
A questão de Jerusalém é uma das mais complicadas e delicadas do conflito israelo-palestiniano, um dos mais antigos do mundo.
Israel ocupa Jerusalém oriental desde 1967 e declarou, em 1980, toda a cidade de Jerusalém como a sua capital indivisa.
Os palestinianos querem fazer de Jerusalém oriental a capital de um desejado Estado palestiniano, coexistente em paz com Israel.
Jerusalém é considerada uma cidade santa para cristãos, judeus e muçulmanos.
A Palestina é desde 2012 "Estado observador não membro" da ONU, estatuto que lhe permite integrar as agências da organização internacional e reunir com o Tribunal Penal Internacional (TPI). Mesmo assim, não é membro de pleno direito das Nações Unidas.
O estatuto de membro passa por uma recomendação do Conselho de Segurança à Assembleia-geral da ONU. Mas, os Estados Unidos, um dos principais aliados de Israel, é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e tem direito de veto.