Correspondente militar russo, Kirill Romanovsky, já visitou a cidade de Afrin por quatro vezes desde o início da guerra, e agora pretende ir à cidade mais uma vez.
Sputnik
Segundo ele, a operação de Ancara em Afrin síria não será "passeio fácil", tanto para os militares turcos como para o Exército Livre da Síria.
Militares turcos próximos de Afrin, Síria © REUTERS/ Khalil Ashawi |
Falando com a Sputnik Alemanha, Romanovsky destacou que os primeiros a sofrer com o decorrer da operação turca, que ainda não deu resultados inequívocos, são os moradores civis. Segundo estimativas do correspondente, este conflito não estará terminado em breve, os combates, de acordo com sua suposição, se estão realizando nas montanhas do norte e no sul de Afrin.
"Nestas montanhas há muitas áreas fortificadas curdas, tais como Qestel Cindo, no noroeste. Fomos lá duas vezes. Há de destacar que lá se pode aguentar bem tranquilamente até mesmo ataques aéreos", lembra o jornalista.
Além disso, apontou, vale entender que as tropas terrestres turcas participam da operação de modo bastante moderado. "A força principal não são soldados turcos, mas as chamadas tropas oposicionistas. No entanto, não se pode considerá-las como as forças mais capazes para o combate na Síria", afirmou Romanovsky.
Posição curda
A reação contida da comunidade internacional quanto ao conflito entre a Turquia e as formações curdas, que são consideradas aliadas dos EUA na luta contra Daesh (grupo terrorista, proibido na Rússia), pode ser explicada pela falta de uma posição clara por parte dos próprios curdos.
"É que a comunidade internacional ainda não pode avaliar as vantagens de uso dos curdos no quadro da situação atual. Por um lado, os curdos sírios lutam contra o Daesh, por outro, Turquia, que é a segunda maior força militar na OTAN, chama os curdos de terroristas", diz.
A comunidade internacional observa pacientemente o que está acontecendo e espera por um choque entre as opiniões de Moscou e Washington no que diz respeito à situação em Afrin. Os EUA e Rússia, por sua parte, esperam que os curdos formulem sua posição.
"Se os curdos se apresentarem a favor de Damasco, eles serão apoiados pelos russos. Se [os curdos] se apresentarem definitivamente contra, então contarão com certo apoio por parte dos EUA", opinou o jornalista russo.
'Não tem armas alemães em Afrin'
Romanovsky não confirma a afirmação que as formações curdas usam armas alemãs. Segundo ele, nessa relação se trata provavelmente dos curdos iraquianos.
"Nunca vi, pelo menos nesta região, armas alemãs. Mas os curdos iraquianos recebem diretamente apoio militar sob forma de armas alemãs. Quando estive no norte do Iraque, vi quase em todos os lugares da linha da frente produção da Heckler & Koch."
A organização turca União dos Democratas Turco-Europeus (UETD) afirmou em entrevista à Sputnik Alemanha que a operação militar se destina a proteger a integridade da Síria. Mas Romanovsky, pelo contrário, acredita que a soberania e integridade síria estão ameaçadas devido à intervenção turca.
"Os turcos consideram o norte da Síria no quadro da guerra como sua esfera da influência. E se finalmente eles conseguirem entrar em Afrin e, possivelmente, em outros cantões, eles permanecerão lá. E assim será necessário um novo diálogo com Damasco para saber o que fazem lá os turcos e porque não querem deixar esse território", frisou.
Papel da Rússia
A Rússia tenta, com uso do "pau turco", estimular os curdos de Afrin para o diálogo com Damasco.
"A preservação do Estado sírio era desde o princípio o objetivo principal da presença russa no quadro do conflito. Agora, é necessário esperar a reação dos curdos. Em qualquer caso, este conflito não será um passeio fácil nem para o Exército Livre da Síria, nem para Forças Armadas turcas", adverte Romanovsky.
De acordo com o Centro Sírio de Monitoramento dos Direitos Humanos, desde início da ofensiva turca em Afrin morreram 46 civis, entre eles 13 crianças. Segundo dados apresentados pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sete soldados turcos e 13 combatentes do Exército Livre da Síria resultaram mortos no âmbito da operação. Os defensores dos direitos humanos falam em mais de 60 combatentes do Exército Livre da Síria. As Forças Armadas turcas anunciaram a neutralização de 484 militantes curdos. As formações curdas não confirmam estes dados. Os observadores falam de 59 mortos entre os combatentes curdos.