Alemanha é conhecida como reconciliadora e mediadora da paz, mas país é também grande exportador de armamentos, como tanques que a Turquia usa agora contra curdos na Síria. Berlim tem que se decidir.
Jens Thurau | Deutsch Welle
Tanques de fabricação alemã em ação sob comando turco contra curdos na Síria. São imagens perturbadoras que chegaram até nós nos últimos dias. E elas mostram um dilema que afeta a política externa alemã. A Alemanha reunificada, tradicionalmente reconciliadora, purgada pela história, pensando em contextos internacionais, é ao mesmo tempo uma grande exportadora de armamentos.
Tanque alemão do tipo Leopard usado por turcos em ofensiva contra curdos na Síria |
Há pouco foi anunciado que, nos últimos anos, a Alemanha exportou tantas armas, especialmente para países fora da União Europeia (UE) e da Otan, como nenhum outro governo alemão jamais o fez.
Mas a situação era bem diferente, quando o atual ministro do Exterior e vice-chanceler federal, o social-democrata Sigmar Gabriel, prometeu, ainda como ministro da Economia, lidar cautelosamente com a exportação de armas. E toda essa situação fica ainda mais complicada quando, como visto nas últimas semanas, ambas as atitudes se justapõem.
Gabriel havia insinuado há apenas três semanas que o governo alemão poderia concordar com o desejo turco de modernizar os tanques Leopard na Turquia. O pano de fundo foi o relativo degelo nas relações turco-alemãs após meses de arrefecimento. O ativista alemão de direitos humanos Peter Steudtner, preso na Turquia sem acusação e sob a abstrusa suspeita de terrorismo, foi libertado. Também a intérprete e tradutora Mesale Tolu foi, ao menos, posta em liberdade.
Gabriel viu a sua postura confirmada: aumentar a pressão econômica, ao mesmo tempo mantendo conversas – essa é a melhor receita contra o regime autocrático do presidente Erdogan. E então ele jogou um pouco com o desejo dos turcos de modernizar os tanques alemães. Agora, que ficou sabido que os turcos usam o equipamento militar alemão na vizinha Síria, de repente se anuncia que governos somente de transição não podem decidir sobre isso. E ainda: para Berlim está claro que não se devem fornecer armas para regiões de conflito.
Mas este é o antigo dilema de qualquer fornecimento de armas: ninguém pode garantir que os equipamentos militares sejam usados apenas para os fins prometidos pelos compradores. Mas guerras ofensivas não devem, de modo algum, fazer parte de tais fins. Em outras palavras, é hora de repensar as exportações de armas alemãs realisticamente, mas de forma consequente.
Fornecimento de armas para países como Egito e Arábia Saudita não podem se conciliar com os objetivos da política externa alemã. As exportações para a Turquia, um membro da Otan, estão sujeitas a uma base diferente, é verdade. Mas, pelo menos no momento, elas devem ter uma importância inferior, não podendo ser usadas como trunfos, já que outros objetivos (como a libertação de cidadãos alemães presos injustamente) devem ser alcançados. A situação atual mostra a rapidez com a qual tais exportações perdem qualquer fundamento.