O projeto das Corvetas Classe Tamandaré virou, no setor de Material da Marinha do Brasil (MB), um “caldeirão” que aceita – e ferve com – muitos “temperos”.
Roberto Lopes | Poder Naval
Recentemente chamou a atenção de alguns importantes oficiais, sediados no Rio, a notícia dada, quarta-feira da semana passada, pelo correspondente do Grupo Edefa no Chile, Roberto Sandoval Santana,¹ de que, no estaleiro estatal chileno ASMAR (Astilleros y Maestranzas de la Armada), a construção de uma fragata de desenho alemão Blohm & Voss da classe Meko A200, de 3.400 toneladas (a plena carga), pode não ultrapassar os 313 milhões de dólares.
Fragata El Radii, Meko A200 da Argélia |
Conforme apurou o Poder Naval, esse é, precisamente, o sonho de alguns militares da MB.
Eles imaginam que a classe Tamandaré, desenvolvida a partir do projeto de algum renomado estaleiro estrangeiro – e com o primeiro navio fabricado fora do país –, possa situar-se em uma faixa de custo entre 270 e 320 milhões de dólares.
Algo bastante significativo já que, durante três ou quatro anos, a Marinha proclamou que fabricaria cada corveta por 450 milhões de dólares, e, há pouco mais de cinco meses,² o próprio comandante da Força, almirante de esquadra Eduardo Leal Ferreira, só baixou esta previsão de custo até o patamar dos 350 milhões de dólares.
AMRJ
O grande problema de se trazer para o Brasil a estimativa noticiada por Sandoval Santana, é que o país não dispõe de um complexo industrial naval do porte de um ASMAR.
“O ASMAR está infinitamente superior ao AMRJ [Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro]”, confidenciou ao Poder Naval um engenheiro da Marinha que prefere não ser identificado. “Acredito que um investimento de cerca de 150 milhões de dólares colocaria o AMRJ em condições de construir navios de escolta de até 10.000t, ou navios auxiliares de até 22.000 t”.
De acordo com essa fonte, o estudo detalhado para essa possível modernização já está pronto.
Esse militar conta que a indústria naval da Coreia do Sul se dispõe a bancar a requalificação técnica do Arsenal, mas quer, em troca, ser a escolhida para o fornecimento das corvetas Tamandaré e de outras embarcações, de maior porte, que sejam do interesse da MB.
O fato é que os “condimentos” relativos à concorrência das CCT ainda estão sendo jogados no “caldeirão” do programa. E nem todos podem gerar o efeito que deles se aguarda.
Por exemplo, o grupo italiano Fincantieri aguarda com grande otimismo a divulgação, a 27 de julho deste ano, do short list que reunirá as melhores ofertas vindas do estrangeiro.
Seu otimismo repousa no fato de que a companhia já dispõe do seu próprio estaleiro no Brasil, situado no litoral de Pernambuco.
As fontes ouvidas pelo Poder Naval concordam que essa é mesmo uma vantagem, e “pode ser que a Ficantieri tenha saído na frente”. Mas elas acrescentam: o fato de possuir o estaleiro é importante, “porém, nada impossível de ser superado por outro concorrente em sua proposta”.
¹No portal defensa.com.
² O almirante Leal Ferreira fez essa estimativa durante entrevista concedida a este articulista, em Brasília, na tarde de 1º de agosto de 2017.
Nota do autor: Os grifos em negrito no texto são de responsabilidade do autor, e pretendem chamar a atenção dos leitores para dados que cobrem, perfeitamente, os requerimentos do Programa de Obtenção de Meios de Superfície (PROSUPER).