Para o representante do Pentágono Eric Pahon, não existiram as dezenas de assaltos, os milhares de voos realizados, as dezenas de milhares de bombas e mísseis lançados e cidades libertadas. Segundo ele, o papel da Rússia na operação antiterrorista não foi tão significativo assim.
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E quem é o principal libertador da Síria segundo o Pentágono? Claro que são os EUA e seus parceiros da coalizão. Andrei Kots, colunista da Sputnik, relembra como foi a operação norte-americana na Síria.
Militares russos em base aérea na Síria © Sputnik/ Dmitriy Vinogradov |
Ataques seletivos
A aviação dos EUA começou recolhendo dados sobre as posições do Daesh (grupo terrorista, proibido na Rússia) em 26 de agosto de 2014. Os drones e caças se ingeriam no espaço aéreo sírio permanentemente e sem pedir autorização. Apenas em 10 de setembro de 2014 o então presidente Obama anunciou sobre a intervenção militar direta, prometendo combater o Daesh e treinar os rebeldes para a luta contra o pseudocalifado. Os primeiros ataques foram efetuados já em 22 de setembro. A coalizão agia apenas de noite.
Analistas militares destacam aqui um detalhe importante: a coalizão nunca atacava diretamente os jihadistas, mas quando a Rússia entrou no jogo, passaram a bombardear a infraestrutura petrolífera, usinas elétricas, fortificações — tudo o que o Exército Árabe da Síria poderia usar durante o contra-ataque.
Além disso, desde o início da operação, os norte-americanos apoiaram seus principais aliados no "terreno", ou seja, as unidades curdas, a "oposição moderada" e outras formações.
Já em outubro de 2014, a Força Aérea dos EUA começou entregando medicamentos, armas e munições à cidade assediada de Kobane. Foi precisamente nessa altura que surgiram os primeiros vídeos e fotos com terroristas eliminando blindados do inimigo usando sistemas de mísseis TOW e TOW-2 de fabricação norte-americana. Obviamente que se tratou de um processo bem organizado — a interceptação de cargas aéreas destinadas à oposição.
"Antes da nossa intervenção, os EUA e seus aliados já tinham efetuado milhares de voos. Hoje é evidente que eles não conseguiram prevenir o alastramento do Daesh pelo país. Muitas bombas foram lançadas literalmente no deserto", comenta para a Sputnik Sergei Sudakov, cientista político e especialista em estudos americanos.
Parada nos curdos
Após o início da operação antiterrorista da Rússia na Síria, em setembro de 2015, a coalizão se tornou mais passiva. Mas em outubro o Pentágono decidiu enviar 30 instrutores americanos aos campos da oposição síria para criar formações mais ou menos combativas. Os conselheiros militares conseguiram um certo êxito, com a participação deles foram formadas as Forças Democratas da Síria (FDS), unidades de aliados curdos e sírios dos EUA.
Este pequeno exército começou no verão de 2016 sua primeira grande ofensiva contra Manbij. Mais tarde, as FDS participaram da batalha por Raqqa, a chamada "capital" do Daesh. A tomada dessa cidade é considerada pelos americanos como seu principal êxito na luta antiterrorista.
"Prestem atenção a como eles 'libertaram' Raqqa. Sobre a cidade foram lançados 'tapetes de bombas', tal como anteriormente em Mossul. Em ambas as cidades os americanos não deixavam os jornalistas passar para evidenciarem o quadro de destruição total pouco vantajoso para o Pentágono", apontou Sudakov.
Ele sublinhou que, ao contrário dos EUA, as tropas sírias e forças russas criaram corredores humanitários para civis. Enquanto os EUA por várias vezes foram detectados deixando sair de Raqqa assediada apenas "terroristas moderados" com suas armas. Surge a questão: que moderados, se esta é a capital do Daesh?
Salvar a face
Na realidade, o Pentágono e coalizão podem inscrever no seu ativo a expulsão do Daesh do norte do país, a tomada de Raqqa e alguns êxitos locais em outras províncias. Por sua vez, o exército sírio apoiado pela aviação russa limpou dos terroristas toda a parte ocidental do país, restabeleceu o controle sobre campos petrolíferos de Palmira, libertou Aleppo e Deir ez-Zor, bem como dezenas de outras povoações.
Para Sergei Sudakov, a Rússia fez muita coisa, tanto para a libertação da Síria, quanto para o restabelecimento da paz no país.
"Bashar Assad agradeceu aos nossos militares pela abnegação com que eles ajudaram seu povo. Esta não era uma guerra nossa. Mas ajudamos e o fizemos bem. A nossa vitória foi uma ajuda aos civis. Os americanos medem suas vitórias pela ajuda aos seus aliados e se preocupam apenas com a geopolítica e seu prestigio", destacou.
Segundo Sudakov, o último fracasso dos EUA quanto à Coreia do Norte os faz quererem salvar a face pelo menos em uma parte do mundo. Pois para eles é muito doloroso pensar que estão perdendo a capacidade de pressionar Pyongyang e é isso que demonstram os lançamentos de mísseis norte-coreanos.
"EUA são capazes de tudo para manterem sua imagem pública de 'policial global', até de roubar as vitórias dos outros", resumiu o analista.