Cerco de forças leais a Assad mantém em condições precárias mais de 400 mil civis em Guta Oriental
Juan Carlos Sanz | El País
Uma criança com leucemia, dois menores com doenças graves e um homem que precisa de um transplante urgente de rins foram os primeiros evacuados na madrugada desta quarta-feira de Guta Oriental, um dos últimos bastiões rebeldes na Síria. O regime do presidente Bashar al-Assad permitiu as transferências para hospitais de Damasco, que serão seguidas de outras 29, depois que a ONU alertou para o risco que corriam centenas de pacientes (entre eles 130 crianças). No enclave insurgente – que sofreu um ataque químico e sucessivos bombardeios - mais de 400 mil civis permanecem presos com pouca comida e remédios há quatro anos.
Equipe do Crescente Vermelho atende criança durante a operação de evacuação de Guta | AMER ALMOHIBANY - AFP |
A retirada dos pacientes por equipes de assistência humanitária teve início nesta quarta-feira, de acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), depois de meses de espera devido ao cerco imposto pelas forças leais ao regime de Damasco, o que segundo a ONU provocou a morte de pelo menos 16 pacientes. “Esta noite o @SYRedCrescent (Crescente Vermelho) com uma equipe da @ICRC iniciou a transferência dos casos críticos de #Gutaoriental para #Damasco”, disse o CICR em sua conta oficial do Twitter.
O cerco que o Governo de Bashar al-Assad mantinha desde 2013 sobre Guta Oriental provocou grave escassez de alimentos e de assistência médica para os cerca de 400.000 residentes na área, localizada nos arredores de Damasco. Quase 12% das crianças sofrem de desnutrição aguda, de acordo com a ONU. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos disse no fim de semana passado que pelo menos 720 pacientes necessitam de uma evacuação urgente.
Na semana passada, o chefe da equipe humanitária da ONU para Síria, Jan Egeland, afirmou que pelo menos 16 pessoas morreram esperando a transferência. A ONU lançou um chamado urgente para retirar 500 pacientes de Guta Oriental e alertou que a lista está diminuindo. “O total está baixando, não porque as pessoas estão sendo retiradas, mas porque estão morrendo”, disse Egeland a jornalistas em Genebra. “Temos a confirmação de que 16 pessoas morreram desde que a lista foi reenviada em novembro e (o número) pode ser ainda maior”, disse, mencionando o caso de um bebê que morreu em 14 de dezembro durante as negociações de paz fracassadas em Genebra.
A guerra civil na Síria deixou mais de 340.000 mortos, um terço deles civis, e forçou o deslocamento da metade dos 21 milhões de habitantes do país desde o início do conflito, que teve início em março de 2011 com manifestações pacíficas contra o regime do Assad. Depois da derrota, na prática, do ISIS — que tem cerca de mil combatentes na fronteira sírio-iraquiana, segundo a coalizão internacional antiyihadista encabeçada pelos EUA — o regime controla mais dois terços do território. As milícias curdas, que recebem apoio norte-americano, dominam o nordeste do país, enquanto diferentes grupos islamitas radicais mantêm posições em Idlib (norte) e em algumas zonas do centro e o sul.