A Assembleia Geral da ONU apoiou com ampla maioria uma resolução que vai de encontro ao reconhecimento, pelos Estados Unidos, de Jerusalém como capital de Israel.
BBC Brasil
O texto aprovado em reunião emergencial nesta quinta-feira diz que qualquer decisão relacionada ao status da cidade é "nula e sem efeito" e deve ser cancelada.
O texto aprovado em reunião emergencial nesta quinta-feira diz que qualquer decisão relacionada ao status da cidade é "nula e sem efeito" e deve ser cancelada.
A Assembleia Geral da ONU realizou uma reunião de emergência a pedido de estados árabes e muçulmanos | AFP |
A resolução, não vinculante (não há uma obrigação legal para sua aplicação), foi aprovada por 128 estados - incluindo o Brasil -, com 35 abstenções e nove votos contrários.
Na véspera, o presidente americano, Donald Trump, ameaçou cortar repasses financeiros àqueles que apoiassem o texto.
Antes da votação, o ministro de relações exteriores da Palestina pediu que os países rejeitassem "chantagem e intimidação".
Já o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que rejeitaria o resultado e classificou a ONU como uma "casa de mentiras".
Como os membros da ONU votaram?
- Os nove estados que votaram contra a resolução foram: Estados Unidos, Israel, Guatemala, Honduras, Ilhas Marshall, Micronésia, Nauru, Palau e Togo;
- Dentre aqueles que se abstiveram, estão Canadá e México;
- Os favoráveis à resolução incluem os outros membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, França, Rússia e Reino Unido) e aliados dos americanos do mundo islâmico;
- Houve 21 países que não se apresentaram à votação;
O que é tão problemático no status de Israel?
O status de Jerusalém está no coração do conflito entre Israel e Palestina.
Israel ocupou a área leste da cidade em 1967, em meio à Guerra dos Seis Dias. Desde então, o país tem a cidade como sua capital indivisível.
Os palestinos reivindicam a zona leste da cidade como a capital de seu futuro estado e defendem que seu status definitivo deve ser discutido em etapas mais avançadas das negociações de paz.
A soberania de Israel sobre Jerusalém nunca foi reconhecida internacionalmente, e todos os países atualmente mantêm suas embaixadas na cidade de Tel Aviv. No entanto, Trump pediu que o departamento de Estado começasse a trabalhar na mudança de localidade de sua embaixada.
O que diz a resolução aprovada?
A Assembleia Geral, com 193 membros, realizou uma rara sessão especial de emergência a pedido de estados árabes e muçulmanos - que condenaram a decisão de Trump de reverter, no início do mês, décadas de política externa dos EUA.
Os palestinos pediram uma reunião depois que os EUA vetaram uma resolução do Conselho de Segurança com conteúdo semelhante ao aprovado na Assembleia Geral nesta quinta-feira.
O texto apresentado por Turquia e Iêmen não faz menção direta aos EUA, mas expressa "pesar profundo por decisões recentes sobre o status de Jerusalém".
"Quaisquer decisões e ações que pretendam alterar o caráter, status ou composição demográfica da Cidade Santa de Jerusalém não têm efeito legal, são nulas e devem ser rescindidas em conformidade com resoluções relevantes do Conselho de Segurança".
Como os EUA reagiram?
Em um discurso anterior à votação, Nikki Haley, representante norte-americana na ONU, disse que a decisão dos EUA sobre Jerusalém não impede uma solução de dois estados entre Israel e Palestina, caso este seja um acordo de ambas as partes.
"Os EUA vão se lembrar deste dia, em que foi alvo de ataques da Assembleia Geral pelo simples fato de exercer o seu direito como nação soberana", disse Haley.
"A América terá a sua embaixada em Jerusalém. Isto é que o povo americano quer que façamos. Nenhum voto na ONU fará diferença nisso".
Na quarta-feira, Trump alertou que poderia cortar ajuda financeira a países que votassem à favor da resolução.
"Eles tomam milhões de dólares, e até bilhões de dólares, e então votam contra a gente", disse Trump. "Bom, estamos assistindo a esses votos. Deixe que votem contra nós. Vamos poupar muito. Não ligamos".
O que dizem Israel e Palestina?
Riyad al-Maliki, ministro das Relações Exteriores, disse que a Assembleia Geral passou por um "teste sem precedentes" antes da votação.
"A História se lembra de nomes - os nomes daqueles que se levantam pelo que é certo, e os nomes daqueles que dizem coisas falsas. Hoje, somos defensores dos direitos e da paz", disse al-Maliki.
Maliki afirmou também que a postura dos EUA "serve a Israel na implementação de seus planos coloniais, serve ao poder do extremismo e do terrorismo na região e no mundo".
Já o representante israelense Danny Danon disse que já era "vergonhoso que a reunião estivesse acontecendo", acrescentando que Jerusalém "é a capital do Estado de Israel, ponto final. Este é um fato que simplesmente não pode ser disputado".
Danon previu que a resolução "acabaria na lixeira da História".
"Não tenho dúvidas de que chegará o dia em que toda a comunidade internacional finalmente reconhecerá Jerusalém como a eterna capital do estado de Israel".