País da América Central é o primeiro a acompanhar decisão de Trump de transferir corpo diplomático de Tel Aviv
Juan Carlos Sanz | El País
Jerusalém: A Guatemala anunciou que reabrirá sua embaixada em Jerusalém, quase quatro décadas depois de tê-la transferido para Tel Aviv. No Natal, o presidente guatemalteco, Jimmy Morales, apoiou a declaração de Donald Trump que, no dia 6, reconheceu Jerusalém como capital do Estado judeu, indo contra o consenso mantido pela comunidade internacional. Benjamin Netanyahu comemorou a decisão na segunda-feira e previu que outros países logo seguirão os mesmos passos. “Isso é só o início e é importante”, declarou satisfeito o primeiro-ministro – e chefe da diplomacia – israelense no Knesset (Parlamento). A vice-ministra das Relações Exteriores, Tzipi Hotovely, foi um pouco mais explícita na emissora de rádio Kan ao revelar a existência de conversas com outros 10 países sobre a transferência de embaixadas para Jerusalém.
O presidente da Guatemala, Jimmy Morales, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em Jerusalém em 2016. REUTERS |
A imprensa israelense aponta que Honduras será o próximo a reconhecer a Cidade Santa como capital de Israel, na esteira da declaração formal do presidente norte-americano. Junto com a Guatemala, o Togo e quatro micronações do Pacífico, Honduras foi um dos sete países a votar a favor da tese dos Estados Unidos e de Israel na quinta-feira passada na Assembleia Geral da ONU, contra 128 países que rejeitaram a decisão de Trump, 35 que se abstiveram e 21 que não exerceram seu voto.
O jornal Yedioth Ahronoth também inclui o Paraguai entre as nações possivelmente dispostas a seguir Washington, mas fontes diplomáticas israelenses declararam que “por enquanto” não há nenhum outro reconhecimento a acrescentar ao da Guatemala.
Até a reviravolta provocada pela Casa Branca, parecia existir um amplo consenso na comunidade internacional para condicionar o estatuto final de Jerusalém à obtenção de um acordo de paz entre israelenses e palestinos. Estes últimos reivindicam Jerusalém Oriental como capital de seu futuro Estado.
Quando Israel anexou a parte oriental da Cidade Santa em 1980 depois de a ocupar na guerra de 1967, as missões diplomáticas estabelecidas em Jerusalém, entre elas as de 12 países latino-americanos, foram transferidas para Tel Aviv. Na época, o Conselho de Segurança da ONU condenou a medida unilateral de Israel como uma violação do direito internacional. Os últimos a se mudar para a metrópole costeira foram Costa Rica e El Salvador, que mantiveram suas embaixadas em Jerusalém até 2006.
Transferência só depois de Washington
Na véspera de Natal, o presidente Jimmy Morales anunciou através do Facebook que, depois de conversar por telefone com Netanyahu, deu instruções à chanceler guatemalteca, Sandra Jovel, para o “retorno da embaixada da Guatemala a Jerusalém”. Morales observou, porém, que seu país só mudará a localização de sua missão diplomática em Israel depois que os EUA o fizerem. O Departamento de Estado norte-americano considera que o processo logístico de transferência de Tel Aviv – que implica a construção de uma nova sede para a embaixada em Jerusalém – pode levar mais de dois ou três anos.
O Ministério de Assuntos Exteriores da Autoridade Palestina qualificou de “vergonhosa e ilegal” a decisão do Governo da Guatemala, tanto por ignorar o resultado da votação da Assembleia Geral da ONU (apesar de a resolução não ser vinculante, como as do Conselho de Segurança), como por ignorar “a vontade dos líderes das igrejas cristãs de Jerusalém”, que se pronunciaram a favor de manter o statu quo na Cidade Santa após a decisão de Trump.
Tanto o presidente Morales como a chanceler Jovel são cristãos evangélicos, uma comunidade religiosa que contempla Jerusalém através de uma interpretação messiânica da Bíblia. Tanto nos EUA como na América Latina, os líderes evangélicos se manifestaram partidários de Israel. Segundo um estudo do Centro de Pesquisas Pew, oito em cada dez membros brancos desta comunidade cristã nos EUA acreditam que Deus entregou Israel ao povo judeu, contra apenas 40% dos judeus norte-americanos.