Embaixador da Palestina vê 'ofensa' e aponta retratação como saída para crise provocada por ato de Trump

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Para Ibrahim Alzeben, reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel é 'agressão'. Embaixada dos EUA não quis comentar. Embaixada de Israel diz diz que Trump afirmou 'o óbvio'.


Por Fabiano Costa e Guilherme Mazui | G1, Brasília

O embaixador da Palestina em Brasília, Ibrahim Alzeben, afirmou ao G1 nesta sexta-feira (8) que uma retratação dos EUA é a saída para a crise provocada pela decisão do presidente norte-americano Donald Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.

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Em entrevista exclusiva ao G1, o embaixador da Palestina disse que decisão de Donald Trump é uma 'agressão ao povo palestino'

A decisão gerou uma escalada da violência no Oriente Médio. Nesta sexta, forças de segurança israelenses entraram em confronto com manifestantes palestinos perto da Faixa de Gaza e em Belém (na Cisjordânia ocupada). Pelo menos uma pessoa morreu. A Defesa de Israel também fez bombardeios aéreos na Faixa de Gaza.

"Esperamos e exigimos que o presidente Trump se retrate dessa decisão, que é uma decisão desnecessária e carece de sabedoria política", disse.

Para o embaixador, o ato de Trump é uma "agressão" ao povo palestino e ao direito internacional. Alzeben afirmou que a decisão do presidente norte-americano é uma "ofensa" tanto aos fiéis islâmicos quantos aos cristãos.

"[O ato de Trump] é, de fato, uma agressão contra o povo palestino, contra os direitos do povo palestino e contra o próprio direito internacional. É uma ofensa aos fiéis islâmicos, aos fiéis cristãos, porque a cidade de Jerusalém é muito importante, também, como patrimônio da humanidade para cristão e muçulmanos", declarou o embaixador da Palestina em Brasília.

EUA e Israel

A embaixada dos Estados Unidos em Brasília informou que não se manifestará sobre a declaração do diplomata palestino.

Procurada, a embaixada de Israel declarou, por meio de nota: “Reconhecer Jerusalém como a capital de Israel é reconhecer a realidade. Israel continua comprometido em trabalhar pela paz através de negociações diretas. Qualquer um que incita a violência só está nos afastando de alcançar a paz e segurança para todos na região. O presidente Trump foi corajoso o suficiente para dizer o óbvio. O governo de Israel aprecia sua decisão.”

O episódio

O estopim do novo conflito na Palestina ocorreu na última quarta (6), dia em que Trump cumpriu promessa de campanha e reconheceu Jerusalém como capital de Israel.

No mesmo ato, o republicano pediu para o Departamento de Estado iniciar o processo de transferência da embaixada norte-americana de Tel-Aviv para Jerusalém.

Movimento islâmico com atuação política e um braço armado, o Hamas convocou nesta quinta (7) – dia seguinte ao anúncio de Trump – uma nova intifada, termo utilizado para fazer referência à revolta palestina contra a política de expansão do governo de Israel.

Nesta sexta-feira, primeiro dos três "dias de fúria" convocados pelo Hamas, um palestino morreu e dezenas ficaram feridos em protestos na Faixa de Gaza e em Belém, na região de Jerusalém.

O reconhecimento da cidade como capital israelense é considerado polêmico, uma vez que os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como capital de seu futuro Estado, e a comunidade internacional não reconhece o pleito israelense sobre a cidade como um todo.

'Reação internacional'


O embaixador da Palestina disse que aguarda uma "reação internacional" para "obrigar Estados Unidos a respeitar o direito internacional como superpotência e como país membro do Conselho de Segurança" da Organização das Nações Unidas (ONU).

"Realmente, nos sentimos agredidos sendo Jerusalém nossa capital, capital do Estado da Palestina, sob ocupação militar. Para nós, não existe Palestina sem Jerusalém", disse Ibrahim Alzeben.

Segundo ele, o governo palestino pretende atuar em várias instâncias da diplomocia – como o Conselho de Segurança da ONU para evitar que outros países sigam o exemplo dos Estados Unidos e reconheçam Jerusalém com capital israelense.

Tirando o foco

O embaixador do Palestina disse que o governo de seu país avalia o gesto de Trump como uma tentativa do presidente dos Estados Unidos de desviar a atenção de problemas internos, deflagrando uma crise internacional para tirar o foco da Casa Branca.

Ibrahim Alzeben destacou que, na visão dele, em um muitos aspectos, a política externa de Donald Trump é "lamentável". O diplomata ponderou que, para cumprir promessas de campanha, o republicano "está colocando os interesses dos EUA acima de toda a humanidade".

"Avaliamos que ele [Trump] quer sair de uma crise interna, na qual ele é alvo de várias acusações. [Essa manobra] é uma prática política adotada, muitas vezes, quando têm muitos conflitos internos. Então, trata de agredir ou trata de enganar o seu próprio povo, desviando a atenção dos problemas internos", analisou o embaixador.

Manifestação do governo Temer

Nesta quinta (7), o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota oficial com a posição do governo brasileiro em relação à polêmica envolvendo Jerusalém. No comunicado, o Itamaraty não se manifesta em relação ao ato do presidente Donald Trump.

O governo brasileiro disse na mensagem que "reitera" que a definição sobre o "status final" de Jerusalém deverá sair de negociações que permitam dois estados "vivendo em paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas e com livre acesso aos lugares santos das três religiões monoteístas, nos termos das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas".

O ministério ressaltou que o Brasil mantém relações diplomáticas com Israel desde 1949 e reconheceu o Estado da Palestina em 2010 (leia ao final da reportagem a íntegra da nota do Itamaraty).

O embaixador palestino se disse "satisfeito" com o comunicado do governo brasileiro.

"Não temos dúvida sobre a equilibrada posição do governo brasileiro e seu apego ao direito internacional. Agradecemos a posição do Brasil, que sempre manteve posição bastante equilibrada em defesa da paz", declarou o diplomata.

O embaixador palestino destacou que, apesar de atuar como "árbitro" de conflitos envolvendo o Oriente Médio desde os anos 50, o Brasil, atualmente, vive crises internas que dificultam esse protagonismo internacional.

"Desejamos que o Brasil recupere esse papel, ultrapassando a difícil situação que está atravessando", declarou Alzeben.

Nota

Leia a íntegra da nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores:


O governo brasileiro reitera seu entendimento de que o status final da cidade de Jerusalém deverá ser definido em negociações que assegurem o estabelecimento de dois estados vivendo em paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas e com livre acesso aos lugares santos das três religiões monoteístas, nos termos das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como a resolução 478 de 1980, entre outras. Recorda, ainda, que as fronteiras entre os dois estados deverão ser definidas em negociações diretas entre as partes tendo por base a linha de junho de 1967.

O Brasil mantém relações diplomáticas com Israel desde 1949 e reconheceu o Estado da Palestina em 2010.

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