Renascendo dos tumulto político da Lava-Jato que afetou a Odebrecht Defesa e Tecnologia, a SIATT retoma os projetos da MECTRON, e ganhar tempo com a experiência adquirida.
DefesaNet
DefesaNet acompanhou as várias etapas da agora SIATT, desde como um guerreiro solitário, como MECTRON, e depois como parte da ODEBRECHT Defesa e Tecnologia e agora SIATT.
Rogérios Salvador, Sócio-Diretor da SIATT, com o MANSUP |
Rogério Salvador, um dos sócio-fundadores fala à DefesaNet sobre a nova empresa, cuja diretoria também é integrada por Azhaury Carneiro da Cunha Filho, Wagner Campos do Amaral e Carlos Alberto de Paiva Carvalho.
É uma apresentação madura, calejada pelos vários percalços que sofreu ao longo dos anos, mas otimista quanto ao futuro.
DefesaNet: O que é a SIATT?
Rogério Salvador: Significa “Sistemas Integrados de Alto Teor Tecnológico” SIATT. Também tem relação com os nossos valores: Sinceridade, Integridade, Austeridade, Tenacidade e Transparência.
S – Sistemas (Sinceridade)
I - Integrados de (Integridade)
A – Alto (Austeridade)
T – Teor (Tenacidade)
T – Tecnológico (Transparência)
DefesaNet: Vocês que fundaram a MECTRON, que ficou ativa durante 25 anos, sendo. 20 anos independente e depois mais cinco anos com a Odebrecht e agora surge a SIATT. Podes detalhar estas três fases?
Rogério Salvador: Os primeiros 20 anos foram marcados por um desenvolvimento totalmente independente. A primeira interface, que teve com o mundo externo, em relação à tecnologia de armamento inteligente foi apenas em 2008, com o programa do A-DARTER. De 1991 a 2008, foi completamente independente. Sem nenhum tipo de transferência de tecnologia, integração com outro país ou outra empresa em que houvesse essas condições. A partir de 2008 nós validamos nossas práticas de engenharia, aperfeiçoamos e viemos num crescente, até o momento, em que foi feita a operação de venda da empresa para a Odebrecht, em 2011.
Antes disso, em 2007, o BNDES entrou como nosso sócio, o qual nos ajudou muito na parte de fomento de novos projetos e tecnologia, mas que em 2011 acabou saindo com a entrada da Odebrecht. Na nova fase com a Odebrecht, nós tivemos mais acessos aos recursos. No entanto, isso nos custou um endividamento. Como o mercado se retraiu e houve o advento político da “Lava-jato”, terminou o acesso ao crédito e a empresa entrou em colapso.
Depois, nós fundamos a SIATT. No primeiro momento pretendendo recomprar nossa participação na MECTRON e num segundo momento, quando o primeiro se tornou inviável, nós focamos em recomprar alguns dos ativos da MECTRON. Obtivemos sucesso na negociação com a Marinha e a Odebrecht com a continuidade do projeto do MANSUP (Míssil Antinavio Nacional de Superfície), dando seguimento ao trabalho que a MECTRON estava fazendo. E com o Exército, o Míssil MSS 1.2 AC (Míssil Superfície-Superfície 1.2 Anticarro), dando continuidade da etapa de certificação, que hoje está em avaliação técnico-operacional.
DefesaNet: Foi possível ter acesso pleno ao que já tinha sido desenvolvido nesses dois projetos?
Rogério Salvador: Sim. Toda a parte da propriedade intelectual, de equipamentos, os laboratórios, os estoques, mas, principalmente, conseguimos recompor as equipes que fizeram os trabalhos no passado.
DefesaNet: Onde a SIATT está instalada hoje?
Rogério Salvador: No Parque Tecnológico de São José dos Campos.
DefesaNet: E quantas pessoas já integram a empresa?
Rogério Salvador: Temos em torno de 60 pessoas, sendo 40 engenheiros.
DefesaNet: Basicamente, são ex-membros da MECTRON?
Rogério Salvador: Sim, 90% são ex-membros da MECTRON.
DefesaNet: Na LAAD 2017, vocês estavam procurando caminhos. Nesse momento, passados 6 meses, neste evento da Marinha (IV Simpósio de Ciência e Tecnologia e Inovação da Marinha), vocês já apresentam a SIATT com dois produtos. Qual é a perspectiva da empresa?
Rogério Salvador: O que pretendemos é nos beneficiar da experiência do passado, e de uma forma rápida, conseguir materializar o desejo de se tornar um braço fundamental das Forças Armadas Brasileiras e também olhar para uma pauta de cooperação internacional visando exportações.
DefesaNet: Alguns anos atrás nós falamos da MECTRON como “Missile House“ Brasileira. Esse farol, vocês procuram ainda ou mudaram os conceitos?
Rogerio Salvador: Na verdade visamos ainda, pois é nosso carro principal, mas também estamos muito focados na parte de integração sistemas embarcados para plataformas aéreas, marítimas e terrestres. Estamos no foco do armamento inteligente e também na utilização de inúmeros outros sensores. Com o foco de produzir o equipamentos, utilizá-los na sua plenitude e em diversas plataformas.
Defesanet: Que estágio está o MANSUP?
Rogério Salvador: Participam do projeto a SIATT e mais três empresas:
1 - Fundação EZUTE, é o braço gerencial que a Marinha do Brasil utiliza;
2 – AVIBRAS Aeroespacial que fornece a propulsão e a carga explosiva, e,
3 - OMNISYS que fornece o radar (Seeker).
Fora a propulsão, carga explosiva e o radar, toda a parte intermediária é fornecida pela SIATT, como por exemplo: sistema de controle e guiamento, incluindo o radioaltímetro e a integração do sistema de controle e guiamento com plataforma inercial fornecida pela própria Marinha, o radioaltímetro e o radar. A fusão de dados desses três sensores e a parte de controle e guiamento é a nossa parte. O programa está em fase final de desenvolvimento. A expectativa é de que até o final do ano de 2018 sejam feitos os primeiros voos de testes. Para os próximos três anos é previsto a fase de certificação, industrialização e fornecimento de série.
DefesaNet: E o projeto do míssil MSS 1.2 AC?
Rogério Salvador: Esse está em fase de operação e avaliação técnico-operacional. Ele pode ser encomendado a partir do final do ano que vem. O MSS 1,2 AC foi bem-sucedido na avaliação, pelas Forças Armadas (Exército e Fuzileiros Navais).
DefesaNet: E o míssil Ar-Ar A-Darter que MECTRON participou desde 2008. Há alguma decisão sobre ele?
Rogério Salvador: Até onde nós entendemos, mas isso eu não tenho confirmação oficial, a definição da FAB foi dar continuidade do projeto com as empresas, que já estavam no programa. Então algumas das atividades da MECTRON no projeto serão transferidas para a AVIBRAS e outras para a Opto Eletrônica. E assim, entre esse conjunto de empresas que ficariam as atividades brasileiras do míssil feito em parceria com a DENEL da África do Sul.
DefesaNet: Como a SIATT tem sido recebida no mercado nacional e estrangeiro?
Rogério Salvador: Por enquanto é um plano o foco no exterior. Nós estamos em uma fase muito embrionária, mas entendemos que, em função de toda a restrição orçamentária que existe no país, temos que procurar um ponto de sustentação também nas encomendas externas, seja de serviço, seja de produto. É parte do nosso plano de estratégia e estamos nos primeiros passos para implementá-lo.